Meu pai morreu de complicações do Alzheimer. Na última fase de vida, já não falava, não andava, provavelmente não reconhecia nenhum de nós. Parecia um corpo e uma mente em profundo sofrimento.
Pelo que testemunhei na minha família, é impossível não se sensibilizar com as cenas de Rosa (Sueli Franco) na novela das 19h da Globo, ‘Dona de Mim’. A simpática matriarca está à beira de um diagnóstico de demência.
A cena em que, por esquecimento, ela não sabia onde estava no próprio bairro, teve forte emoção sem precisar de muitas palavras.
Assim como a conversa franca dela com o filho, Abel (Tony Ramos), após o primeiro teste aplicado por uma médica indicar a decadência cognitiva.
“Eu tenho medo de me perder de mim”, disse Rosa, emocionada. “Se eu dia eu me esquecer de você, eu vou me perder.” E se abraçaram, tomados por amor e medo.
Sueli entrega uma atuação sensível e carismática. São 85 anos de idade e quase 70 de teledramaturgia. Bonito ver uma atriz do início da TV no Brasil brilhar em um papel delicado, destacando-se entre atores de outras gerações.
Tony Ramos, outro gigante da arte dramática, transmite no olhar a tristeza pela possibilidade de ver a mãe que seu personagem tanto ama se transformar numa estranha. Vê-lo em cena é sempre um prazer.
A demência (o Alzheimer é o tipo mais comum; existem outros) é tão cruel que, de alguma maneira, adoece também as pessoas próximas.
Parentes cuidadores precisam de assistência psíquica para evitar o desenvolvimento de depressão, ansiedade e outros transtornos.
A autora de ‘Dona de Mim’, Rosane Svartman, presta serviço à sociedade ao introduzir o tema nos lares dos telespectadores.
Tão influente, a TV precisa alertar mais sobre a importância dos exames para o diagnóstico precoce da demência.
Descobrir quanto antes ajuda a atrasar a progressão dos sintomas, possibilita a adoção de hábitos para aumentar a qualidade de vida do paciente e ainda permite o planejamento familiar, inclusive em relação às finanças para o tratamento.
A coluna retomará o assunto em breve.