Saiba que é a dieta do grupo sanguíneo
A dieta do grupo sanguíneo ganhou espaço nos últimos anos como uma proposta de alimentação personalizada de acordo com o tipo de sangue de cada pessoa. Saiba detalhes e o que diz a ciência.
A dieta do grupo sanguíneo ganhou espaço nos últimos anos como uma proposta de alimentação personalizada de acordo com o tipo de sangue de cada pessoa. Assim, a ideia central é que indivíduos com sangue A, B, AB ou O reagiriam de forma diferente a determinados alimentos. Por essa ótica, isso influenciaria peso, disposição e até alguns problemas de saúde. Esse modelo alimentar é apresentado como uma maneira de organizar o cardápio diário, escolhendo o que seria mais "compatível" com o organismo segundo o grupo sanguíneo.
Apesar de ser popular em redes sociais e em alguns consultórios, a dieta do tipo sanguíneo ainda desperta dúvidas sobre sua base científica e sobre como deve ser aplicada. Muitas pessoas escutam recomendações prontas, mas não entendem de onde surgiram as listas de alimentos liberados ou restritos. Por isso, antes de adotá-la, é importante compreender como esse método surgiu, o que propõe e quais cuidados podem ser necessários.
O que é a dieta do grupo sanguíneo e como surgiu?
A dieta do grupo sanguíneo surgiu na década de 1990 e ganhou fama a partir da proposta de que o desenvolvimento dos tipos A, B, AB e O ocorreram em momentos diferentes da história humana. A partir dessa hipótese, o criador associou cada tipo de sangue a um estilo de alimentação "mais adequado". Dessa forma, o grupo O foi ligado a hábitos de caçadores, com maior ingestão de carnes. Já o grupo A, a sociedades agrícolas, com mais grãos e vegetais e o grupo B, a populações nômades, com destaque para laticínios. Por fim, o grupo AB, a uma combinação das orientações dos grupos A e B.
Esse raciocínio levou à construção de tabelas de alimentos em uma lista como "benéficos", "neutros" ou "a evitar" para cada tipo de sangue. Ademais, a proposta também se baseia na ação das lectinas. Trata-se de proteínas presentes em alguns alimentos que poderiam, em tese, interagir de maneira diferente com os glóbulos vermelhos de cada grupo sanguíneo. Dessa forma, o cardápio seria montado procurando reduzir possíveis reações entre lectinas e células sanguíneas.
Quais são as recomendações para cada tipo de sangue?
Na prática, a dieta do grupo sanguíneo funciona como um roteiro de alimentos indicados ou restritos. Embora detalhes possam variar conforme a fonte, algumas diretrizes costumam se repetir. De forma geral, o padrão é o seguinte:
- Tipo O: maior consumo de carnes magras, peixes e alguns vegetais; limitação de laticínios, trigo e certos grãos.
- Tipo A: incentivo a uma alimentação mais próxima do vegetarismo, com foco em legumes, frutas, grãos integrais e leguminosas; moderação no consumo de carnes vermelhas.
- Tipo B: inclusão de laticínios, carnes e vegetais variados; restrição a alguns grãos, como trigo e milho, e a certos alimentos industrializados.
- Tipo AB: combinação de recomendações dos grupos A e B, com ênfase em vegetais, frutos do mar, alguns laticínios e redução de carnes muito gordurosas.
Ainda que essas orientações sejam amplas, cada linha de material sobre o tema costuma apresentar listas detalhadas com alimentos apontados como mais adequados para cada grupo. Em muitos casos, essa personalização é apresentada como forma de facilitar o emagrecimento, reduzir desconfortos digestivos e organizar melhor as refeições ao longo do dia.
A dieta do grupo sanguíneo funciona mesmo?
