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Slam promove saúde mental nas quebradas do Rio de Janeiro

Batalhas de rima unem poetas suburbanos contra o suicídio, responsável pela perda de importantes poetas da cena frestyle

1 mar 2023 - 05h00
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Poeta Monrá na 7ª edição do Slam 188, no centro do Rio de Janeiro. Poesia a favor da saúde mental
Poeta Monrá na 7ª edição do Slam 188, no centro do Rio de Janeiro. Poesia a favor da saúde mental
Foto: Divulgação

Surgido durante a pandemia de covid-19, o Slam 188 é uma batalha de poesia falada que une arte e saúde mental em locais periféricos do Rio de Janeiro, capital. O número que acompanha o nome é uma referência ao telefone do Centro de Valorização da Vida (CVV), associação sem fins lucrativos que presta apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo de forma voluntária por telefone, chat ou e-mail.

Em poucos anos, a cena do freestyle (poesia improvisada) perdeu para o suicídio alguns poetas de grande representatividade no Rio de Janeiro e em São Paulo. Essa situação chamou a atenção dos jovens fundadores do coletivo artístico Slam 188. Eles estavam preocupados, pois, além de quem morreu, muitas pessoas foram afetadas.

Por isso, a intenção é incentivar poetas e pessoas interessadas em poesia a cuidarem da sua saúde mental, quebrando o tabu de que ela é “coisa de rico". Os organizadores do coletivo apontam que as pessoas pretas e de periferia são as que mais necessitam de cuidados com o bem-estar da cabeça.

Preta Poética recebe prêmio Em Movimento 2021, que homenageia artistas da zona Oeste do Rio de Janeiro
Preta Poética recebe prêmio Em Movimento 2021, que homenageia artistas da zona Oeste do Rio de Janeiro
Foto: Divulgação

Saúde mental pra geral

Desde o começo, além de promover batalhas de rima e saraus, o Slam 188 se apresenta em eventos. São congressos temáticos de saúde mental ou espaços do SUS.

Um dos criadores da batalha de rimas, Daniel Corbo, vulgo Ozazuma, 26 anos, morador de Vicente de Carvalho, zona Norte do Rio de Janeiro, é produtor cultural, pedagogo e compositor independente.

Ele avalia que “o principal é perceber o quanto o espaço de cura tem que ser conversado, demonstrar a democratização de falar de saúde mental. A gente pode chegar em todos os espaços”.

Poeta Monrá se apresenta no Buraco do Lume, Praça Mario Lago, centro do Rio de Janeiro, na 7ª edição do Slam 188
Poeta Monrá se apresenta no Buraco do Lume, Praça Mario Lago, centro do Rio de Janeiro, na 7ª edição do Slam 188
Foto: Divulgação

Chegando longe

Ozazuma conta que, no começo, não acreditava que o Slam 188 iria chegar a tantos lugares e recitar para públicos tão variados. Segundo o poeta, a virada foi quando perceberam o quanto estavam doentes.

“A gente passou por uma pandemia e viu o quanto as pessoas estavam ficando apáticas, as coisas tavam muito gritantes. Isso fez a gente criar esse modelo, de tentar chegar nos espaços, em locais como faculdades, e ganhar prêmios.”

Poeta Monra, na 7ª edição do Slam 188, em que se sagrou campeão, em janeiro deste ano
Poeta Monra, na 7ª edição do Slam 188, em que se sagrou campeão, em janeiro deste ano
Foto: Divulgação

Slam não cura, alerta

Fernanda Amancio, vulgo Preta Poética, 26 anos, moradora de Santíssimo, bairro da zona Oeste do Rio de Janeiro, é produtora cultural e estudante de Recursos Humanos.

Ela é uma das articuladoras do Slam 188 e diz que sempre ouve de artistas e apreciadores elogios sobre a relevância da iniciativa na promoção de saúde e bem-estar. Mas atenta para a importância dessas pessoas buscarem profissionais capacitados. O slam é só um alerta e um alento momentâneo.

Acessibilidade

O Slam 188 foi considerado o primeiro do estado do Rio de Janeiro a promover acessibilidade, contando com intérprete de libras no ambiente virtual, durante a pandemia de covid-19.

O poeta Ozazuma reforça a importância da acessibilidade. “Eu tenho um irmão que é surdo. Para mim, os slams em libras eram muito importantes, deixavam o meu irmão dentro do meu mundo, melhorava nossa ligação”.

Ele acrescenta: “A ideia era quebrar esse estereótipo de que não existem poetas surdos. Existe bastante, e criam um novo cenário.”

Banco de psicólogos

Da preocupação com a saúde mental dos poetas e frequentadores de slams, surge um projeto: o banco de psicólogos. Há um formulário online, disponível nas redes sociais do grupo, através do qual o Slam 188 faz a ponte entre pessoas que procuram psicoterapia e os profissionais cadastrados.

O grupo não possui plataforma de atendimento, mas recebe profissionais interessados em divulgar o trabalho. O Slam 188 então repassa os contatos e os valores são combinados entre cliente e psicólogo. Muitos oferecem sessões a preço social ou voluntário.

Além da poesia

Para os componentes do Slam 188, a poesia envolve educação. É como pensa Fábio Eduardo Costa de Souza, vulgo Auri Negro, 25 anos, morador do Caonze, Nova Iguaçu, cidade da Baixada Fluminense.

Ele é estudante de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e faz parte da organização do Slam. “A gente pode educar um público, então nossos projetos vêm muito disso, de ser um aprendizado”.

Recentemente, o Slam 188 lançou o livreto “Desabafo do Poeta”, que expressa as temáticas importantes para o coletivo, mas é também uma forma de gerar recursos para o trabalho, dos quais necessitam para continuar.

Agência Mural
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