Jovem identifica câncer após sentir dores 'semelhantes' a gases no peito: 'Médicos falaram que eu podia morrer'
Quase um ano após o início dos sintomas, Beatriz Gabriely conta que chegou a tomar 50 comprimidos por dia
A carioca Beatriz Gabriely de Godoy Felix, 26 anos, descobriu um linfoma não Hodgkin, um tipo de câncer que afeta o sistema linfático, após sentir algumas dores semelhantes a gases no peito.
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Em maio do ano passado, ela e o marido, que trabalham como mentores digitais, se mudaram do Rio de Janeiro, de onde são naturais, para São Paulo em busca de melhores oportunidades profissionais. Beatriz conta que logo nas primeiras semanas na capital paulista sentiu algumas pontadas no peito, mas nada que fosse digno de preocupação. No entanto, como as dores insistiram, resolveu ir ao médico para uma checagem.
“O médico passou um raio-x e viu uma mancha, aí pediu uma tomografia. E ainda era considerado uma mancha, mas ninguém sabia o que era”, contou Beatriz em entrevista ao Terra.
Ela explica que a partir daquele dia, os sintomas começaram a piorar. Logo, começou a apresentar outros sintomas como falta de ar, pois a massa estava comprimindo os pulmões dela, inchaço e, em seus piores dias, até cuspia sangue. De acordo com Beatriz, estava com síndrome da veia cava superior.
“Estava gerando aquele inchaço todo. No meu olho, no meu pescoço, ombro, tudo. E as veias estavam super em relevo. Bem verdona nos meus seios, na barriga, porque essa síndrome comprime a passagem de sangue para a parte superior do corpo, então o sangue não estava subindo facilmente”, explica Beatriz.
Com o caso começando a se agravar, Beatriz realizou várias idas aos hospitais de São Paulo. Em julho, ela foi internada no Hospital das Clínicas, onde passou por uma biópsia e, depois de 15 dias, foi transferida para o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Na unidade, recebeu a informação de que estava com um linfoma não Hodgkin, do tipo difuso de grandes células.
Beatriz relata que soube do diagnóstico por acidente. A médica achava que ela já soubesse do resultado do exame e conversou com ela normalmente, sem prepará-la para a notícia. “Levei um susto. Eu estava sozinha no hospital, não podia acompanhante. Eu não tava acreditando.”
Segundo ela, nos primeiros momentos, não assimilou o que estava acontecendo como algo grave e acreditava que a massa fosse algo benigno, o que não era o caso. “Eu nem imaginava”, relembra.
A mentora conta que ligou para a mãe e o marido, e chorou bastante ao telefone. Até então, sempre foi bastante saudável e não tinha histórico familiar com a doença. Após o diagnóstico, foi levada para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
“Eu não sabia que o meu estado era tão grave. Eu não entendia. Depois que passou do hospital, conversando com o meu marido, eu descobri que os médicos falaram que eu podia morrer, o que eu não sabia. Eu poderia, sim, vir a óbito porque era um caso de muita urgência”, detalhou.
De acordo com ela, a sensação era como se ela “tivesse se machucado”, iria ficar lá tempo suficiente para se curar e depois ir pra casa. “Na minha cabeça, não passou em nenhum momento que eu poderia morrer. Eu sempre mantive a minha fé muito grande”, pontua Beatriz.
Em agosto, ela recebeu alta e conta que teve medo de voltar para casa. Beatriz relata que, após passar tanto tempo no hospital, temeu se conseguiria manter o ritmo dos cuidados. “Fiquei com medo do meu marido e da minha mãe não saberem cuidar de mim. Eu não sentia que minha casa era a minha casa. Era tanto remédio que eu tomava. Acho que eu tava tomando uns 50 comprimidos no dia. Tive uma crise”, revelou.
Cerca de três dias depois, raspou o cabelo. “O médico falou que meu cabelo cairia uns 15 dias depois e eu ainda não acreditava que ia cair. Eu falava: ‘Não, acho que não vai cair, não. Meu corpo é forte”, relembra. “Foi um dia que eu já tava vendo muito cabelo pela casa. Já não tava aguentando mais.”
“Tem um vídeo desse momento. A queda de cabelo não foi tão determinante pra eu ficar triste ou coisa do tipo, mas perder todo o cabelo, ter que raspar, era como se fosse a assinatura de quem eu era: uma paciente oncológica. Eu tô passando por um câncer. É como se a ficha tivesse caído ali naquela agora”, conta.
Beatriz conta que lamentou, pois estava no auge da juventude, estava trabalhando bastante e firmando parcerias e tudo precisou parar devido a gravidade da doença. Ao todo, a carioca passou por uma cirurgia no coração --pois estava com 200ml de líquido no órgão, por cinco quimioterapias, 17 sessões de radioterapia e precisou usar deeno.
As últimas aplicações de medicamento acabaram neste mês e sem sinais de câncer. No próximo dia 1º, Beatriz passará pelo exame que comprova a remissão da condição.
Apoio nas redes sociais
Trabalhando com o digital, Beatriz viu nas redes a oportunidade de falar de sua história, alertar sobre a doença e funcionar como um grupo de apoio para outros pacientes oncológicos. “Começou a alcançar pessoas também com linfoma, com câncer, ai foi quando eu falei: ‘Eu vou falar das que eu fiz que me ajudaram, vou falar da minha dieta, falar dos súbditos, vou falar de tudo. Sei que isso pode ajudar as pessoas”, destacou.
“Eu vejo que um pouco da minha história alcançou tantas pessoas, antes mesmo das entrevistas, antes mesmo das redes sociais. Só de conversar com alguém lá da UTI, alguém que estava precisando de uma palavra de ânimo ali, eu sinto que é como se tivesse valido a pena tudo o que passei. E eu sou muito grata a Deus por ter me dado essa forma de enxergar, essa maneira de levar toda essa experiência”, conta a carioca.