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Líderes comunitários relatam mortes suspeitas em São Paulo

Há casos de covid-19 em Paraisópolis e Heliópolis, além da região de Brasilândia e Freguesia do Ó

9 abr 2020 - 05h10
(atualizado às 08h40)
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Vista da favela do Paraisópolis, em São Paulo
Vista da favela do Paraisópolis, em São Paulo
Foto: Ronaldo Silva / Futura Press

São Paulo já tem relatos de mortes suspeitas por coronavírus em comunidades, como Paraisópolis e Heliópolis, além da região de Brasilândia e Freguesia do Ó. Com falta de água, de itens de proteção, pouco espaço e perda de emprego, moradores enfrentam dificuldade para se isolar, e lideranças comunitárias buscam alternativas.

Segundo o líder comunitário de Heliópolis José Marcelo da Silva, a comunidade já registrou a morte de uma pessoa com teste positivo para covid-19. "Ele tinha um paredão de som, daqueles carros de som alto, e morava aqui. Faleceu esta semana", diz Silva.

Em sua visão, a principal dificuldade dos moradores para enfrentar o avanço do novo coronavírus é a falta de infraestrutura. "Como você vai manter uma família com oito pessoas em uma casa de cinco metros quadrados? Com idoso, com criança, tudo junto?", questiona.

Em Paraisópolis, o líder comunitário e coordenador nacional da organização G10 das Favelas Gilson Rodrigues afirma que a comunidade já conta com 15 casos confirmados do novo coronavírus, além de mortes suspeitas, e diz que as recomendações do Ministério da Saúde não se encaixam com a realidade do local.

"A favela não tem condição de fazer quarentena. As famílias muitas vezes moram em cômodos pequenos, sem ventilação, e falta água. Álcool em gel e máscara são artigos de luxo na favela. Nossos moradores têm continuado nas ruas, acham que é uma doença de ricos", afirma Rodrigues.

Para driblar a situação, membros da comunidade criaram uma rede de solidariedade, organizada pelo chamado "comitê da favela", e diversas ações foram postas em prática. Moradores voluntários, por exemplo, assumiram a função de presidentes de ruas, responsáveis, entre outras coisas, por chamar atendimento médico quando necessário. A associação de moradores também contratou três ambulâncias para a região, que começaram a atuar há 16 dias.

Segundo o proprietário da empresa que presta o serviço de ambulância, Diego Cabral, sete mortes já ocorreram desde então, sendo quatro delas com sintomas de insuficiência respiratória. A mais recente ocorreu na quarta-feira, 8. A vítima, um motorista de ônibus em torno dos 45 anos, está sendo investigada por suspeita de coronavírus, relata Cabral.

Na região da Brasilândia e da Freguesia do Ó, quase 20 óbitos aguardam resultado de teste para a covid-19. A informação é do líder comunitário e representante da associação de moradores na Cachoeirinha e Brasilândia, Henrique Desloste.

"Além disso, tem famílias de baixa renda, com crianças, passando fome na região por conta das dificuldades do coronavírus. Esse é um dos motivos que faz as pessoas saírem de suas casas em busca do pão de cada dia, de continuar trabalhando para pagar suas contas", afirma Desloste.

Questionada sobre a existência de óbitos por coronavírus nessas regiões, a Secretaria Estadual de Saúde afirmou não ter mapeamento de casos e óbitos por bairro, apenas por município.

Já a Secretaria Municipal de Saúde retornou com um documento atualizado no dia 31 de março sobre a situação da epidemia na cidade. Nele, não há registro de óbitos por bairro ou região, mas uma relação de óbitos por hospitais indica que o Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha São Paulo, que atende a região de Brasilândia, entre outras, já conta com uma morte confirmada por coronavírus.

Estadão
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