Quando se discute se a dieta do grupo sanguíneo funciona, o ponto central costuma ser a presença ou não de comprovação científica sólida. Até 2025, estudos conduzidos em diferentes países avaliaram a relação entre tipo sanguíneo, padrões alimentares e indicadores de saúde, como colesterol, glicemia e peso corporal. De forma recorrente, esses trabalhos não identificaram benefícios específicos diretamente ligados à combinação entre alimentação e grupo sanguíneo.
Em muitos casos, pessoas que seguem a dieta do tipo sanguíneo relatam perda de peso ou melhora de alguns exames. Isso, entretanto, tende a estar associado a mudanças gerais de hábitos, como redução de alimentos ultraprocessados, aumento da ingestão de frutas e hortaliças e controle de porções. Ou seja, o impacto positivo costuma vir da adoção de um padrão alimentar mais organizado e equilibrado, e não necessariamente do ajuste fino baseado no grupo sanguíneo.
Pesquisas revisadas por equipes independentes têm apontado que, até o momento, não há evidência robusta de que o tipo de sangue determine quais alimentos seriam ideais para cada indivíduo. Assim, a dieta baseada no grupo sanguíneo é vista, por grande parte da comunidade científica, como uma hipótese ainda não confirmada, que requer mais estudos controlados e de longo prazo.
Quais cuidados são importantes ao considerar esse tipo de dieta?
Ao pensar em seguir a dieta do grupo sanguíneo, alguns cuidados costumam ser relevantes. Em primeiro lugar, certas versões do plano alimentar podem excluir grupos importantes de alimentos, como laticínios, leguminosas ou grãos integrais, sem avaliar o contexto de saúde da pessoa. Restrições sem acompanhamento profissional podem levar a deficiências de nutrientes, como cálcio, ferro ou vitaminas do complexo B.
Além disso, o foco exclusivo no tipo sanguíneo ignora fatores reconhecidos na nutrição moderna, como nível de atividade física, condições clínicas pré-existentes, uso de medicamentos, faixa etária e preferências culturais. Um adulto com diabetes, por exemplo, pode precisar de ajustes alimentares diferentes de alguém sem esse diagnóstico, independentemente do grupo sanguíneo. O mesmo vale para gestantes, idosos ou pessoas em tratamento de doenças crônicas.
De forma prática, ao avaliar qualquer plano alimentar, alguns pontos costumam ser considerados essenciais:
- Adequação nutricional: presença equilibrada de carboidratos, proteínas, gorduras de qualidade, vitaminas e minerais.
- Flexibilidade: possibilidade de adaptações conforme rotina, cultura alimentar e acesso a alimentos.
- Sustentabilidade a longo prazo: capacidade de manter o padrão alimentar sem causar desgaste físico ou social.
- Acompanhamento profissional: supervisão de nutricionista ou médico para analisar exames e ajustar o cardápio.
A dieta do grupo sanguíneo pode ter algum papel na rotina alimentar?
Mesmo sem confirmação científica específica, algumas pessoas utilizam a dieta do grupo sanguíneo como ponto de partida para organizar as refeições. Em certos casos, o método serve como estímulo para ler rótulos, cozinhar mais em casa e prestar atenção às respostas do próprio corpo a determinados alimentos. Esses movimentos costumam favorecer escolhas mais planejadas e menos impulsivas.
Para quem se interessa pelo tema, uma abordagem comum é encarar a dieta do tipo sanguíneo como um roteiro entre vários possíveis, e não como única alternativa. O cardápio pode ser adaptado, incorporando princípios da alimentação balanceada reconhecida por estudos atuais, como maior consumo de vegetais, frutas, leguminosas, grãos integrais e fontes de gordura insaturada.
Ao final, o tipo de sangue é apenas um dos muitos elementos do organismo humano. A construção de um plano alimentar tende a ser mais consistente quando considera o conjunto: histórico de saúde, exames atualizados, rotina de trabalho, sono, prática de atividade física e preferências individuais. Dentro desse cenário mais amplo, a dieta do grupo sanguíneo pode ser analisada com calma, ajustada quando necessário e sempre avaliada à luz das evidências disponíveis.