ONG mapeia violências contra LGBTQIAP+ em favelas cariocas
Grupo Conexão G, da Maré, levanta dados de violências homotransfóbicas para pleitear políticas públicas
O Grupo Conexão G de Cidadania LGBT de Favelas, sediado na comunidade Nova Holanda, está realizando um mapeamento das violências homotransfóbicas contra moradores da Maré, favela onde a ONG está sediada, e nas demais favelas da cidade e do estado do Rio de Janeiro.
O projeto pretende compilar dados, compreender indicadores de violência e embasar propostas de políticas públicas. Fernanda Telles, moradora do Complexo da Maré e coordenadora do mapeamento espera “estar fazendo a diferença e somando para que estas pessoas encontrem meios possíveis e ajuda para que mudem sua situação”.
Os dados disponíveis sobre a periferia ainda são escassos no campo de interesse do mapeamento. Na intersecção entre gênero, sexualidade e território, mais escassos ainda. O mapeamento se propõe a dar atenção a esses entrelaçamentos.
Somente em 2019 o Censo do IBGE fez perguntas sobre a orientação sexual dos brasileiros, mas a pesquisa ainda é limitada, considera apenas as opções de sexo biológico feminino ou masculino.
Números alarmantes convivem com subnotificação
Apesar do Brasil ter avançado na conquista de direitos que abrangem casais do mesmo gênero e pessoas trans, ainda é considerado o país que mais mata essa população. Segundo o Grupo Gay da Bahia, que realiza levantamentos, foi assassinada uma pessoa dessa comunidade a cada 32 horas no ano de 2022.
Mesmo com números alarmantes, ainda há muita subnotificação. A pesquisadora Sonia Maria Ferreira Koehler afirma que “as estatísticas brasileiras, não revelam a realidade, pois as estratégias e instrumentos utilizados para mapear e compreender a realidade LGBT, ainda são claramente insuficientes”.
Pesquisa é feita por gente da favela
Yuri Cantizano, morador do bairro de Inhaúma, zona Norte da capital fluminense, é estudante de enfermagem e pesquisador comunitário na ONG Conexão G. Ele explica que, além de colher respostas, o questionário, pelas próprias perguntas, pretende conscientizar a pessoa que sofre violência e não sabe.
Por isso, as ações realizadas por sua equipe “não só geram dados, mas também levam informação para essa comunidade nas favelas”. O grupo Conexão G, que promove o mapeamento, começou em 2006 para discutir as vivências de pessoas desviantes das normas de gênero e sexualidade no Complexo da Maré.
A equipe se multiplicou, o trabalho se expandiu e atualmente são oferecidos serviços como atendimento psicológico, jurídico e educacional para a população LGBTQIAP+ da região.
Apelo à participação
Os organizadores afirmam que é de extrema importância a participação, respondendo ao questionário eletrônico, de todas as pessoas que se identificam enquanto LGBTQIAP+ nas favelas do estado.
Agora, detalhe importante: para estabelecer contato com os respondentes, os organizadores do mapeamento pedem que o formulário seja acessado em @grupoconexaog.
Outra intenção de pedir o contato é mostrar que quem realiza a pesquisa são favelados e LGBTQIAP+, a maioria trans e negros.
O levantamento, que segue até o próximo dia 31 de outubro, tem questões relacionadas ao perfil da pessoa entrevistada, identidade sexual e de gênero. Também sobre a falta de acesso à saúde e educação.
Quanto às violências vividas, há questões relativas às que ocorrem em ambiente familiar, no trabalho, na escola, entre outras.