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História do Concorde no Brasil só durou seis anos

Quarta, 26 de julho de 2000, 01h26min
A história do Concorde no Brasil foi, no mínimo, melancólica. Apesar de ter aterrissado nos aeroportos de São Paulo e do Rio de Janeiro em setembro de 1971, antes mesmo de obter autorização dos Estados Unidos para entrar em seu espaço aéreo, o avião anglo-francês nunca conseguiu ocupar o devido espaço na grade de reservas das agências de viagens nacionais. Sua rota oficial ligando o Rio a Paris, inaugurada em 21 de janeiro de 1976, foi cancelada definitivamente em abril de 1982, em plena crise internacional do petróleo e por ordem direta do então primeiro-ministro francês, Pierre Mauroy.

O prejuízo, só no ano de 1981, com ociosidade de 53% nos vôos para a América do Sul, incluindo-se aí Caracas, somava US$ 17,2 milhões. Era hora de estancar a hemorragia de recursos. Hoje, os Concorde só voam de e para Paris, Londres e Nova York.

A vinda prematura do Concorde ao Brasil, na verdade, foi um golpe de marketing alternativo do consórcio binacional que havia fabricado a primeira aeronave supersônica com intenção de ser comercial, onde os talheres eram de prata Christofle e os casacos eram recolhidos já no check-in (por absoluta falta de espaço para eles na cabine). Proibido pelas autoridades americanas de voar acima da velocidade do som sobre as grandes cidades dos Estados Unidos, o Concorde tentou mostrar, ao pousar em várias capitais sul-americanas, que não representava ameaça nenhuma aos arranha-céus locais, nem à saúde dos moradores.

Falava-se, entre os políticos americanos (que, suspeitava-se, no fundo defendiam apenas os interesses das gigantes da aviação Boeing e McDonnell Douglas), que as vibrações supersônicas poderiam provocar distúrbios variados à saúde, e até alguns tipos de câncer. Nada que se tenha provado cientificamente até a liberação do espaço aéreo americano, que viria só em novembro de 1977.

Brasileiros - Mas, se a vida brasileira do Concorde foi curta, nem por isso os brasileiros mais abonados deixaram de conferir, nas próprias malas, o charme de voar acima da velocidade do som. Do Rio a Dacar, eram três horas de vôo, e mais três até Paris - um luxo para agendas abarrotadas. Um luxo tão incômodo quanto alguns modelitos exibidos pelas passarelas das maisons francesas: com pouco mais de 1,90 m de altura livre, o espaço interno estava (e está até hoje) longe de poder ser classificado como confortável para os 100 passageiros que representam a lotação máxima do avião.

"Era incômodo e caríssimo, cada vez que alguém precisava levantar-se era um problema, tudo muito apertado e, ainda por cima, com aquele desenho moderno e tudo, passava uma imagem de fragilidade, que dava uma certa aflição", lembra o designer Gregório Kramer, que chegou a voar na rota Rio-Paris, ainda em 1976.

Para piorar o gosto da memória, durante o vôo de Kramer, por duas vezes o avião tentou ultrapassar a barreira do som, sem sucesso. "Precisamos voltar para o aeroporto do Galeão e esperar dez horas pelo conserto, o que acabou fazendo com que muitos desistissem do vôo, já que não tinha graça pagar caro e chegar na mesma hora que o vôo normal", conta.

Kramer, na verdade, parece não ter dado sorte. O publicitário Washington Olivetto, que já subiu três vezes a bordo de um Concorde, lembra que a primeira vez que embarcou foi em 1981, a caminho do Festival Internacional de Propaganda de Cannes, na França. "Gostei muito, ainda mais que encontrei a bordo o jogador de futebol Didi, que estava a caminho de Dacar, e conversamos um tempão", recorda, como confesso viciado em futebol que é.

A única crítica de Olivetto à engenhoca é a notória falta de conforto interno, mas ele considera que é um preço razoável para quem, como ele, está sempre com a agenda lotada. "O projeto foi mal vendido desde o começo, eles deviam ressaltar o quanto o empresário ganha no tempo em que ele deixou de voar, por ter ido de Concorde, em relação ao que ele pagou a mais pela passagem", fala, aí, o publicitário sempre atento.

Consulta - O empresário Belarmino Iglesias, dono da rede de restaurantes Rubayat, conta que foi forçado a pegar um Concorde ao defrontar-se com uma greve de aviões na Espanha. "Fui de Madri a Londres e de lá para Nova York, para uma revisão médica que não podia desmarcar", lembra, acrescentando: "Foi a consulta mais cara do planeta!" Dinheiro à parte, ele avalia que o gasto valeu a pena. "Foi caro, foi incômodo, chacoalhou uma barbaridade no começo, mas depois que chegou à velocidade de cruzeiro, supersônica, foi uma delícia, era como estar montado em uma bala", conta.

A primeira impressão também incomodou o vice-presidente da Volkswagen Miguel Jorge, que já voou em rotas exóticas nos Concordes da British Airways, para Cingapura e Emirados Árabes. "Quando você entra, é uma frustração, tudo tão estreito... mas depois que ele sobe, quase na vertical, e você percebe que dá até para ver a curvatura da Terra, é uma sensação indescritível, pode-se imaginar o que deve ser estar em uma nave espacial", suspira.

Curiosamente, segundo o diretor do Sindicato dos Aeroviários e presidente da Associação dos Pilotos da Varig, comandante Gelson Fochesato, não se tem notícia de nenhum piloto brasileiro que tenha chegado, já, sequer perto do manche de um Concorde. "Mas o que é sabido é que ele pode ser tudo, menos um avião velho, já que tem menos de 30 anos, excelente manutenção e um projeto que nunca teve um acidente sério antes", avalia. "Aqui mesmo no Brasil temos muitos aviões voando em perfeitas condições que têm, já, mais de 30 anos e está tudo bem."

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