'Predador: Terras Selvagens' é um bom recomeço da franquia, mas a 'cara Disney' pode incomodar fãs

Apesar do evidente desejo em transformar o monstro em personagem 'vendável', longa sabe escapar de algumas armadilhas e ser bom entretenimento

7 nov 2025 - 13h09

Muita gente temeu por esse momento, mas aconteceu: a Disney finalmente olhou para o potencial de Predador. A franquia, que começou em 1987 com Arnold Schwarzenegger, finalmente ganha um ar mais pipoca, até mesmo mais vendável, transformando a sempre assustadora criatura alienígena em um ser bondoso e com amigos fofinhos ao redor.

Publicidade

Pode ser exagero falar em bondade e fofura, mas, ainda assim, a aventura espacial é o verdadeiro escopo de Predador: Terras Selvagens, filme que chegou aos cinemas nesta quinta, 6. O longa vem com a direção do homem que começou essa revolução em uma franquia que deu tantas voltas em Hollywood: Dan Trachtenberg. O cineasta, que colocou a criatura lutando contra uma nativa norte-americana no excelente Prey, olha para a história com outra perspectiva, indicando um caminho mais Star Trek e Star Wars do que Alien.

Um predador para chamar de seu

Pela primeira vez, o filme foca em um Predador como protagonista e não como vilão. Ele é Dek, um "runt" (o menor da ninhada) exilado por seu clã por ser considerado fraco. Trachtenberg quis explorar a cultura dos Yautja, mostrando que eles nem sempre vencem - e aqui, Dek aprende que sua "fraqueza" é na verdade sua força. Ao lado dele, uma androide vivida por Elle Fanning e uma criatura que os ajuda a desbravar um planeta inóspito.

Tudo ao redor de Predador: Terras Selvagens aponta para um caminho mais Disney e menos John McTiernan, o nome por trás do filme de 1987. Tudo é mais suave, até mesmo um pouco lúdico e divertido. Para tornar o mundo dos Predadores mais imersivo, a produção desenvolveu uma linguagem escrita e falada consistente para os Yautja. Quem cuidou disso foi Britton Watkins, linguista que criou a língua Na'vi para Avatar (2009).

Em 'Predador: Terras Selvagens', a criatura ganha uma nova leitura
Em 'Predador: Terras Selvagens', a criatura ganha uma nova leitura
Foto: Disney/Divulgação / Estadão

Além disso, diferentemente dos antecessores (todos +18, exceto Alien vs. Predador), Terras Selvagens é o primeiro da linha principal com classificação PG-13 - ou seja, para qualquer um acima de 13 anos nos Estados Unidos. No Brasil, ficou 16 anos. O truque? Não há humanos - só sintéticos (de sangue branco leitoso), Predadores (sangue verde) e criaturas com fluidos roxos ou laranja. Isso permitiu cenas violentas, mas sem exagerar no vermelho.

Publicidade

Fora que a história toda é, em essência, um filme de "amigos improváveis", o buddy movie. Dek (o Predador-protagonista) alia-se a Thia (a sintética de Fanning) e à criatura fofa feita com efeitos especiais, parecida com um macaquinho. É Star Wars puro de um lado, com as criaturas e o senso de cooperação, e Star Trek do outro, com a exploração de novos planetas e de criaturas e raças alienígenas. Terras Selvagens parece indicar um novo caminho.

Um filme Disney

Obviamente, fãs do filme original vão torcer o nariz. Vão achar "disneyficado" demais, bobo demais. E há algo de verdade nisso, afinal quase não se enxerga O Predador nessa nova visão de Trachtenberg - e, claro, do estúdio. O tom animado, as piadas, a amizade... nada disso seria esperado numa franquia que já teve Alien vs. Predador, por exemplo. É, de fato, um novo começo, um novo olhar, e que tira bastante da essência do que foi visto antes.

Há um evidente desejo ali em faturar com a história e com os personagens. Ao invés de vender apenas bonecos ultrarrealistas para marmanjos que amam o filme original, querem vender bonecos fofos para qualquer um.

Ainda assim, é preciso questionar: isso é ruim? Predador: Terras Selvagens é diferente, sim, e muitas vezes parece ter apenas o visual da criatura como elo entre passado e presente. No entanto, histórias precisam mudar, novos olhares precisam se fazer presentes e é urgente fazer com que grandes personagens da cultura pop encontrem novos nichos. Aconteceu isso com Baby Yoda, por exemplo, que deu um novo tratamento a uma figura icônica da cultura pop. Ter uma nova visão não é negar o passado, é apenas acrescentar algo.

Publicidade
Elle Fanning coloca graça em 'Predador: Terras Selvagens'
Foto: Disney/Divulgação / Estadão

Afinal, passando por essa polêmica toda, Predador: Terras Selvagens é um bom filme. Assim como em Prey, Trachtenberg sabe criar tensão e dirigir ação. Os elementos são bem encaixados, o público se importa com o personagem, com a história, com o que está acontecendo - me vi preocupado com a criatura fofa em pelo menos três momentos (ponto para a Disney!), e a personagem de Fanning é óbvia, mas adiciona boa diversão na tela.

O visual também é um acerto à parte. Há preocupação em criar algo além de criaturas e cenários digitais - boa parte do filme, aliás, foi gravada na Nova Zelândia, colocando um ar de Terra Média na produção. Ou seja: as coisas estão bem diferentes, sim, mas não estão ruins. E não dá para reclamar das cenas de luta, bem coreografadas e com ritmo, provando mais uma vez que Trachtenberg sabe o que fazer e como abordar essa mitologia dos predadores, abraçando novas armas, culturas e sociedade dentro desse universo.

Predador: Terras Selvagens é um recomeço e, como todo recomeço, causa desconforto. É claro que há algo a ser questionado aqui - será que todos os filmes precisam ter criaturas fofas para vender bonecos? Será que tudo precisa passar por esse banho de "brinquedo de parque da Disney"? O caminho pode ser perigoso, com o cinema sendo apenas um braço de promoção de vendas. Mas, enquanto não chega esse ponto crítico, há espaço para se divertir nos cinemas. Agora, resta ficar de olho nos próximos passos de Trachtenberg com essa franquia, que não dava ao público bons filmes em sequência assim há quase 40 anos.

Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se