Finasterida: como funciona o medicamento para combater a calvície
Informações incorretas sobre uso da Finasterida e Dutasterida têm circulado na internet: veja o que é verdade e o que não é
A Finasterida e a Dutasterida são eficazes e seguras para tratar a alopecia androgenética, mas exigem prescrição e acompanhamento médico devido a possíveis, embora raros, efeitos colaterais, devendo ser evitadas em casos específicos como gestação e algumas comorbidades.
Entre os diversos medicamentos disponíveis atualmente para a alopecia androgenética, popularmente conhecida como calvície, a Finasterida tem ganhado cada vez mais destaque por sua alta eficácia quando devidamente indicada. Mas, recentemente, têm circulado na internet uma série de vídeos e posts que destacam os perigos da Finasterida e de outros medicamentos antiandrogênicos, como a Dutasterida. Mas, de acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional São Paulo (SBD-RESP), grande parte desses conteúdos são baseados em informações incorretas que criam grande alarde em torno dessas substâncias, assustando e afastando muitos pacientes que se beneficiariam do tratamento.
“As medicações antiandrogênicas, como a Finasterida e Dutasterida, contam com uma série de estudos grandes e relevantes que comprovam sua eficácia e demonstram um bom perfil de segurança. Claro, como toda medicação, há sempre a possibilidade de eventos adversos, mas o que precisamos saber é a porcentagem em que estes eventos acontecem”, diz a dermatologista Caroline Romanelli, secretária da diretoria da SBD- RESP.
De acordo com Daniel Cassiano, dermatologista diretor da SBD-RESP, a Finasterida e a Dutasterida são medicamentos que agem como inibidores da enzima 5-alfa redutase. “Essa enzima é responsável por converter perifericamente a testosterona em Dihidrotestosterona (DHT), um hormônio que contribui para a alopecia androgenética ao promover a miniaturização dos folículos capilares”, explica o médico.
Por essa ação, as medicações são consideradas “padrão-ouro” no tratamento da alopecia androgenética.
“A Finasterida e a Dutasterida reduzem a velocidade da progressão da calvície, estabilizam a perda e diminuem a miniaturização do fio, ou seja, o cabelo para de afinar”, destaca a dermatologista Leila David Bloch, membro titular e conselheira da SBD-RESP.
Mas, apesar da eficácia comprovada e bons resultados, muitos pacientes têm receio de utilizar o medicamento devido aos efeitos colaterais divulgados. “Mas é preciso reforçar que são medicamentos seguros e efeitos colaterais podem surgir como no uso de qualquer outro medicamento. Entre eles, o principal evento adverso que amedronta os pacientes é a diminuição da libido, o que é uma possibilidade e ocorre em cerca de 10% dos casos. No entanto, esse efeito é reversível após a interrupção do medicamento”, diz Leila.
Disfunções sexuais também são outra preocupação dos pacientes, mas a Dra. Caroline Romanelli destaca que as ocorrências são raras. “Em um estudo fase III duplo cego que comparou grupos que ingeriram Finasterida 1 mg, Dutasterida 0,5 mg ou placebo por 24 semanas, foi possível observar que a ocorrência de impotência entre os grupos foi de 6,1 , 5,4 e 3,9%, respectivamente. Já um outro estudo de revisão sistemática e meta-análise demonstrou um risco de disfunções sexuais de 1,66 para Finasterida e 1,37 para Dutasterida em comparação com placebo. Ou seja, riscos muito pequenos”, detalha a médica.
Outra consequência dessas medicações que vem sendo divulgada massivamente é o surgimento da síndrome pós-Finasterida, que, por definição, ocorre quando, mesmo após seis meses da interrupção do tratamento, ainda perduram efeitos colaterais sexuais.
“Mas, até hoje, não há evidência científica da síndrome pós-Finasterida, ou seja, estudos bem controlados que demostrem que há uma manutenção dos efeitos colaterais sexuais da medicação por tempo indeterminado”, pontua Caroline, que afirma que a Finasterida tem uma meia-vida de cerca de 8 horas e a Dutasterida de três a cinco semanas e, após este tempo, as medicações são eliminadas do organismo com uma diminuição progressiva dos efeitos até cessarem.
