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Caribe do agreste: conheça Jericoacoara, no Ceará

Do recente passado sem luz, telefone ou TV, a vila cearense ficou apenas com o melhor: o jeito pacato e pitoresco, que não para de encantar brasileiros e gringos

12 jul 2013 - 12h07
(atualizado às 13h46)
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As jangadas não colorem mais o mar ao amanhecer. Elas foram aposentadas por pescadores que agora andam de moto e são donos de pousadas. A energia elétrica chegou 14 anos atrás, e mesmo internet e sinal de celular tornaram-se banais. Mudanças e modernidades à parte, os moradores de Jericoacoara, no litoral cearense, são categóricos: o lugar, a 310 km de Fortaleza, ainda é uma vila pacata e pitoresca, sim, senhor.

Pode não ser mais o típico vilarejo nordestino de pescadores dos anos de 1980, um lugar “sem dinheiro, porque tudo era na base da troca, e sem saída, porque atravessar o mar bravo em barco sem motor não é coisa pouca”, como recorda dona Isabel, de 67 anos. A moradora, nascida e criada ali, lembra ainda que água quente, luz, carro, telefone e TV, comodidades habituais na maioria das cidades, só há pouco começaram efetivamente a fazer parte do dia-a-dia de Jeri.

Desse passado simples, quando o turismo local praticamente se resumia aos hippies – ou a quem mais topasse viajar de barco ou no lombo de um cavalo para dormir em redes na casa de nativos, em troca de uma muda de roupa ou de uma lata de leite –, Jericoacoara cultivou apenas o melhor, principalmente o jeitão de vila.

Como um prolongamento das dunas que mantiveram a região isolada por tantos anos, todas as ruas da vizinhança são de areia fofa. Entenda-se por “todas” três vias principais, onde carros não entram e as construções são rústicas e baixinhas, o que mantém a praia o tempo todo à vista. Fachadas de pau a pique, paredes de tijolo e estruturas de tronco de carnaúba dão o tom por ali.

Nas graciosas casinhas, pode-se atacar barcas de sushi generosas no Kaze Sushi Bar (Rua do Forró, s/nº), porções de ceviche de robalo na Cevicheria da Marcela (Beco Doce, s/ nº) ou tapiocas de carne-seca com abóbora e outras invenções nordestinas no charmoso Na Casa Dela (Rua Principal, 20).

Esses e outros restaurantes das mais diversas especialidades sempre estarão a, no máximo, cinco minutos de você: em Jeri, nenhum estabelecimento fica longe do centrinho, e todas as distâncias se traduzem em uma caminhada agradável, geral mente com a vista para o mar.

Os rostos que rapidamente se tornam familiares são outro sintoma do tamanho reduzido da vila. Aqui e lá, é automático rever a pessoa que a tirou para dançar no forró ou reconhecer alguém que estava no mesmo voo em que você chegou a Fortaleza. E bastam dois dias para tornar-se escolado em identificar nativos e estrangeiros, incluindo a vasta comitiva de europeus que um dia vieram passar férias no Ceará e nunca mais voltaram para casa.

Foto: Karin Hoch/ Viaje Mais
Caribe do Agreste

Do alto da Duna do Pôr do Sol veem-se dunas. E depois dessas, outras mais. Um emaranhado de montanhas de areia que dá a dimensão de quão afastado da civilização está Jericoacoara, o que justifica os anos de isolamento da vila.

As lagoas Azul e Paraíso parecem até miragem nesse areal sem fim. Dois lados de uma mesma lagoa que forma um número 8, elas guardam quilômetros de praias de areia branca feito açúcar e água da cor que seus nomes sugerem.

Nesse Caribe do agreste, a 8 km da vila, a única obrigação do turista é assistir ao dia passar do conforto de redes instaladas dentro d’água. De preferência, com intervalos para vasculhar o cardápio oferecido pelos quiosques pé na areia.

Inúmeros restaurantes sucedem nas margens da lagoa, embora os mais interessados no silêncio do que na comida facilmente encontrem praias vazias. Cada estabelecimento mantém o próprio “redário aquático”, e os cardápios, em geral, são abastecidos por pratos à base de frutos do mar. O espaço Lagoon, um dos bons pontos de apoio para aproveitar a Lagoa Paraíso, serve um delicioso camarão no abacaxi ao leite de coco (R$ 70, para duas pessoas) e mantém tendas individuais com teto de palha, cadeiras e espreguiçadeiras de madeira.

A Lagoa da Torta bem que tenta, mas parece francamente sem-graça de pois de uma manhã em banho-maria na imensidão azul-turquesa de suas concorrentes. E mesmo assim, é parada obrigatória para qualquer um que se hospede em Jericoacoara e arredores.

Os 30 km que separam a vila da lagoa cinzenta e cercada de redários são uma sequência de paisagens de beleza árida. Praias habitadas por jegues, carcarás e ninguém mais, areais onde só carnaúbas solitárias resistem ao sol inclemente e dunas moldadas pelo vento compõem o cenário. A Lagoa da Torta, logo fica claro, é apenas a última parada de um tour em que o ponto alto é justamente a estrada.

Esse trecho foi retirado da revista Viaje Mais, seção Brasil, edição 142.

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