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Brinquedo tradicional é o que mais vende no Círio de Nazaré

Data simbólica da religiosidade popular é quando os artesãos de Abaetetuba mais vendem brinquedos de miriti no Pará

9 out 2023 - 05h00
(atualizado em 19/10/2023 às 10h44)
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Obra Homenzinhos, do artesão Ricardo Andrade. Moradores de Abaetetuba mantém e transformam a tradição de brinquedos feitos de miriti
Obra Homenzinhos, do artesão Ricardo Andrade. Moradores de Abaetetuba mantém e transformam a tradição de brinquedos feitos de miriti
Foto: MiritiArte

A comemoração religiosa mais importante do Pará e uma das maiores do país, o Círio de Nazaré, celebrado em Belém, é a maior oportunidade do ano para vender o tradicional brinquedo de miriti, produzido principalmente pelos artesãos de Abaetetuba, cidade localizada a 50 quilômetros da capital paraense, o principal centro desta cultura criativa e empreendedora.

O miritizeiro é uma palmeira comum na região, mais presente no interior. Usada para fazer de cestos a rabiolas de pipa, tem aspecto de esponja, espécie de isopor natural. Os brinquedos produzidos com o miolo do miriti, leve e poroso, são patrimônio cultural do estado, imaterial do Brasil e um ícone do Círio de Nazaré.

Os dois dias mais rentáveis de venda dos brinquedos são hoje, no Círio de Nazaré, e na MiritiFest, em Abaetetuba, em maio – neste ano, um cartão emitido pela prefeitura financiou R$ 70,00 a cada criança de creche para comprar brinquedos de miriti.

A produção é realizada em família ou individualmente. “Passei a conviver com muitos produtores para aprender como eles trabalhavam e o que fazia parte do seu cotidiano. O brinquedo popular entrou na minha vida fortemente”, recorda o professor e artesão Ricardo Andrade.

Artesãos do Brinquedo de Miriti em Abaetetuba, centro da produção de brinquedos de miriti, a 50 quilômetros de Belém, no Pará
Artesãos do Brinquedo de Miriti em Abaetetuba, centro da produção de brinquedos de miriti, a 50 quilômetros de Belém, no Pará
Foto: MiritiArte

Antônio de Souza, o Toninho, preside a Associação dos Artesãos e Produtores do Artesanato de Miriti, que reúne 28 produtores, divididos em sete núcleos familiares. Neste ano, a prefeitura de Abaetetuba cadastrou 30 homens e dez mulheres que fazem brinquedos de miriti – pequenos animais, barquinhos, esculturas.

Nesta entrevista ao Visão do Corre, Toninho detalha o processo de trabalho desde a produção, passando pela logística, volume de peças e os valores para que as artesãs e artesãos cheguem hoje a Belém, no Círio de Nazaré, para o principal dia de vendas de brinquedos de miriti.

Toninho em seu ateliê, em plena produção, na cidade de Abaetetuba, no Pará. No Círio de Nazaré, vendas batem recorde
Toninho em seu ateliê, em plena produção, na cidade de Abaetetuba, no Pará. No Círio de Nazaré, vendas batem recorde
Foto: Arquivo pessoal

Quantas associações de artesãos existem em Abaetetuba?

São quatro, mas muitos artesãos não participam de associação. No Círio, se cadastram para a festa e vão para Belém. Hoje, nós temos empresários, somos microempreendedores. 

O que falta para formalizar mais gente? 

Colocar a prefeitura para mapear todos os artesãos, são poucos formalizados, os mais antigos não se preocupam muito. Precisa de acesso à linhas de crédito. Existe o cheque para moradia, né? Poderia ser inventado um cheque ateliê, para ajudar o artesão.

Vocês têm inovado a produção de brinquedos?

A gente fez muitos cursos, nos apresentaram outros produtos que evoluíram, a textura, o acabamento do brinquedo é muito melhor. Antigamente, se pintava com tintas extraídas da natureza. Hoje, a gente usa com base de água, usa massa corrida, selador, que é um produto aplicado na madeira. Dá um acabamento muito bom na hora de lixar e pintar.

Isso não descaracteriza a arte?

Não, você usa um produto industrializado para dar uma textura de pintura melhor, mas o processo é sempre o mesmo: o artesão vai pintar, esculpir, cortar e lixar à mão. Ainda é o processo manual do artesanato.

Quais são os brinquedos de miriti mais vendidos?

A maioria é tradicional, retrata a vida indígena, ribeirinha, o cotidiano, os barcos, as montarias, pombinhas, tatuzinhos, cobrinhas, isso é um brinquedo tradicional, que está sempre no auge.

Flores e casas são alguns dos objetos produzidos com o miolo seco de palmeira. São os brinquedos de miriti, tradicionais no Pará
Flores e casas são alguns dos objetos produzidos com o miolo seco de palmeira. São os brinquedos de miriti, tradicionais no Pará
Foto: Secretaria de Cultura de Abaetetuba

Vocês vendem mais no Círio? 

A campeã de venda é o Círio. Mas tem artesão formalizado que participa direto de feiras fora do Pará. O seu Miranda, da nossa associação, tem um núcleo com a família, três filhos e a esposa, que pinta muito, é uma fera para dar acabamento nas peças. E o marido sai para as feiras em Pernambuco, Fortaleza, Bahia, Rio, São Paulo. Ele tem uma produção muito grande, admiro o empreendedorismo dele. 

Quanto uma família vende, em média, no Círio?

Varia: tem família que vende cinco mil, outra vende sete mil reais.

Quanto custa o brinquedo de miriti tradicional?

Varia de tamanho. A cobra, por exemplo: tem pequena, grande e média. Tem cobrinha que se mexe para 15 reais, mas também de 70, 80 reais. Brinquedos médios variam entre 25 e 30 reais. Os pequenininhos, miniaturas, custam cinco, quatro reais, peças de dez, oito centímetros. Peças mais produzidas podem chegar a três, cinco mil reais - tenho um colega que fez um barco veleiro, bem antigo, que dava uns três metros, custou cinco mil reais.

Um barco dessas dimensões pode custar cinco mil reais. Brinquedos em miniatura podem sair por cinco reais
Um barco dessas dimensões pode custar cinco mil reais. Brinquedos em miniatura podem sair por cinco reais
Foto: Secretaria de Cultura de Abaetetuba

Qual o preço do miriti?

O cento de miriti bom está saindo em torno de 150 a 200 reais. Uma unidade, às vezes até 2 reais, um pedaço de dois metros e meio.

ANF
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