Publicitários periféricos trazem olhar inclusivo às marcas e querem furar a 'bolha'
Dupla de diretores da 2Vilão, de Ermelino Matarazzo, se destaca como exemplo de diversidade na condução de projetos audiovisuais
Mary Abrantes, 28, e Peri, 29, nascidos em Ermelino Matarazzo, bairro periférico na zona leste de São Paulo, não tiveram a oportunidade de frequentar a universidade. Hoje, a dupla trabalha com publicidade e tem como foco trazer um olhar inclusivo às marcas, sendo um exemplo de pluralidade na liderança por trás das câmeras.
Desde jovens, aos 13 anos, eles já se envolviam em atividades culturais ns região em que viviam. Mary participou de oficinas de teatro e produção de saraus no Coletivo Periferia Invisível, enquanto Peri optou por estudar fotografia na lata, o chamado pinhole, no Coletivo Mundo em Foco, avançando depois para fotografia analógica e a digital.
Essa vivência somada à experiência que tiveram participando e ministrando oficinas e outros projetos no Instituto Criar deram a eles a competência necessária para atuar na realização e direção de filmes, mesmo sem a formação universitária.
Atualmente com a 2Vilão, a dupla propõe superar a falta de networking entre profissionais periféricos da publicidade e promover o acesso a projetos relevantes nesse campo. Os diretores defendem a abertura do mercado para estabelecer uma rede de publicitários periféricos, visando incluir aqueles que estão fora da "bolha".
"Passou o tempo de termos mais diretores periféricos fazendo filmes, principalmente quando o enredo trata de temas relacionados à periferia ou à diversidade. Não faz sentido alguém de outra realidade ditar a linguagem ou algum direcionamento de uma história sobre a periferia", aponta Peri.
"Nós mesmos já conseguimos indicar amigos nossos, para trabalhar no mercado publicitário, em posições de liderança, com liberdade para contribuírem com sua criatividade, efetivamente. Aos poucos, vamos também construindo nossa rede", complementa ele.
Segundo Mary, é preciso surfar na receptividade do mercado, mas ainda há muito o que melhorar. "Hoje, o mercado está mais aberto, pensando em trazer mais mulheres periféricas para o set de filmagem, por exemplo. Mas isso ainda é muito novo e um pouco mais raro nos cargos de liderança", diz.
-1hbljsug1g28y.jpg "2Vilão, dupla de diretores de cena da produtora Broders")
Movidos pela paixão de contar histórias, valorizar diversidades e se tornar uma referência para a periferia, Mary e Peri começaram a dirigir de forma independente. Ambos têm origem na fotografia e, mesmo no início, enfrentando limitações de recursos e equipamentos, sempre buscaram alcançar os melhores resultados para seus filmes.
Premiados na categoria Health em Cannes Lions - principal evento global de avaliação de ações de comunicação comercial - com um videocase para a entidade Habitat para Humanidade, a dupla atua como diretores de cena da produtora Broders (uma creative house de conteúdo audiovisual multiplataformas).
Cases para além de periferia
A linguagem, o olhar e o poder de realização dos publicitários periféricos têm sido um diferencial na construção de comunicações para marcas em geral e não apenas para storytellings sobre a periferia.
Um exemplo é a campanha She Can, criada pela Soko para Guaraná Antarctica, em apoio ao futebol feminino e em prol do coletivo Meninas em Campo. Dirigida pela dupla 2Vilão e com produção da Broders, a ação foi vencedora de duas categorias em Cannes Lions.
Em "O pôster solúvel", a Habitat para a Humanidade Brasil apresenta pôsteres educativos que, ao se dissolverem com a água da chuva, liberam um larvicida que mata as larvas do mosquito da dengue. Os cartazes trazem mensagens de conscientização sobre os prejuízos da água parada. Novamente, o videocase é dirigido pela dupla 2Vilão, com premiação em Cannes Lions.
Campanhas globais para TikTok, Netflix e Shell também fazem parte da trajetória da dupla e formam o portfólio dos diretores ao lado de artistas com videoclipes e outros formatos musicais.
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