Como surgiu a expressão "cair no conto do vigário"

A expressão "conto do vigário" aparece no cotidiano do Brasil para se referir a qualquer tipo de enganação, golpe ou trapaça em que alguém é convencido a acreditar em uma história falsa. Veja qual a origem da expressão.

20 dez 2025 - 07h33

A expressão "conto do vigário" aparece no cotidiano do Brasil para se referir a qualquer tipo de enganação, golpe ou trapaça em que alguém é convencido a acreditar em uma história falsa. Assim, costuma descrever situações em que a vítima confia em quem parece respeitável e acaba prejudicada. Seja em fraudes financeiras, negócios duvidosos ou promessas que nunca se realizam. Ao longo do tempo, o termo passou a ser empregado tanto em conversas informais quanto em reportagens, investigações policiais e análises sobre crimes de estelionato.

Apesar de ser bastante popular, a origem exata da expressão não é uma comprovação exata. Afinal, existem diferentes relatos, quase como pequenas lendas urbanas históricas, que ajudam a entender por que o vigário, figura religiosa de prestígio em comunidades antigas, virou personagem central de um tipo de golpe. Em comum, essas narrativas trazem a ideia de uso da confiança, da autoridade moral e da aparência de honestidade para enganar pessoas de boa-fé.

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A expressão pode se referir tanto a golpes clássicos, como vendas falsas de produtos e terrenos, quanto a esquemas mais modernos, como fraudes digitais, perfis falsos em redes sociais e mensagens enganosas que pedem transferências bancárias – depositphotos.com / terovesalainen
A expressão pode se referir tanto a golpes clássicos, como vendas falsas de produtos e terrenos, quanto a esquemas mais modernos, como fraudes digitais, perfis falsos em redes sociais e mensagens enganosas que pedem transferências bancárias – depositphotos.com / terovesalainen
Foto: Giro 10

O que significa "conto do vigário" hoje?

No uso atual, "cair em um conto do vigário" significa ser vítima de um golpe. Muitas vezes, acompanhado de uma história bem elaborada para tornar a mentira mais convincente. Normalmente, esse tipo de enganação envolve três elementos principais: uma narrativa persuasiva, uma promessa de vantagem ou benefício e a exploração da confiança da vítima. Ademais, a expressão também associa-se ao estelionato, quando há prejuízo material provocado por fraude.

Em linguagem mais ampla, o termo se consolidou como sinônimo de engodo, armação ou trapaça. Dessa forma, pode se referir tanto a golpes clássicos, como vendas falsas de produtos e terrenos, quanto a esquemas mais modernos, como fraudes digitais, perfis falsos em redes sociais e mensagens enganosas que pedem transferências bancárias. Em todos os casos, permanece a ideia de alguém que foi "convencido" a acreditar em algo que não correspondia à realidade.

Como teria surgido o "conto do vigário" na história?

Uma das versões mais citadas sobre a origem da expressão situa o "conto do vigário" em cidades do interior, em tempos em que o vigário tinha função central na vida social e religiosa. Segundo esse relato, dois padres ou vigários teriam disputado, por meios pouco transparentes, a posse de uma imagem de santo ou de uma doação valiosa. O acordo para decidir quem ficaria com o bem envolvia regras confusas e, ao final, a comunidade teria percebido a existência de uma manobra para favorecer um dos lados.

Outra narrativa menciona cartas, documentos e promessas apresentadas por supostos representantes da Igreja para convencer moradores a entregar dinheiro, joias ou propriedades, em troca de bênçãos, favores espirituais ou benefícios futuros. Mesmo que não haja registro histórico unificado que comprove todos os detalhes, essas histórias ajudam a entender por que a expressão se associou à ideia de uso indevido da confiança em figuras de autoridade.

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Com o passar dos anos, o termo deixou de se referir literalmente a religiosos e passou a abranger qualquer situação de golpe, independentemente de quem o aplica. O vigário permaneceu no nome por representar o símbolo de alguém considerado confiável, mas o foco passou a ser o mecanismo do engano, não a instituição religiosa em si.

Por que a expressão se popularizou tanto no Brasil?

A popularização do conto do vigário está ligada ao próprio funcionamento das relações sociais brasileiras, em que a confiança pessoal sempre teve grande peso em negociações, vendas e acordos informais. Em muitos contextos, a palavra dada, títulos religiosos ou cargos públicos serviam como garantia de honestidade. Isso criava terreno fértil para que pessoas mal-intencionadas se passassem por figuras respeitadas a fim de aplicar golpes.

No século XX, com o crescimento urbano e o aumento de transações financeiras, a expressão ganhou ainda mais espaço na imprensa e no vocabulário popular. Reportagens policiais passaram a relatar casos de estelionatários que usavam documentos falsos, histórias mirabolantes ou identidades supostamente respeitáveis para enganar vítimas. Nessas narrativas, falar que alguém "caiu em um conto do vigário" tornou-se uma forma direta de indicar que houve um golpe bem articulado.

Quais são os tipos de "conto do vigário" mais comuns?

Embora o contexto mude com o tempo, a lógica do golpe do vigário permanece semelhante: alguém cria uma situação aparentemente vantajosa, apela à confiança da vítima e busca obter algum benefício indevido. Entre os formatos mais recorrentes, podem ser citados:

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  • Golpes financeiros clássicos: promessas de lucros rápidos, investimentos "garantidos" ou negócios supostamente sem risco.
  • Fraudes emocionais: histórias que exploram solidariedade, caridade ou compaixão para obter dinheiro ou bens.
  • Esquemas digitais: mensagens falsas em aplicativos, e-mails fraudulentos e sites que imitam instituições reais.
  • Falsas autoridades: uso de títulos, cargos ou roupas para se passar por profissionais idôneos.

Em muitos desses casos, a vítima é levada a tomar decisões rápidas, sem tempo para checar informações. O uso de linguagem convincente, documentos aparentemente oficiais e referências a instituições conhecidas reforça a sensação de segurança, o que facilita o êxito do golpe.

No século XX, com o crescimento urbano e o aumento de transações financeiras, a expressão ganhou ainda mais espaço na imprensa e no vocabulário popular – depositphotos.com / karelnoppe
Foto: Giro 10

Como evitar cair em um "conto do vigário" hoje em dia?

Mesmo que a expressão tenha origem antiga, a prevenção contra esse tipo de golpe continua atual. Algumas atitudes simples reduzem o risco de ser enganado em situações que lembram um conto do vigário moderno:

  1. Desconfiar de promessas de ganho rápido ou retorno financeiro muito acima do comum.
  2. Confirmar informações diretamente com a instituição ou pessoa envolvida, por canais oficiais.
  3. Evitar fornecer dados pessoais ou bancários a desconhecidos, principalmente em contatos inesperados.
  4. Ler com atenção contratos, termos de adesão e documentos antes de assinar.
  5. Consultar familiares, amigos ou profissionais especializados em decisões que envolvam valores elevados.

Ao longo da história, a expressão "conto do vigário" passou de episódio local a símbolo de qualquer golpe baseado em confiança traída. Hoje, serve como alerta constante para atitudes de cautela em negociações, relações virtuais e situações em que promessas fáceis surgem sem explicação clara. A permanência do termo no vocabulário indica que, mesmo com mudanças tecnológicas, a atenção continua sendo uma ferramenta central para evitar novas formas de enganação.

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