Lésbicas se beijam na Globo: no passado, foram mortas em novela para agradar a conservadores

A teledramaturgia está mais liberal em relação às tramas com LGBTs, mas ainda se vê censura velada

11 dez 2025 - 10h19
(atualizado às 10h24)

No capítulo de quarta-feira (10), Lorena (Alanis Guillen) e Juquinha (Gabriela Medvedovsky) deram o primeiro beijo na boca em ‘Três Graças’.

O termo “selinho loquinha” — junção dos nomes das personagens ‘shippadas’ — chegou ao topo dos Trending Topics, ranking de assuntos mais comentados no X.

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Na prática, foi mais que um selinho e menos que um beijo de língua: uma demonstração de afeto discreta, coerente com o ritmo calmo do início do relacionamento entre as duas jovens.

Nas redes sociais, nenhum escândalo da parcela conservadora dos telespectadores, bem diferente das reações extremadas a outras personagens lésbicas da teledramaturgia da Globo.

O beijo entre Juquinha e Lorena foi discreto e na penumbra. mas aconteceu
O beijo entre Juquinha e Lorena foi discreto e na penumbra. mas aconteceu
Foto: Reprodução/TV

Em 1998, o autor Silvio de Abreu se viu obrigado a matar o casal Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeiffer) na explosão do shopping em ‘Torre de Babel’.

Apesar de representarem o perfil ‘lesbian chic’ (homossexual elegante e discreta, mais aceita socialmente), elas foram rejeitadas não apenas pelo público, mas também pela direção da emissora, que exigiu a eliminação da trama.

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“Eu pedi demissão, foi uma brigaiada, aí o elenco pediu pra eu não sair, voltei atrás, continuei escrevendo e tive que dar um jeito na história. O que me foi proibido veementemente era continuar a história das lésbicas”, contou Silvio em entrevista no YouTube.

E assim foi feito: as personagens morreram queimadas, como se fossem Joanas d’Arc contemporâneas.

As lésbicas sacrificadas de 'Torre de Babel': a direção da Globo mandou eliminá-las
Foto: Divulgação/TV Globo

Dez anos antes, na ‘Vale Tudo’ original, houve a morte da hoteleira lésbica Cecília (Lala Deheinzelin). Mas, ao contrário do que diz a lenda, não foi uma imposição da emissora nem da Censura.

O fim da personagem em um acidente de carro já estava previsto: serviria para discutir o direito à herança conjugal entre LGBTs.

Ainda assim, o casal não passou totalmente ileso: os censores barraram vários diálogos sobre homossexualidade por considerarem o tema um “desvio de comportamento”.

Instaurada com o golpe militar de 1964, a Censura federal só terminou com a promulgação da Constituição de 1988.

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Depois disso, houve episódios de autocensura em algumas TVs. Em 2005, por exemplo, a cúpula da Globo proibiu a exibição do beijo na boca entre Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Eron Cordeiro) na novela ‘América’.

Na mesma ‘Três Graças’ de Lorena e Juquinha, uma cena de cama entre Kasper (Miguel Falabella) e João (Samuel de Assis) foi cortada supostamente para acelerar o ritmo da novela.

O moralismo sempre encontra uma brecha para aparecer.

Na 'Vale Tudo' original, Laís e Cecília tiveram falas eliminadas por ordem da Censura
Foto: Reprodução/TV Globo
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