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Comunicadora empodera mulheres pretas que empreendem em Salvador

Inspirar empreendedoras a se movimentar e construir novas histórias é uma honra ancestral, diz Priscila Mércia, relações públicas

5 set 2023 - 05h00
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Na vibrante comunidade da Federação, periferia de Salvador, Priscila Mércia Santos do Nascimento, aos 36 anos, está causando impacto ao empoderar mulheres negras e inspirar mudanças positivas. Sua formação em Relações Públicas é a base de uma jornada repleta de propósito e ação.

A parte principal da trajetória profissional de Priscila começa quando ela ingressa como assistente pedagógica no Aceleração com Elas, do Acelera Iaô – Programa de Afroempreendedorismo. A iniciativa fomenta o trabalho de empreendimentos negros baianos com apoio, qualificação e aceleração de negócios criativos.

No primeiro ano de atuação, “ficou perceptível que mais de 80% do público atendido eram de mulheres negras e periféricas. A partir daí, vem a necessidade não só de fazer uma formação específica, como também de inseri-las nas novas narrativas de mercado, e a que mais se destaca é a digital”.

A relações públicas Priscila Mércia atua para profissionalizar o empreendedorismo de mulheres pretas das periferias de Salvador
A relações públicas Priscila Mércia atua para profissionalizar o empreendedorismo de mulheres pretas das periferias de Salvador
Foto: Cleomario Alves

Começa o desenvolvimento de uma trilha de formação em gastronomia, influência digital e podcast que “brilhou os olhos e me trouxe a possibilidade de executar uma mudança real na vida de várias mulheres pretas e periféricas”, conta Priscila.

Durante a pandemia, formação online

A abordagem online é componente vital da empreitada, estratégia mobilizada sobretudo na pandemia de coronavírus. Priscila aproveitou as redes sociais para compartilhar conhecimento em transmissões ao vivo, contando suas próprias lutas como mulher negra e empreendedora, abordando relação com dinheiro e precificação.

A relações públicas cita pesquisa do Sebrae e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), segundo a qual mulheres demonstram maior competência em implantar programas de inovação em seus negócios e que a reabertura das empresas pós-pandemia está sendo realizada mais rapidamente por elas.

Feira Iaô Junino, realizada no shopping da Bahia com empreendedoras negras das periferias de Salvador
Feira Iaô Junino, realizada no shopping da Bahia com empreendedoras negras das periferias de Salvador
Foto: Divulgação

Dados de agosto de 2022 mostram que 71% das mulheres usam redes sociais e aplicativos para vender produtos, enquanto o percentual de homens é de 63%. Elas também realizam mais vendas online, 34% contra 29%.

Deusa Chic no caminho do crescimento

Uma dessas mulheres é a empreendedora Marcela Santos, moradora de Nova Brasília de Itapuã, periferia de Salvador. Empreendendo desde 2015, Marcela, mais conhecida como Deusa Chic, acredita que o programa Acelera Iaô mudou sua perspectiva. Ela vem crescendo na área de turbantes, bolsas, acessórios e reformas de roupa.

“Quero continuar no caminho. Muitas oportunidades surgiram, além das conexões que fiz e estou fazendo. Realizei sessão de fotos, foi criado material para minha marca, como cartão de visitas, adesivos, papel timbrado”, enumera.

Marcela Santos, a Deusa Chic, vem crescendo na área de turbantes, bolsas, acessórios e reformas de roupa em Salvador
Marcela Santos, a Deusa Chic, vem crescendo na área de turbantes, bolsas, acessórios e reformas de roupa em Salvador
Foto: Cleomario Alves

Segundo a baiana, “para nós que somos afroempreendedoras, é uma oportunidade de potencializar o trabalho, nossas marcas e fortalecimento do black money”.

Desafio de empreendedoras negras na Bahia

No contexto baiano, existem desafios históricos para as empreendedoras negras. “Salvador é a primeira capital do Brasil. Tudo começa aqui, inclusive a colonização e a catequização. Esse processo distorceu a relação com o dinheiro, trouxe muito forte a ideia de que dar é melhor que receber, de que dinheiro é sujo e de que os puros de coração não têm ambição”, critica Priscila.

Entre os impedimentos que precisam ser superados, há limitações em estabelecer preços e a cultura de relações afetivas. O atendimento é acolhedor, o relacionamento com o cliente é intimista, mas “isso causa, em muitos casos, um conflito de interesse no inconsciente das empreendedoras”, explica a relações públicas.

Reunião com as empreendedoras do programa Aceleração Com Elas, de Salvador. Objetivo é impulsionar negócios de mulheres pretas
Reunião com as empreendedoras do programa Aceleração Com Elas, de Salvador. Objetivo é impulsionar negócios de mulheres pretas
Foto: Cleomario Alves

O trabalho de Priscila é enfrentar e descontruir noções arraigadas que impedem o avanço de negócios de mulheres pretas. E ela está conseguindo, colaborando com a comunidade em direção a um futuro capacitado e justo.

Colheita dos ancestrais e as próximas gerações

Filha dos professores Carlos Lomanto e Uilza Santos, Priscila Mércia cresceu em uma família envolvida com militância negra e social. Seu pai foi ativista e sindicalista e sua mãe, empreendedora em constante atualização.

Aos 19 anos, Priscila teve o primeiro contato com a comunicação profissional, através de uma formação para jovens. Veio a graduação em Relações Públicas, com bolsa em universidade privada. Seu trabalho acadêmico analisou discursos de identidade racial.

Durante a formação, teve contato com o terceiro setor, entre adolescentes do subúrbio de Salvador. Com 12 anos de formada, transitou entre empreendimentos próprios, setor público e privado.

Oficina Corpo Fala para mulheres empreendedoras das periferias de Salvador. Profissionalização quebra barreiras históricas
Oficina Corpo Fala para mulheres empreendedoras das periferias de Salvador. Profissionalização quebra barreiras históricas
Foto: Cleomario Alves

Relação entre maternidade e empreendedorismo

“Aos 30 anos, decidi ser mãe e, mais do que nunca, isso me conectou com a necessidade de mudança social, no comprometimento da construção de uma sociedade mais acolhedora para minha filha Diara Akinlana.”

Após empreender em áreas como gastronomia, moda, doces e artesanato, teve dificuldade em fazer eventos comemorativos para a filha, por falta de representatividade. “Então começo a trabalhar com a construção de personagens negros para festas infantis e maternidade.”

Sobre seu trabalho atual, ela entende o ciclo do qual participa. “A mulher preta é a minha causa. Inspirar mulheres a se movimentar e construir novas histórias é uma honra. Eu vivo a colheita dos meus ancestrais e as próximas gerações viveram a nossa”, finaliza.

ANF
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