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Coronavírus

David Uip tem direito a sigilo sobre uso de cloroquina

Infectologista confirmou que a receita de cloroquina atribuída a ele é verdadeira, mas não revelou se usou o medicamento

9 abr 2020 - 05h10
(atualizado às 07h58)
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David Uip, que chefia o Centro de Contingência contra a Covid-19 criado pelo Estado, volta ao trabalho após contrair a covid-19
David Uip, que chefia o Centro de Contingência contra a Covid-19 criado pelo Estado, volta ao trabalho após contrair a covid-19
Foto: Fracisco Cepeda / Estadão Conteúdo

O infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contigência para o novo coronavírus no Estado de São Paulo, agiu de acordo com a ética médica ao não revelar se fez uso da cloroquina para tratar a Covid-19, afirmam médicos ouvidos pelo Estado. Na última quarta-feira, 8, Uip confirmou que a foto que circulou nas redes sociais de uma receita médica de cloroquina atribuída a ele é verdadeira.

Assim como os demais pacientes, Uip tem direito ao sigilo e à privacidade ao não divulgar se utilizou cloroquina em seu tratamento, segundo o infectologista Dirceu Greco, presidente da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB) e professor da faculdade de medicina da UFMG.

"Qualquer pessoa em uma situação como a dele, em um momento em que não há ainda conhecimento técnico-científico e ético do real valor e eficácia desse tratamento, só pode divulgar tal informação quando os dados estiverem disponíveis", disse o professor.

Greco reitera que não há comprovação de que o medicamento funciona o tratamento da Covid-19 e ainda não é possível estabelecer, com segurança, uma relação de "causa e efeito" entre uso da droga e cura da doença. "Situações de emergência não justificam passar por cima de questões bioéticas."

Ex-vice presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM) e hoje um dos conselheiros do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), Jecé Brandão afirma que Uip e todos os 460 mil médicos brasileiros têm o dever de apenas divulgar tratamentos médicos que sejam reconhecidos cientificamente.

"É perfeitamente reconhecível que ele não queira expressar-se publicamente sobre um tratamento que não há nenhuma evidência concreta de que seja vantajoso ao paciente", diz Brandão. Ele lembra que a cloroquina tem efeitos colaterais com potencial grave. "Inclusive, se a pessoa tem qualquer limitação cardíaca, ela pode até perder sua vida." O remédio pode ter também outros efeitos adversos, hepáticos e visuais.

Ele diz que há uma segurança ética de utilização do medicamento em casos graves da Covid-19, com autorização do paciente ou seu representante legal. "Quando os casos evoluem para a forma grave ou crítica parece que já há, apesar de não ter ensaios científicos que provem, um certo consenso em função de esses pacientes estarem em perigo de incorrer morte."

Estadão
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