Não faz muito tempo, as boas novelas eram um tema recorrente nas conversas no ponto de ônibus, no salão de beleza, na padaria... E o futebol inspirava quase todos os bate-papos no elevador, nas mesas de bar, no cafezinho da firma... Mas o Brasil de hoje é outro. A política domina.
O mesmo acontece no mais poderoso veículo de comunicação do País. O telejornalismo ganhou prioridade máxima na programação das principais emissoras para realizar a cobertura do mundo político.
Em dias de maior apelo midiático, como quarta-feira (10), quando o ex-presidente Lula e o juiz Sérgio Moro ficaram frente a frente pela primeira vez, as notícias a respeito da Operação Lava Jato chegam a ocupar mais de 70% da pauta dos telejornais.
De domingo a domingo, o cardápio da editoria de política é variado e se renova com impressionante rapidez: novas denúncias, depoimentos bombásticos, análises minuciosas, manobras e sentenças jurídicas, votações decisivas no Congresso.
Tornou-se quase impossível zapear sem passar por matérias e comentários sobre corrupção e ética na vida pública. Diante da TV, o brasileiro passou a ser confrontado a todo momento com a fama de não gostar de política.
A televisão, que já foi demonizada sob o rótulo de alienante, agora oferece a oportunidade de o cidadão conhecer as entranhas dos poderes que o regem.
Exibe lições didáticas de como funcionam o Executivo, o Legislativo, o Judiciário, a máquina governamental e as dinâmicas da roubalheira nas estatais – além de revelar um pouco dos bastidores da própria mídia televisiva.
Os telejornais se viram obrigados a se aprimorar, já que está cada dia mais rigoroso o monitoramento da imparcialidade e, obviamente, da tendenciosidade.
As redes sociais não deixam passar em silêncio nenhuma tentativa de manipulação de informação. Bom para o jornalismo, melhor ainda para quem o consome.
Na TV americana, que é a maior referência em telejornalismo de qualidade, grandes canais assumem posição político-partidária – seja à esquerda, ao centro ou à direita – sem que isso comprometa a credibilidade.
Aqui, as principais emissoras se declaram apolíticas, ainda que fique explícito o viés ideológico defendido pela cúpula de cada empresa e, eventualmente, o uso desvirtuado de seu poder de influência.
Aliás, este é um tema ainda pouco debatido na imprensa: é possível fazer jornalismo político 100% neutro, sem privilegiar ou lesar esta ou aquela legenda, este ou aquele personagem? O tempo e a história costumam ser impiedosos ao responder a questão.