A Wepink, marca de Virgínia Fonseca, enfrenta ação do MP-GO por propaganda enganosa, exclusão de críticas e mais de 120 mil reclamações, além de determinação judicial para melhorar atendimento e comprovar estoques em vendas.
A Wepink, da influenciadora Virgínia Fonseca, responde na Justiça uma ação civil pública, movida pelo Ministério Público de Goiás. No processo, a 70ª Promotoria de Justiça acusa a empresa de realizar propaganda enganosa e de excluir comentários negativos das redes sociais para esconder as reclamações de clientes. De acordo com o órgão, a marca contabiliza 120 mil reclamações em dois anos.
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A ação --que também cita Thiago Stabile e Chaopeng, sócios de Virgínia-- teve uma decisão provisória a pedido do MP na última sexta-feira, 10. A Justiça determinou uma série de medidas, como: atendimento humano para os consumidores e não apenas automatizado, devendo apresentar resposta inicial para cada reclamação no prazo máximo de 24 horas.
Além disso, a empresa fica proibida de realizar lives comerciais ou ações publicitárias de vendas virtuais enquanto não comprovarem documentalmente a disponibilidade em estoque dos produtos que estão sendo ofertados, sob pena de multa, em caso de descumprimento, de R$ 100 mil por ocorrência.
Milhares de reclamações
A promotoria aponta que a empresa descumpriu oito artigos do Código de Defesa do Consumidor e acumula milhares de reclamações registradas no site Reclame Aqui, sendo 90 mil em 2024 e mais de 30 mil até o momento em 2025.
“Ressalte-se que o fato de a empresa ostentar reputação considerada ‘regular’, com índice alto de solução, não afasta a constatação da má prestação de serviços após sua compra, em prejuízo aos consumidores”, apontou o promotor Élvio Vicente da Silva.
Propaganda enganosa
O MP sustenta que os sócios confessaram em transmissão ao vivo que venderam produtos sem ter estoque suficiente, e por isso, demonstram má-fé contratual e publicidade enganosa, pois a empresa continuou comercializando mesmo sabendo que não teria condições de entregar dentro do prazo prometido de 14 dias úteis.
"A gente tinha 200 mil faturamentos por mês. A gente saltou de 200 mil faturamentos por mês para 400 mil faturamentos por mês", declarou o sócio Stabile durante uma live. Ele admitiu, segundo o promotor: "De fato, tivemos um problema de abastecimento, porque a gente cresceu muito rápido. Algumas vezes, sim [demora], porque algumas matérias-primas acabam, porque a gente vende muito."
Entre as práticas abusivas identificadas, estão a falta de entrega dos produtos, resistência em devolver valores pagos, atendimento automatizado ineficaz, remoção de críticas nas redes sociais e venda de cosméticos com defeito.
Exclusão de comentários
O MP de Goiás aponta ainda que empresa exclui comentários negativos numa clara tentativa de ocultar a realidade vivenciada pelos consumidores.
“Acrescenta-se, ainda, que a empresa tem por prática excluir comentários negativos em suas redes sociais, tanto os relacionados à falta de entrega quanto àqueles que denunciam a má qualidade de determinados produtos, numa clara tentativa de ocultar a realidade vivenciada pelos consumidores”, declara o promotor.
Pedidos do MP
Além das medidas já determinadas provisoriamente pela Justiça, a promotoria também requer indenização por dano moral coletivo de R$ 5 milhões, a ser revertida ao Fundo Estadual de Defesa do Consumidor, e prevê reparação individual aos consumidores lesados.
Segundo Élvio Vicente da Silva, a imagem de Virgínia Fonseca contribui para a vulnerabilidade dos consumidores. "Seduzidos pela confiança depositada em influenciadora de renome nacional, realizaram compras legítimas, mas depararam-se com a realidade brutal de total descaso pós-venda."
Autuação no Procon
A Wepink foi autuada pelo Procon Goiás por descumprir prazos de entrega e falhar na assistência ao consumidor antes e depois da compra. Entre 2024 e 2025, o órgão recebeu cerca de 340 reclamações contra a marca, que incluem atrasos prolongados e falta de entrega dos produtos adquiridos no site.
Segundo o Procon, a Wepink vende cosméticos e perfumes em todo o País, mas não cumpre os prazos informados no momento da compra. Em uma das denúncias, uma consumidora afirmou ter feito um pedido há sete meses e nunca recebido a mercadoria. Após solicitar o cancelamento e o estorno, não obteve retorno da empresa.
Apesar das queixas, as lives promocionais seguem ocorrendo nas redes sociais, com produtos anunciados a preços reduzidos e links de compra disponibilizados durante as transmissões. Para o superintendente do Procon Goiás, Marco Palmerston, a conduta da empresa fere o Código de Defesa do Consumidor.
"O atraso ou a não entrega de uma mercadoria anunciada configura descumprimento de oferta. E caso isso aconteça, o consumidor tem o direito de exigir outro produto equivalente ou a restituição integral do valor pago, além dos custos de envio e eventuais perdas e danos financeiros", afirmou. Palmerston também destacou que, após o descumprimento do prazo inicial, a empresa deve definir um novo prazo acordado com o cliente, caso ele ainda queira o produto.
Em nota ao Terra, a equipe jurídica da Wepink afirmou que recebeu a notificação do Procon "sobre os mesmos fatos que foram devidamente respondidos".
"Hoje a Wepink não sofre mais com atrasos frequentes, tanto que é nota 8.1 na plataforma Reclame Aqui, contando com um índice de 93% de resolução, coisa que poucas empresas do e-commerce conseguem". A empresa também contestou o auto de infração, alegando que houve apresentação de defesa, e disse acreditar que "tudo será esclarecido junto ao Procon-GO nos próximos dias".