Cobertor vira sobretudo, travesseiro e bag para pessoas em situação de rua em SP
O clássico cobertor cinza é transformado em uma roupa versátil que dignifica quem sente frio, além de ser estilosíssima
Projeto começou na pandemia, na zona leste de São Paulo, a partir do ponto de cultura São Mateus em Movimento. Neste ano, campanha pretende doar mil peças até o final do inverno.
Fernando Carvalho, o Negotinho, 45 anos, é cria da cultura hip hop e de São Mateus, zona leste de São Paulo. Para “materializar o rap”, está transformando os típicos cobertores de quem vive na rua em estilosos sobretudos, que viram travesseiro e bag. Até o final do inverno, quer doar mil peças.
Pouco antes da pandemia, Negotinho vinha do centro de São Paulo para casa e viu cobertores jogados. Veio a ideia: por que não os transformar em sobretudos? Foi fácil juntar as possibilidades, começando em casa, que é um ponto de cultura, o São Mateus em Movimento, atuante há 18 anos.
Negotinho é proprietário, desde 2011, da marca de roupas com o nome da mãe – Dona Vera Vest – e o hip hop havia ensinado que “rap é compromisso, não é viagem”, conforme cantou o rapper Sabotage.
Transformando cobertores de guerra em sobretudos
O incômodo de ver pessoas em situação de rua tratadas com descaso provocou Negotinho a pensar em “alguma coisa que faça essas pessoas serem tratadas de igual para igual. Entrar em um mercado com sobretudo é bem diferente do que com um cobertor nas costas”.
Ele os chama de “cobertores de guerra”, transformados em sobretudos, que, dobrados, viram bag e travesseiro. Quando a iniciativa começou, teve apoio de artistas como o ator Fernando Macario e o grupo de rap De Menos Crime. Até o início do ano, Negotinho calcula ter doado 800 peças.
A meta para este inverno é doar mais mil sobretudos-bags-travesseiros. Para isto, faz campanha de arrecadação na internet. Os sobretudos são encaminhados a pessoas e projetos que atuam com a população de rua, como o padre Júlio Lancellotti.
Não basta aquecer, tem que dignificar
Quando consegue cobertores de cores diferentes, Negotinho faz sobretudos coloridos para facilitar a identificação de quem usa à noite. Tem buscado cobertores impermeáveis que “são bons porque dá pra segurar uma garoa fina”.
Também pensa em uma linha infantil e peças para pets, pois quem vive em situação de rua tem animais de estimação, que geralmente cuidam com muito carinho. As doações não param.
“Doar, não; a gente chama de presentear”, corrige. “A gente fala presentear porque é mais digno, a pessoa se sente mais feliz”. Em tempo: o nome do projeto é “Sobre tudo, sobre vidas”. A sensibilidade do mano não tem limites.
Serviço
A campanha de arrecadação de fundos para produção de mil sobretudos está no ar até o final do mês de julho neste link.