Script = https://s1.trrsf.com/update-1765905308/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Seres humanos são 66% monogâmicos, diz estudo; veja ranking com outras espécies

Pesquisa usa dados genéticos e arqueológicos para estimar a "monogamia reprodutiva" e mostra que, entre mamíferos, humanos estão numa espécie de "primeira divisão"

17 dez 2025 - 16h10
Compartilhar
Exibir comentários

Relacionamentos monogâmicos é um tema que sempre volta ao debate - seja por curiosidade, por conflitos de relacionamento ou por perguntas antigas sobre "o que é natural". Agora, um novo estudo liderado pelo antropólogo evolucionista Mark Dyble, da Universidade de Cambridge (Reino Unido), acrescenta uma peça interessante a esse quebra-cabeça ao comparar nossos padrões reprodutivos aos de outras 34 espécies de mamíferos.

Estudo comparou humanos e 34 espécies de mamíferos para descobrir o quanto somos monogâmicos; veja qual foi o resultado
Estudo comparou humanos e 34 espécies de mamíferos para descobrir o quanto somos monogâmicos; veja qual foi o resultado
Foto: Reprodução: Canva/ppnmm / Bons Fluidos

Publicada na última quarta-feira (10) na revista Proceedings of the Royal Society B, a pesquisa sugere que, do ponto de vista reprodutivo, os humanos estão entre as espécies com taxas mais altas de monogamia - mas com nuances importantes. O levantamento coloca a humanidade em sétimo lugar entre 11 espécies classificadas como socialmente monogâmicas. Assim, há uma estimativa de 66% de irmãos completos (ou seja, irmãos que compartilham pai e mãe).

Como o estudo "mede" monogamia no mundo real

Em vez de perguntar sobre costumes ou usar apenas descrições comportamentais, os pesquisadores adotaram um caminho mais direto. Observar, na prática, como as famílias se formam ao longo do tempo. A lógica é simples. Quando existe mais exclusividade reprodutiva, é mais provável encontrar irmãos com os mesmos dois pais. Em sistemas com mais parceiros, aumentam os meio-irmãos.

"Espécies com níveis mais altos de monogamia tendem a produzir mais irmãos que compartilham ambos os pais", explica Dyble, em comunicado. "Enquanto isso, aquelas com sistemas mais poligínicos ou promíscuos tendem a gerar números maiores de meio-irmãos."

Para fazer essa comparação, o autor criou um modelo computacional que cruzou dados genéticos recentes com estratégias reprodutivas já conhecidas. No caso humano, ele combinou informações de sítios arqueológicos com dados etnográficos de sociedades atuais. Ao todo, foram analisadas 103 populações de diferentes períodos, ao longo de cerca de 7 mil anos.

O que os números dizem sobre nós

O resultado geral chamou atenção por colocar os humanos numa faixa bem acima da maioria dos mamíferos não monogâmicos. "Existe uma elite da monogamia, na qual os humanos se encaixam confortavelmente. A grande maioria dos outros mamíferos adota uma abordagem muito mais promíscua em relação ao acasalamento", afirma Dyble.

E aqui entra uma sutileza importante: o estudo reconhece que as regras de casamento e de relacionamento variam muito entre culturas - e a antropologia já descreveu que uma grande parte de sociedades pré-industriais aceitava a poligamia. Mesmo assim, olhando para o "resultado final" em termos de filiação (irmãos completos vs. meio-irmãos), a monogamia reprodutiva aparece como predominante.

"Há uma enorme diversidade intercultural nas práticas de acasalamento e casamento entre humanos, mas mesmo os extremos desse espectro ainda estão acima do que vemos na maioria das espécies não monogâmicas", destaca o pesquisador.

Humanos, castores e suricatos: parecidos, mas nem tanto

Na "tabela" do estudo, humanos (66%) ficam próximos de espécies como: suricato (60%), gibão-de-mãos-branca (63,5%) e castor (73%). Essa proximidade, porém, não significa que vivemos como esses animais. O próprio Dyble reforça que nossos sistemas sociais são muito diferentes: "Quase todos os outros mamíferos monogâmicos vivem em núcleos familiares coesos, compostos apenas por um casal reprodutor e seus filhotes, ou em grupos onde apenas uma fêmea se reproduz".

Já entre humanos, é comum a existência de grupos sociais mais amplos e estáveis, com múltiplos adultos monogâmicos e várias mulheres tendo filhos dentro da mesma rede. Segundo o estudo, um dos poucos mamíferos com organização relativamente semelhante seria a mara-da-patagônia, um roedor que vive em tocas com vários casais de longa duração.

E os outros primatas? O contraste é forte

Se a comparação for com nossos parentes evolutivos mais próximos, a diferença é grande. Em muitos primatas, predominam sistemas poligínicos (um macho com várias fêmeas) ou poliginândricos (múltiplos parceiros para ambos). Os números citados no texto são bem baixos para chimpanzés (4%), gorilas-das-montanhas (6%), além de várias espécies de macacos com índices ainda menores.

Isso ajuda a sustentar a ideia de que humanos monogâmicos pode ter surgido como uma transição rara no mundo dos mamíferos. "Com base nos padrões de acasalamento de nossos parentes vivos mais próximos, como chimpanzés e gorilas, a monogamia humana provavelmente evoluiu a partir da vida em grupo não monogâmica. Essa parece ser uma transição bastante incomum entre os mamíferos", aponta o professor de Cambridge.

Por que isso importaria para a evolução humana?

Uma hipótese discutida no estudo (e em análises sobre o tema) é que vínculos mais estáveis podem ter favorecido o cuidado cooperativo. Isso é quando não só pai e mãe investem na prole, mas também outros membros do grupo. Esse tipo de apoio tende a ser mais frequente em espécies monogâmicas e pode ter sido crucial para redes familiares maiores, cooperação em larga escala e sociedades mais complexas.

Monogamia reprodutiva não é igual a monogamia sexual

Por fim, o próprio Dyble chama atenção para um ponto essencial: o estudo mede monogamia reprodutiva, não comportamento sexual. Em humanos, cultura, contracepção e organização social podem separar sexo de reprodução como acontece em poucos mamíferos.

No fim, a conclusão fica menos moral e mais interessante: comparados ao restante dos mamíferos, somos, sim, relativamente monogâmicos - mas do nosso próprio jeito, dentro de redes sociais amplas, regras culturais diversas e estratégias afetivas que não cabem numa única definição.

Bons Fluidos
Compartilhar
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade