Síndrome da transfusão feto-fetal: entenda doença que acabou com a morte do filho de Clara Maia
A influenciadora digital deu à luz com 27 semanas de gestação, e um dos bebês não sobreviveu
A ex-participante do Power Couple Clara Maia deu à luz aos filhos gêmeos, frutos do casamento com André Coelho, com apenas 27 semanas de gestação porque os bebês foram diagnosticados com síndrome da transfusão feto-fetal aguda. Túlio não sobreviveu, e Theo está internado na UTI neonatal.
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A síndrome da transfusão feto-fetal aguda é uma complicação que ocorre de 10% a 15% das gestações de gêmeos idênticos, que compartilham a mesma placenta. Ela ocorre quando há a troca desigual de sangue entre os bebês por meio de conexões nos vasos sanguíneos da placenta. O bebê chamado de receptor recebe mais sangue, e o chamado de doador recebe menos, o que causa complicações para ambos os fetos.
A síndrome aguda, como a que os filhos de Clara Maia tiveram, é considerada uma forma mais rara e súbita dessa síndrome. "Pode acontecer de repente, geralmente no final da gravidez ou até durante o parto. Nessa situação, um bebê perde sangue rapidamente para o outro. Isso pode causar diferenças grandes no sangue dos dois ao nascer, exigindo cuidados imediatos da equipe de neonatologia", explica a ginecologista obstetra da Rede Casa Rafaela Brito.
Em caso de síndrome da transfusão feto-fetal, ambos os fetos sofrem, mas de maneiras diferentes. O bebê doador pode sofrer com a falta de sangue e nutrientes, ficando menor. Já o receptor pode ter sangue em excesso, o que sobrecarrega o coração. No caso de Clara, Túlio era o receptor e não sobreviveu devido ao coração sobrecarregado pelo excesso de sangue. Theo era o doador e nasceu menor que o irmão, com apenas 680 gramas.
Diagnóstico
Segundo a obstetra, o diagnóstico da síndrome é feito pelos exames de ultrassom, que mostram um bebê com muito líquido na bolsa, e outro com pouco e também uma diferença de tamanho entre eles. "Por isso, em gestações de gêmeos que compartilham a placenta, recomenda-se fazer ultrassons frequentes, geralmente a cada duas semanas, a partir da 16ª semana de gestação."
O principal tratamento nesses casos é uma cirurgia a laser que interrompe as conexões vasculares anormais na placenta, mas Clara não teve tempo de passar por esse procedimento. "Isso aumenta muito as chances de sobrevivência dos bebês. Em casos mais leves, pode-se apenas acompanhar de perto com ultrassom. Em alguns lugares, quando o laser não está disponível, pode ser feita a retirada de parte do líquido em excesso da bolsa do bebê receptor para aliviar os sintomas, mas isso é uma medida temporária", diz Rafaela Brito.
Parto
A pediatra Patrícia Consorte explica que a síndrome da transfusão feto-fetal está frequentemente associada a partos prematuros, inclusive em idades gestacionais precoces, como foi o caso de Clara Maia. Os partos prematuros muitas vezes são feitos para preservar a vida dos bebês.
A médica analisa que, nesses casos, os riscos para a gestantes são menores. "O excesso de líquido amniótico no saco do bebê receptor pode levar a um aumento do volume uterino, provocando desconforto, dificuldade respiratória e até risco de parto prematuro. Por isso, a gestante também deve ser acompanhada de perto."
Prematuridade
A ex-participante do Power Couple deu à luz com apenas 27 semanas de gestação. Por isso, Theo é considerado prematuro extremo. A coordenadora-geral da pediatria da Rede Casa, Caroline Andrade, categoriza os prematuros extremos como bebês que ainda não completaram o desenvolvimento de órgãos fundamentais, como pulmões, intestino, pele e sistema imunológico.
"Por isso, ele precisa de internação imediata em UTI neonatal. Os principais cuidados incluem: suporte respiratório, já que os pulmões ainda não estão prontos para respirar sozinhos; controle rigoroso da temperatura, pois o bebê perde calor com facilidade; nutrição especial, muitas vezes iniciada por via intravenosa, até que seja possível usar o leite materno – considerado essencial para reduzir complicações –; monitorização contínua da respiração, batimentos cardíacos, pressão arterial e oxigenação; prevenção de infecções, já que a imunidade ainda é muito imatura. Além disso, a equipe multiprofissional (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos) atua de forma integrada para garantir não apenas a sobrevivência, mas também o melhor desenvolvimento possível desse bebê", diz a médica.
Ainda não é possível prever quais cuidados Theo vai precisar para sobreviver. Muitos bebês nascidos em prematuridade extrema podem completar o desenvolvimento sem a necessidade de cirurgias, mas, geralmente, elas são necessárias. "Alguns necessitam de cirurgia para fechamento do canal arterial, correção de complicações intestinais como enterocolite necrosante ou tratamento oftalmológico para retinopatia da prematuridade."
"Muitos bebês com 28 semanas conseguem evoluir apenas com suporte clínico, mas alguns precisam de procedimentos mais invasivos, como ventilação mecânica, cateteres para medicação e nutrição, ou transfusões de sangue. Em alguns casos, complicações como problemas no intestino podem exigir cirurgia. Cada bebê é diferente, e os cuidados são sempre adaptados à necessidade dele", complementa a obstetra Rafaela Brito.