Milhares de meteoritos escondidos no gelo da Antártida podem se perder para sempre devido às mudanças climáticas. Um novo estudo fez um alerta que 5 mil rochas espaciais correm o risco de afundar para sempre na superfície gelada, o que geraria a perda de informações vitais para os cientistas que estudam a origem e evolução do sistema solar.
A análise aponta que mais de 60% dos meteoritos encontrados na Terra são originários da Antártica. Segundo os pesquisadores, é preciso intensificar os esforços para encontrar estes meteoritos antes que desapareçam para sempre.
Atualmente, cerca de 5 mil meteoritos tornam-se inacessíveis por ano (contra cerca de 1.000 descobertas por ano) e, independentemente do cenário de emissões, cerca de 24% serão perdidos até 2050, aumentando potencialmente para cerca de 76% até 2100, em um cenário de emissões elevadas.
"Usando uma análise baseada em dados que identifica locais ricos em meteoritos na Antártica, mostramos que o aquecimento climático faz com que muitas rochas extraterrestres sejam perdidas da superfície ao derreterem na camada de gelo", aponta o documento.
"Resgate" dos meteoritos
Em certas partes do continente, conhecidas como “áreas de gelo azul”, os meteoritos presos são libertados do gelo à medida que o vento e a luz solar dissolvem as camadas superiores de água congelada. Alguns desses meteoritos podem ter ficado presos ali há dezenas de milhares de anos.
As áreas de gelo azul da Antártica são, portanto, alguns dos melhores lugares do mundo para caçar meteoritos. Existem cerca de 600 destas áreas na Antártida, que cobrem cerca de 1% da superfície do continente.
Dos mais de 50 mil meteoritos já descobertos nesta região, a maioria tem menos de 2,5 centímetros de diâmetro, mas algumas são muito mais massivas. Em janeiro de 2023, por exemplo, os pesquisadores descobriram um meteorito antártico pesando impressionantes 7,7 quilos – uma das rochas espaciais mais pesadas já encontradas no continente.
Os meteoritos antárticos são especialmente úteis para os cientistas porque estão bem preservados no gelo. A maioria dos meteoritos que caem em outras regiões são rapidamente contaminados por minerais, micróbios ou pessoas após atingirem o solo.
Estudo com inteligência artificial
Publicado na revista Nature Climate Change em abril, o estudo cita que os pesquisadores usaram o aprendizado de máquina – uma forma de inteligência artificial – para prever quantos meteoritos poderiam ser perdidos como resultado do aquecimento global.
O modelo da equipe estima que existam provavelmente até 850 mil meteoritos na superfície ou perto da superfície de áreas de gelo azul na Antártida.
"Para quantificar a perda de meteoritos antárticos, utilizamos um algoritmo de aprendizado de máquina que prevê a presença de meteoritos forçado com simulações de modelos climáticos regionais dedicados. O algoritmo de aprendizado de máquina captura interações entre diferentes preditores da presença de meteoritos, estimando uma distribuição de densidade multidimensional de observações desses diferentes preditores (por exemplo, velocidade do fluxo de gelo, temperatura da superfície)", cita o relatório.
"Ao examinar estas interações, o algoritmo identifica locais onde as condições futuras se tornam substancialmente diferentes das condições atuais em locais onde os meteoritos foram recuperados".