“O que existe atualmente são relatos de pacientes em que os efeitos colaterais persistirem mesmo após a interrupção da Finasterida. Mas não há comprovação da causalidade, ou seja, a relação causa-efeito com a Finasterida diretamente, uma vez que pode ter ocorrido, por exemplo, devido avanço da idade, coincidentemente”, acrescenta Leila.
Outros eventos adversos comumente divulgados dessas medicações incluem aumento do risco de depressão, diminuição da fertilidade e resistência insulínica, mas essa última não tem evidências que comprovem sua ocorrência devido ao uso da Finasterida e da Dutasterida.
“Com relação à fertilidade, há uma diminuição do volume do ejaculatório que é reversível após a suspensão da medicação. Então, não há contraindicação absoluta em suspender a medicação durante o planejamento familiar”, diz Caroline. “O risco de depressão é mais comum em pacientes com histórico prévio da doença, pois as medicações ultrapassam a barreira hemato-encefálica, ou seja, pode, ter ação no sistema nervoso central. Então, esses pacientes devem consultar o psiquiatra antes de iniciar o tratamento”, completa Leila.
Então, a melhor abordagem é individualizar o tratamento, com prescrição adequada e manejo dos possíveis efeitos colaterais para um tratamento seguro e eficaz. “Antes da prescrição de medicamentos antiandrogênicos, solicitamos exames para descartar outras possíveis causas da queda de cabelo. Além disso, exames específicos de função hepática, testosterona e espermograma também podem ser solicitados para garantir a segurança do tratamento”, afirma Leia, que acrescenta que, uma vez iniciado o tratamento, é responsabilidade do médico avaliar se há relação entre a medicação e possíveis efeitos adversos, ajustando ou suspendendo o tratamento quando necessário.
“Em caso de efeito colateral, pode-se recomendar o uso de meia dose da medicação, em dias alternados ou até a Finasterida tópica, que ainda têm seu efeito terapêutico a longo prazo, embora seja menor. A interrupção pode ser indicada para pacientes que estão tentando engravidar há mais de seis meses. Em pacientes sem prole constituída, o espermograma deve ser realizado antes do início do tratamento e repetido após seis meses para monitorar possíveis impactos na fertilidade. Outro exame importante é o de acompanhamento da próstata, pois a Finasterida pode mascarar seu aumento”, pontua a dermatologista.
É importante ressaltar que as medicações antiandrogênicas não são indicadas para todos os casos de queda capilar, assim como podem ser contraindicadas mesmo em quadros de alopecia androgenética. “A Finasterida e a Dutasterida podem ser indicadas para casos de alopecia androgenética e de alopecia frontal fibrosante. Mas não são indicadas para condições como eflúvio telógeno ou alopecia areata”, ressalta Leila Bloch.
Além disso, não são indicadas para mulheres em idade fértil que não estejam fazendo uso de métodos contraceptivos, homens que estão tentando engravidar há mais de seis meses e pacientes com comorbidades como depressão grave ou insuficiência hepática, por exemplo. “A Finasterida também não deve ser usada por gestantes ou tentantes, pois é teratogênica, podendo prejudicar o feto. Lactantes também não devem utilizar, pois não há testes de segurança nesse grupo”, acrescenta Daniel Cassiano.
No fim das contas, o mais importante é o acompanhamento com o dermatologista. “O médico será o responsável por diagnosticar, personalizar o tratamento de acordo com a gravidade da alopecia e avaliar todos os aspectos da saúde do paciente. Com essa supervisão, o profissional pode ajustar a dosagem, mudar a medicação ou mesmo sugerir outras alternativas casos haja algum efeito colateral, garantindo que o tratamento seja seguro e eficaz”, diz Caroline Romanelli.
Entre os tratamentos medicamentosos, além da Finasterida e a Dutasterida, há também o Minoxidil, que, apesar de também interferir no ciclo e na progressão da calvície, não é o mais importante a longo prazo, comparativamente com a Finasterida, segundo a Leila David Bloch. “Podemos indicar também procedimentos de drug delivery, como a intradermoterapia e o MMP, com substâncias injetadas diretamente no couro cabeludo. Há também o tratamento cirúrgico, pois o tratamento clínico, de maneira isolada, não recupera todos os fios. Assim, para áreas extensas de perda capilar, o transplante capilar é indicado tanto para homens quanto para mulheres. A escolha é individualizada, personalizada, dependendo de cada caso, considerando se o paciente está disposto a se tratar a longo prazo, de maneira contínua”, finaliza a médica.
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