COP30: jovens negros periféricos lançam livro contra “falsas soluções” ambientais
Coletânea tem textos de representantes das quebradas de todas as regiões do país, que vivem na pele a crise ambiental
Jovens negros de periferias brasileiras lançaram na COP30 o livro As Periferias e o Combate ao Racismo Ambiental, destacando alternativas comunitárias contra o racismo ambiental e criticando as "falsas soluções" para a crise climática.
A PerifaConnection, articulação dedicada à produção de conteúdo, formação e mobilização periférica, lança na COP30 o livro As Periferias e o Combate ao Racismo Ambiental: Tecnologias de Sobrevivência e Luta pelo Bem Viver.
O lançamento ocorreu em um espaço emblemático da luta climática periférica em Belém: o Gueto Hub, no bairro Jurunas. A obra tem dez capítulos escritos por autoras e autores de diferentes regiões do país, abordando o racismo ambiental sob a ótica das juventudes negras.
A PerifaConnection atua desde 2019 e conta com representantes espalhados pelo Brasil, como as organizadoras do livro, Karina Pena e Thuane Nascimento, da Baixada Fluminense. Thuane, nascida e criada na Vila Operária — favela de Duque de Caxias — conversou com o Visão do Corre sobre a coletânea.
Por que produzir o livro e lançar na COP30?
A gente tem recebido conhecimento dos mais velhos e tem produzido novos conhecimentos e vinha percebendo que faltava registrar. Entendemos que a COP 30 era um momento interessante para poder conseguir desaguar esses conhecimentos. Como diz Nego Bispo, nenhum rio perde se juntando.
Qual o diferencial das propostas das juventudes negras periféricas?
Tem tanta empresa aí fazendo reunião, fazendo evento, gastando dinheiro público, de lei de incentivo, de várias coisas, que não retornam em nada para o território, só querem fazer marketing. Eu acho que o movimento de periferias mostra o contrário.
O livro se esgota nas páginas impressas ou vai além?
Além de um livro feito pelas periferias, foi o pontapé inicial para pensar em outras possibilidades comunitárias, das famílias se juntando e agindo. Eu acho que isso fez com que os eventos paralelos à COP30 reproduzissem essa mística tão poderosa das periferias. A gente faz tudo muito coletivo, no nós por nós, como a gente diria no Rio de Janeiro.
Os eventos oficiais da COP30 não deixarão nenhum legado?
Eu acho que a COP deixará um bom legado se seguir o caminho da declaração da Cúpula dos Povos, que é um caminho contra as falsas soluções, contra as guerras e a favor da desmilitarização. A gente quer que o dinheiro que os países usam para oprimir outros povos venha para o financiamento climático, da adaptação das cidades, para a reforma agrária, para a demarcação de terra indígena.
Foram anunciadas demarcações de terras indígenas na COP30.
O governo anunciou duas terras indígenas. Isso é muito pouco, pouquíssimo. Tem que avançar. O legado que o governo brasileiro podia deixar é demarcar 20, 30, 40, 50 terras indígenas. E ainda seria pouco. Demarcar a terra de quilombolas, de comunidades tradicionais.
Demarcação resolve o problema?
Não. Além da demarcação e titulação das terras, é preciso ter proteção e acompanhamento. Não adianta nada demarcar e depois deixar os grileiros irem lá, matar e sufocar esses povos.
O que você considera que falta nas decisões oficiais?
Precisamos de um olhar de política pública, um olhar da potência que nós temos. Não a potência no sentido que o capitalismo está incentivando, somente do empreendedorismo. Não: precisa ser da potência no sentido de soluções climáticas, de olhar para esses territórios e construir realmente infraestrutura urbana, para que a gente possa alcançar o bem viver.
Qual recado final gostaria de deixar?
As periferias estão produzindo tecnologias sociais de sobrevivência. Que esse livro seja um guia para as lideranças, para a COP30 e para nós, nos nossos territórios, do que deve ser feito para lutar pela justiça climática.