Qual o preço de uma vida? No caso de Lígia (Dira Paes), é o valor do medicamento necessário para controlar a hipertensão arterial pulmonar.
A medicação evita sintomas como falta de ar, cansaço progressivo, tontura e desmaios, além de reduzir o risco de uma sobrecarga fatal do coração.
Devido aos comprimidos falsos distribuídos pela Fundação Ferette e da falta de dinheiro para comprar fármacos verdadeiros, Gerluce (Sophie Charlotte) decide roubar a estátua das Três Graças da casa da patroa, Arminda (Grazi Massafera).
Esculpida pelo fictício artista italiano Giovanni Aragna, a peça vale 1,5 milhão de dólares. Com a venda no mercado clandestino de arte, a cuidadora de idosos espera financiar o tratamento da mãe e dos demais doentes da comunidade da Chacrinha.
Nos últimos tempos, Lígia teve melhora graças às pílulas conseguidas pela farmacêutica Viviane (Gabriela Loran) com uma amiga que trabalha em um laboratório.
Afinal, qual é o valor do remédio imprescindível para que a matriarca não morra?
Há diferentes princípios ativos e marcas. Entre os mais comuns, a coluna encontrou preços que variam de R$ 2.300 a R$ 14.400 por caixa, suficiente para 30 dias de tratamento.
Considerando que o salário mínimo nacional em 2025 foi de R$ 1.518, a maioria dos brasileiros — assim como os personagens carentes da novela — estaria impossibilitada de arcar do próprio bolso com o uso contínuo da medicação.
O SUS (Sistema Único de Saúde) fornece alguns dos medicamentos essenciais para os portadores da hipertensão arterial pulmonar. Essa assistência não é mencionada na novela.
E a honestidade, vale quanto?
Os autores de ‘Três Graças’ querem provocar o telespectador: é aceitável roubar para salvar a própria mãe?
Em uma sociedade com ética cada vez mais flexível — ou negociável, se o leitor preferir — e apoio crescente à justiça com as próprias mãos, a atitude ilegal de Gerluce dificilmente vai chocar alguém.
Menos ainda porque ela retira algo valioso de dois corruptos, Arminda e Ferette (Murilo Benício), insensíveis à morte dos enfermos tratados com remédios falsificados.
Se “ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão”, Gerluce pode ser vista como uma espécie de Robin Hood de saias, agindo em nome de um bem coletivo. Uma anti-heroína bem brasileira.
Por enquanto, a temática potencialmente polêmica desperta reações mornas no Ibope e nas redes sociais.