- Geraldo Bessa
O trabalho de preparação para viver o chef René, de Fina Estampa, proporcionou a Dalton Vigh um encontro com o passado. Ele nunca gostou de cozinhar e jamais trabalhou na área. No entanto, durante o workshop de gastronomia que fez para a novela, toda vez que Dalton segurava uma panela, lembrava do tempo no qual cursava publicidade e dos amigos da época.
"Morava em uma república e tinha de me virar na hora de comer. Algumas vezes a gente reunia 15 amigos no mesmo apartamento e fazia aquele panelão de comida. Era bem divertido", destaca. Para o ator, cozinhar é muito mais que apenas uma química perfeita entre os ingredientes, é um ritual. Por isso, meses antes da estreia do folhetim, ele teve aulas com profissionais da área.
O objetivo do ator era ir além do sabor dos pratos. Os alvos eram os trejeitos dos cozinheiros e a apresentação dos alimentos. "Eu não preciso fazer a comida ter um gosto perfeito. A forma como monto os pratos e manuseio facas, panelas e utensílios é que dá a ilusão de que sou um cozinheiro", acredita.
O que era para ser apenas um processo de composição, se tornou um prazer para o ator. "É uma preparação específica para o personagem, mas que vou poder usufruir em outros momentos da vida", ressalta. A recém-adquirida intimidade do ator com a gastronomia pode ser conferida na atual trama das nove, onde René é o proprietário do fictício restaurante Le Velmont.
O negócio foi um presente de sua mulher, Tereza Cristina (Christiane Torloni). "Meu personagem estudou na França. Quando voltou para o Rio de Janeiro, conheceu e se apaixonou pela Tereza", conta.
O casamento, inicialmente perfeito, começa a mostrar sinais de fraqueza quando o chef conhece Griselda (Lilia Cabral). Mesmo de universos diferentes, René passa a se interessar cada vez mais por aquela mulher batalhadora, que tanto contrasta com a elegância e antipatia de sua esposa. "A proposta do autor é ter essa discussão entre a essência e a aparência. É mais importante ter uma mulher linda, bem vestida e insuportável, ou ter uma mulher simples, humilde e verdadeira?", questiona.
O trabalho em Fina Estampa deixa claro que ele se tornou o galã preferido de Aguinaldo Silva. Com quem já havia trabalhado na novela Duas Caras e nas séries Cinquentinha e Lara Com Z. O fato do ator estar distante das tramas desde Negócio da China, de 2008, tem o dedo de Aguinaldo.
Na atual onda de reservas de elenco, o autor fez questão de tê-lo como protagonista da sua novela. "Estava reservado desde 2009. Tive outros convites no período, mas só aceitei fazer pequenas participações e seriados", assume.
Aos poucos, Vigh começa a sentir que está de volta ao horário nobre da Globo. Os primeiros sinais são as extensas gravações de Fina Estampa, sob o comando do diretor Wolf Maya. Além disso, o assédio do público nas ruas está cada vez maior.
"Sou um cara normal. Não acordo todos os dias pensando: sou um ator da Globo. Não fico incomodado com o assédio, fico é envergonhado", assegura. Mesmo depois de 16 anos de carreira na TV, a timidez do ator é evidente. Ao longo deste tempo, ele guarda boas recordações das emissoras em que atuou. Desde o início, em Tocaia Grande, da extinta Manchete, aos protagonistas que interpretou no SBT, Record e Globo.
A televisão serviu como uma confirmação de que estava trilhando o caminho certo. Não tenho nenhum deslumbramento com a carreira porque fui construindo aos poucos e com muito esforço", analisa.
De olho no passado
Dalton Vigh é contratado da Globo desde 2001. Antes disso, fez pequenas participações em novelas como Terra Nostra e Andando nas Nuvens, mas o vínculo com o emissora era por obra. Foi na pele do sisudo Said, de O Clone que o ator conseguiu repercussão e um contrato de longa duração. "Foi a grande virada na minha carreira. Era uma época de grandes audiências e a novela conquistou o povo", relembra.
Quando tem tempo, Dalton faz questão de assistir a suas cenas na trama de Glória Perez. Embora orgulhoso pelo trabalho feito na época, o ator não deixa a autocrítica de lado e observa alguns pontos fracos em sua atuação. "Reparo nos cacoetes, maneirismos, gestual, postura, dicção. Enfim, em tudo! Gosto de observar essas coisas para melhorar cada vez mais", destaca.