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ONG mapeia violências contra LGBTQIAP+ em favelas cariocas

Grupo Conexão G, da Maré, levanta dados de violências homotransfóbicas para pleitear políticas públicas

23 ago 2023 - 05h00
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O Grupo Conexão G de Cidadania LGBT de Favelas, sediado na comunidade Nova Holanda, está realizando um mapeamento das violências homotransfóbicas contra moradores da Maré, favela onde a ONG está sediada, e nas demais favelas da cidade e do estado do Rio de Janeiro.

O projeto pretende compilar dados, compreender indicadores de violência e embasar propostas de políticas públicas. Fernanda Telles, moradora do Complexo da Maré e coordenadora do mapeamento espera “estar fazendo a diferença e somando para que estas pessoas encontrem meios possíveis e ajuda para que mudem sua situação”.

Fernanda Telles, na sede da Conexão G, que realiza pesquisa sobre violências homotransfóbicas nas favelas do estado do Rio de Janeiro
Fernanda Telles, na sede da Conexão G, que realiza pesquisa sobre violências homotransfóbicas nas favelas do estado do Rio de Janeiro
Foto: Divulgação

Os dados disponíveis sobre a periferia ainda são escassos no campo de interesse do mapeamento. Na intersecção entre gênero, sexualidade e território, mais escassos ainda. O mapeamento se propõe a dar atenção a esses entrelaçamentos.

Somente em 2019 o Censo do IBGE fez perguntas sobre a orientação sexual dos brasileiros, mas a pesquisa ainda é limitada, considera apenas as opções de sexo biológico feminino ou masculino.

Números alarmantes convivem com subnotificação

Apesar do Brasil ter avançado na conquista de direitos que abrangem casais do mesmo gênero e pessoas trans, ainda é considerado o país que mais mata essa população. Segundo o Grupo Gay da Bahia, que realiza levantamentos, foi assassinada uma pessoa dessa comunidade a cada 32 horas no ano de 2022.

Mesmo com números alarmantes, ainda há muita subnotificação. A pesquisadora Sonia Maria Ferreira Koehler afirma que “as estatísticas brasileiras, não revelam a realidade, pois as estratégias e instrumentos utilizados para mapear e compreender a realidade LGBT, ainda são claramente insuficientes”.

Treinamento da equipe que realiza mapeamento sobre violências homotransfóbicas nas favelas fluminenses
Treinamento da equipe que realiza mapeamento sobre violências homotransfóbicas nas favelas fluminenses
Foto: Divulgação

Pesquisa é feita por gente da favela

Yuri Cantizano, morador do bairro de Inhaúma, zona Norte da capital fluminense, é estudante de enfermagem e pesquisador comunitário na ONG Conexão G. Ele explica que, além de colher respostas, o questionário, pelas próprias perguntas, pretende conscientizar a pessoa que sofre violência e não sabe.

Por isso, as ações realizadas por sua equipe “não só geram dados, mas também levam informação para essa comunidade nas favelas”. O grupo Conexão G, que promove o mapeamento, começou em 2006 para discutir as vivências de pessoas desviantes das normas de gênero e sexualidade no Complexo da Maré.

A equipe se multiplicou, o trabalho se expandiu e atualmente são oferecidos serviços como atendimento psicológico, jurídico e educacional para a população LGBTQIAP+ da região.

Yuri Cantizano, de Inhaúma, é pesquisador comunitário. Para ele, questionário pretende conscientizar pelas próprias perguntas
Yuri Cantizano, de Inhaúma, é pesquisador comunitário. Para ele, questionário pretende conscientizar pelas próprias perguntas
Foto: Arquivo pessoal

Apelo à participação

Os organizadores afirmam que é de extrema importância a participação, respondendo ao questionário eletrônico, de todas as pessoas que se identificam enquanto LGBTQIAP+ nas favelas do estado.

Agora, detalhe importante: para estabelecer contato com os respondentes, os organizadores do mapeamento pedem que o formulário seja acessado em @grupoconexaog.

Outra intenção de pedir o contato é mostrar que quem realiza a pesquisa são favelados e LGBTQIAP+, a maioria trans e negros.

O levantamento, que segue até o próximo dia 31 de outubro, tem questões relacionadas ao perfil da pessoa entrevistada, identidade sexual e de gênero. Também sobre a falta de acesso à saúde e educação.

Quanto às violências vividas, há questões relativas às que ocorrem em ambiente familiar, no trabalho, na escola, entre outras.

ANF
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