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OMS vê avanço ‘explosivo’ do zika vírus

28 jan 2016 - 11h16
(atualizado às 11h58)
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Amostras do zika coletadas no Brasil estão em um laboratório de alta segurança em Galveston, no Texas
Amostras do zika coletadas no Brasil estão em um laboratório de alta segurança em Galveston, no Texas
Foto: BBC / BBC News Brasil

A Organização Mundial de Saúde (OMS) decidiu convocar um comitê de emergência para enfrentar o surto de zika que já atingiu vários países e foi considerado "explosivo" pela organização.

"O nível de preocupação é alto assim como o nível de incerteza. Os questionamentos são muitos. Precisamos de respostas rapidamente", disse em um discurso em Genebra nesta quinta-feira a diretora-geral da organização, Margaret Chan.

"O explosivo avanço do zika vírus a novas áreas geográficas, onde a população tem baixa imunidade, é outro motivo de preocupação, especialmente diante do possível elo entre a infecção durante a gravidez e o nascimento de bebês com microcefalia."

A organização, ao contrário do governo brasileiro, não estabelece como certa a relação entre o vírus e a microcefalia.

"Ainda que o elo causal entre a infecção pela zika durante a gravidez e a microcefalia não tenha sido - e enfatizo isso - estabelecido, as evidências circunstanciais são sugestivas e extremamente preocupantes. Um aumento da ocorrência de sintomas neurológicos, notados em alguns países em coincidência com a chegada do vírus, aumentam a preocupação", prosseguiu Chan.

"Por todas estas razões, decidi convocar um Comitê de Emergência de acordo com as Regulamentações Internacionais de Saúde. O comitê vai se reunir em Genebra na segunda-feira, 1º de fevereiro."

"Pedirei ao comitê aconselhamento sobre o nível apropriado de preocupação internacional e sobre medidas recomendadas que devem ser tomadas em países afetados (pelo zika vírus) e em outros lugares. Também pedirei ao comitê que priorize áreas nas quais as pesquisas (a respeito da doença) são necessárias com mais urgência", acrescentou Chan.

Pouco antes do pronunciamento de diretora-geral da organização em Genebra, cientistas americanos já tinham pedido à OMS medidas urgentes contra o zika que, segundo eles, têm um "potencial pandêmico explosivo".

Em um artigo publicado em uma revista médica eles citam as "lições aprendidas com a epidemia de ebola" para solicitar a convocação de um comitê de emergência reunindo especialistas na doença.

Escrevendo na revista Journal of the American Medical Association, Daniel Lucey e Lawrence Gostin afirmaram que o fato de a OMS não ter tomado providências logo no início da crise do ebola na África - há dois anos - provavelmente custou milhares de vidas.

Os pesquisadores dizem que a OMS "ainda não assumiu um papel de liderança na pandemia de zika", apesar de "as dimensões globais da zika estarem claras e de urgência renovada com a aproximação dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro".

"Um Comitê de Emergência deve ser convocado urgentemente para aconselhar a diretora-geral (da OMS) a respeito das condições gerais necessárias para declarar uma Emergência Pública de Saúde de Preocupação Internacional", escreveram Lucey e Gostin.

"O próprio processo de convocar este comitê catalisará a atenção internacional, verbas e pesquisa", acrescentaram.

O porta-voz da Casa Branca Josh Earnest afirmou na quarta-feira que o governo dos Estados Unidos quer um esforço mais coordenado para esclarecer os cidadãos americanos sobre os riscos associados à doença.

Vacina

O vírus, que já se espalhou por ao menos 21 países das Américas, foi ligado a microcefalia em bebês, e 3,4 mil casos no Brasil estão sendo investigados pelo Ministério da Saúde. Há, segundo o órgão, 270 casos confirmados da má-formação.

Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

Não há cura para o vírus. A busca por uma vacina já começou e está sendo liderada por cientistas da Universidade do Texas.

Cientistas americanos visitaram o Brasil para coletar amostras e as levaram para análise em um laboratório de alta segurança em Galveston, Texas.

O acesso ao laboratório é restrito, e é monitorado pela polícia e pelo FBI. Falando com a BBC dentro das instalações, Scott Weaver, diretor do Instituto de Infecções Humanas e Imunidade, afirmou que as pessoas estão certas em temer o vírus.

"Com certeza é um risco considerável e se a infecção do feto ocorrer e a microcefalia se desenvolver, não temos a capacidade de alterar o resultado daquilo que é uma doença muito ruim e que, às vezes, é fatal ou deixa crianças incapacitadas mentalmente para o resto da vida", afirmou.

O vírus foi descoberto em macacos em 1947 na Floresta Zika, em Uganda.

O primeiro caso humano foi registrado na Nigéria em 1954, mas, durante décadas, o zika não parecia ser uma grande ameaça e foi praticamente ignorado pela comunidade científica.

Foi apenas depois de um surto na ilha de Yap, na Micronésia, em 2007, que os pesquisadores começaram a se interessar pela doença.

Weaver diz que ano passado o vírus "explodiu", atingindo o Caribe e a América Latina, "provavelmente infectando alguns milhões de pessoas".

Os sintomas em adultos e crianças são parecidos com o da dengue, porém mais suaves: dores pelo corpo parecidas com as que ocorrem em casos de gripe, inflamação nos olhos, dores nas juntas e manchas vermelhas no corpo. Mas algumas pessoas não apresentam sintomas.

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