Apetite de risco muda planos de brasileiros nos EUA em 2026

A redução dos juros nos EUA para o intervalo de 3,5% a 3,75% redefiniu o comportamento de investidores globais

18 dez 2025 - 06h09
Resumo
A redução dos juros nos EUA aumenta o apetite por investimentos e migração de brasileiros, mas especialistas alertam para a necessidade de planejamento jurídico, financeiro e societário para evitar riscos em um cenário de maior oscilação e exigência regulatória.
Foto: Divulgação

A decisão, anunciada pelo Federal Reserve em sua reunião mais dividida desde 2019, sinaliza que o ciclo de política monetária pode entrar em nova fase, mas também expõe incertezas que impactam diretamente brasileiros que investem, empreendem ou estruturam processos migratórios no país. Para especialistas, a combinação entre apetite crescente por ativos americanos e ambiente político instável exige cautela e decisões baseadas em dados.

O mercado já esperava o corte de 0,25 ponto percentual, precificado em 90% segundo o CME Group. O alerta, porém, vem da dissidência interna no comitê do Fed, que teve três votos contrários ao movimento. Essa falta de consenso aumenta a imprevisibilidade da trajetória dos juros e pressiona investidores estrangeiros a recalibrar riscos, proteção cambial e projetos de longo prazo. 

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Para Daniel Toledo, advogado especialista em Direito Internacional e consultor em planejamento para investimentos e migração, o atual momento exige leitura mais sofisticada. Juros mais baixos naturalmente incentivam investimentos nos Estados Unidos, mas o investidor não pode interpretar isso como sinal verde irrestrito. A divergência dentro do Fed indica que 2026 será um ano de forte oscilação, e quem não fizer planejamento jurídico e financeiro corre o risco de tomar decisões precipitadas, afirma o especialista.

Dados da Morningstar mostram que, nos três anos seguintes a ciclos de cortes de juros, setores ligados a tecnologia, construção e consumo historicamente apresentam desempenho superior ao do mercado como um todo. Em paralelo, o dólar valorizado que ultrapassou R$ 6,00 em 2024 ampliou o interesse de brasileiros por ativos dolarizados, com foco em proteção patrimonial. 

Segundo a National Association of Realtors, investidores internacionais movimentaram mais de US$ 53 bilhões em transações imobiliárias entre 2023 e 2024, refletindo o avanço do apetite por risco em mercados mais estáveis. Toledo ressalta que esse comportamento é consistente, mas seletivo. Os investidores demonstram maior disposição para assumir projetos maiores, porém com due diligences mais profundas, simulações de risco cambial e mais atenção à estrutura societária. O mercado está seletivo, explica.

No caso dos processos migratórios, os impactos também são expressivos. Categorias de vistos vinculados a investimentos, como EB-5, E-2 e L-1, tendem a registrar aumento de demanda em ciclos de crédito barato. O programa EB-5, por exemplo, ultrapassou 5.000 concessões apenas no primeiro semestre do ano fiscal de 2023, aumento de 64% em relação ao ano anterior, segundo o IIUSA. Com juros menores, projetos elegíveis ao programa ficam mais competitivos, e muitos investidores antecipam decisões para garantir posição. 

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Além disso, dados do Departamento de Estado mostram que categorias como EB-2 e EB-3 enfrentam atrasos de até 90 dias desde o segundo semestre de 2024. Quando o capital fica mais barato, mais pessoas tentam investir e migrar. Isso gera filas, aumenta a exigência documental e torna o acompanhamento jurídico indispensável, observa Toledo.

Oportunidades em expansão para 2026

Entre os setores mais favorecidos pelo novo cenário de juros estão tecnologia e automação, que se beneficiam tradicionalmente do crédito mais barato e da demanda crescente por inovação; o mercado imobiliário residencial e comercial, impulsionado pelo acesso facilitado ao financiamento e pela viabilidade de projetos de médio e longo prazo; franquias e pequenas empresas, que ganham atratividade especialmente entre empreendedores que buscam o visto E-2, permitindo participação ativa na gestão; e infraestrutura e energia limpa, áreas que seguem fortalecidas por incentivos federais e estaduais voltados ao desenvolvimento sustentável. 

Para Daniel Toledo, há mais oportunidades do que riscos, desde que a tomada de decisão seja apoiada por uma estrutura sólida. Ele afirma que os Estados Unidos continuam sendo um dos ambientes mais seguros para quem busca estabilidade jurídica e econômica, mas reforça que nenhum projeto deve ser iniciado sem estudo de viabilidade e sem uma estrutura societária adequada à legislação americana.

Cuidados essenciais para evitar riscos em 2026

Especialistas recomendam atenção redobrada a três frentes fundamentais: estrutura jurídica e societária, planejamento migratório antecipado e gestão cambial combinada à análise de risco. No campo jurídico, contratos precisam prever mudanças monetárias, repasses de custos, cláusulas de reajuste e mecanismos de compliance capazes de proteger o investidor da volatilidade. 

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Em relação à imigração, a tendência de aumento da procura por vistos torna crucial iniciar processos já no primeiro semestre, sobretudo em categorias que dependem de robustez documental e análise econômica. No aspecto financeiro, simulações de custo total devem considerar diferentes cenários, incluindo impactos potenciais de decisões futuras do Fed.

Toledo observa que muitos investidores negligenciam riscos subestimados, como variações regulatórias estaduais, obrigações fiscais específicas ou divergências entre legislações americana e brasileira. Para ele, é nesses detalhes que surgem os maiores prejuízos, pois planejamento internacional não se limita à escolha do projeto, mas envolve compreensão integral do ambiente regulatório, tributário e migratório. O especialista reforça que 2026 será um ano de oportunidades, mas também de ajustes estruturais. Apetite de risco não significa imprudência. O investidor profissional sabe que momentos de transição geram as melhores oportunidades, mas também exigem profundidade técnica. Quem se preparar agora estará muito à frente no próximo ano, conclui.

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