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Como seus hormônios podem controlar sua mente

Os hormônios influenciam de várias formas o nosso humor e as nossas emoções. Cientistas procuram estudar os mecanismos envolvidos neste processo para criar novos tratamentos para transtornos como a ansiedade e a depressão.

8 dez 2025 - 16h21
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Hormônios podem ter efeito poderoso sobre o nosso humor e a nossa saúde mental
Hormônios podem ter efeito poderoso sobre o nosso humor e a nossa saúde mental
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Todos nós gostamos de pensar que temos nossas emoções e sentimentos sob controle. Mas será verdade?

Os cientistas sabem, há muito tempo, que mensageiros químicos chamados neurotransmissores exercem enorme influência no nosso cérebro. E, quanto mais eles aprendem, mais descobrem que os hormônios também podem alterar nossa mente de formas inesperadas.

Agora, alguns cientistas tentam aproveitar este conhecimento para descobrir novos tratamentos para condições como a depressão e a ansiedade.

Os hormônios são mensageiros químicos liberados por certas glândulas, órgãos e tecidos. Eles entram no fluxo sanguíneo e viajam através do corpo, até se ligarem a receptores em locais específicos.

Esta ligação age como uma espécie de "aperto de mãos" biológico, que instrui o corpo a tomar determinada ação.

O hormônio conhecido como insulina, por exemplo, orienta o fígado e as células musculares a absorverem o excesso de glicose do sangue e a armazenarem na forma de glicogênio.

O controle invisível dos hormônios

Os cientistas já identificaram mais de 50 hormônios no corpo humano.

Juntos, ele gerenciam centenas de processos do corpo. Eles incluem o crescimento, desenvolvimento, função sexual, reprodução, ciclo de sono e vigília e o mais importante: seu bem estar mental.

"Os hormônios realmente afetam o nosso humor e as nossas emoções", afirma a professora de psicologia Nafissa Ismail, da Universidade de Ottawa, no Canadá.

"Eles interagem com os neurotransmissores produzidos e liberados em regiões específicas do cérebro e também influenciam processos como a morte celular ou a neurogênese, quando novos neurônios nascem ou são criados", explica ela.

As variações hormonais podem trazer muitos efeitos, como distúrbios do ciclo normal do sono
As variações hormonais podem trazer muitos efeitos, como distúrbios do ciclo normal do sono
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A incidência de transtornos de saúde mental, como a depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), aumenta durante as principais transições hormonais. Isso ocorre principalmente entre as mulheres.

Os índices de depressão são basicamente iguais entre meninos e meninos na infância. Mas, na adolescência, as meninas têm duas vezes mais probabilidade que os meninos de sofrer de depressão — e esta diferença persiste ao longo da vida. Será que os hormônios podem ser a causa?

Talvez não seja surpresa verificar que, entre as mulheres, os hormônios sexuais exercem surpreendente influência sobre o humor.

Nos dias e semanas antes da menstruação, os níveis de estrogênio e progesterona caem, o que coincide com sensações de irritabilidade, fadiga, tristeza e ansiedade para algumas mulheres — mas não todas.

Algumas mulheres podem até sofrer de transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), um grave distúrbio do humor relacionado aos hormônios.

Ele é caracterizado por extremas variações de humor, ansiedade, depressão e, às vezes, pensamentos suicidas ao longo das duas semanas anteriores à menstruação.

"Para muitas mulheres com TDPM, este é um problema crônico que elas enfrentam todos os meses e pode ter efeito muito profundo sobre a vida das pessoas", explica a professora de psiquiatria e ciências comportamentais Liisa Hantsoo, da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

As oscilações hormonais

Por outro lado, altos níveis de estrogênio imediatamente antes da ovulação foram relacionados a sensações de bem estar e felicidade.

Paralelamente, a alopregnanolona, um produto da decomposição da progesterona, também é conhecida pelos seus efeitos calmantes.

