Vilã só na novela: Beatriz Segall incluiu motorista na herança e defendeu a esquerda após seu marido ser torturado na ditadura

Atriz imortalizada como a primeira Odete Roitman de ‘Vale Tudo’ se revoltava com quem pedia a volta do regime militar

31 mar 2025 - 14h56

Beatriz Segall morreu aos 92 anos em setembro de 2018. Coincidentemente, ‘Vale Tudo’ estava sendo reprisada no Canal Viva. 

Ela fez outras grandes vilãs na Globo, mas nenhuma superou a popularidade de Odete Roitman, considerada (merecidamente) a mãe de todas as malignas de novelas. 

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Reservada, a atriz manteve a privacidade blindada. Mas soube-se, após a leitura de seu testamento, que havia deixado um carro zero quilômetro e significativa quantia em dinheiro a seu motorista. 

Dois amigos fiéis também foram incluídos na divisão dos bens, além de seus três filhos, do casamento com o museólogo e poeta Maurício Segall (1926-2017), filho do renomado pintor e escultor Lasar Segall. 

Na ditadura, o intelectual foi preso, torturado, julgado e condenado. Durante um tempo, a atriz ficou sozinha com os meninos pequenos. Chegou a ser vigiada e passou dificuldades. 

Os anos de chumbo a fizeram se aproximar da esquerda que combatia os generais no poder. Foi aliada do PT e de Lula. Depois, rompeu com o partido e se aproximou da social-democracia representada pelo PSDB de Fernando Henrique Cardoso e José Serra.

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De 1988 até sua morte, 30 anos depois, Beatriz Segall foi obrigada a aceitar ser chamada de Odete Roitman
De 1988 até sua morte, 30 anos depois, Beatriz Segall foi obrigada a aceitar ser chamada de Odete Roitman
Foto: Reprodução

Na década de 1990, em entrevista a Bruna Lombardi no programa ’Gente de Expressão’, Beatriz se manifestou contra os novos simpatizantes da ditadura. 

“Fico horrorizada quando vejo até carta no jornal com pessoas dizendo que é preciso um regime forte, um regime militar. As pessoas não têm memória?”, questionou.  

“Não se podia abrir a boca, você corria perigo de vida. Muita gente morreu neste País. Todo mundo vivia amedrontado... Como alguém pode pensar (em pedir a volta da ditadura)? Para mim, é, antes de mais nada, uma demonstração enorme de ignorância.” 

A partir desta segunda-feira (31), o Brasil tem uma nova Odete Roitman: Debora Bloch assume o papel icônico no remake da novela. À imprensa, ela disse sempre ter votado “no PT e no Lula” e criticou o “governo fascista” de Jair Bolsonaro. 

Ironia do destino: as atrizes que deram vida à maior vilã de todos os tempos – personificação máxima do pensamento de direita radical – sempre militaram contra o conservadorismo extremo. 

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Em tempo: Maurício Segall lançou em 2001 um excelente livro, ‘Controvérsias e Dissonâncias’, da Boitempo Editorial, no qual tratou da luta contra o capitalismo, a cultura, o racismo e outros temas importantes e atemporais. Há, inclusive, a reprodução de cartas que ele escreveu quando estava preso na ditadura. Vale ser lido. 

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