"Se você fornecer a uma pessoa uma injeção de alopregnanolona, ela se sentirá relaxada", afirma Hantsoo.

Não é apenas a "época do mês" que as mulheres precisam enfrentar. Flutuações hormonais na gravidez, na perimenopausa e na menopausa também podem causar estragos na saúde mental.

Até 13% das mulheres que acabaram de dar à luz sofrem de depressão. Por que isso acontece?

Imediatamente após o parto, as mulheres sofrem uma queda repentina dos hormônios progesterona e estrogênio. E, na perimenopausa, as mulheres também podem sofrer drásticas flutuações dos hormônios ovarianos.

"A questão provavelmente não é o nível exato de hormônios de uma pessoa, mas provavelmente as transições, quando a pessoa passa de níveis baixos para altos ou o contrário", explica a professora de psiquiatria Liisa Galea, da Universidade de Toronto, no Canadá.

"Algumas pessoas são mais sensíveis a este tipo de flutuação, enquanto outras atravessam a menopausa sem nenhum sintoma", segundo ela.

Meninos e meninas apresentam níveis similares de depressão até a adolescência
Meninos e meninas apresentam níveis similares de depressão até a adolescência
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

E não são apenas as mulheres.

Os homens também sofrem redução dos níveis de testosterona com o avanço da idade. Mas esta alteração é gradual e menos pronunciada que nas mulheres.

Ainda assim, existem evidências indicando que mesmo essa pequena alteração é suficiente para causar mudanças de humor em alguns homens, mas não em todos.

"De fato, observamos alterações de humor em alguns homens à medida que os níveis de testosterona se alteram ao longo da vida", afirma Ismail. "E este certamente é um tema que não recebe atenção suficiente."

Uma forma em que os hormônios sexuais podem influenciar o humor é aumentando os níveis dos neurotransmissores serotonina e dopamina no cérebro.

Baixos níveis de serotonina são indicados há muito tempo como causadores da depressão e os antidepressivos mais modernos amplificam os níveis desta substância no cérebro.

Evidências indicam que certos estrogênios podem tornar os receptores de serotonina mais reativos e aumentar a quantidade de receptores de dopamina no cérebro.

Outra teoria diz que o estrogênio protege os neurônios contra lesões e pode até estimular o crescimento de novos neurônios em uma região do cérebro conhecida como hipocampo, cuja influência sobre a memória e as emoções é conhecida.

Sabe-se que pessoas com depressão e mal de Alzheimer sofrem perda de neurônios no hipocampo.

Paralelamente, os antidepressivos e drogas psicodélicas que melhoram o humor, como psilocibina (encontrada em cogumelos mágicos), promovem o crescimento de novos neurônios naquela região.

"O estrogênio é neuroprotetor, ou seja, ele promove a neurogênese", segundo Ismail. "Por isso, quando as mulheres entram na menopausa, observamos este tipo de retração dos dendritos [os ramos que se protuberam das células nervosas], as projeções dendríticas que tínhamos anteriormente."

É por este motivo que as mulheres na menopausa, muitas vezes, enfrentam problemas como o nevoeiro cerebral e a perda de memória.

Quando a reação ao estresse dá errado

A perda de neurônios no hipocampo pode trazer graves consequências para outros sistemas hormonais, como o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), que regula a reação do corpo ao estresse.

Quando nos sentimos ansiosos, o hipotálamo (a região do cérebro que, em última análise, controla a liberação da maioria dos hormônios no corpo) envia um sinal para que a glândula pituitária libere um hormônio chamado adrenocorticotrófico (ACTH).

O ACTH estimula as glândulas adrenais para liberar cortisol, o hormônio do estresse. O cortisol instrui o corpo a liberar açúcar no fluxo sanguíneo, fornecendo ao cérebro e ao corpo a energia necessária para agir em caso de emergência.

A oxitocina, frequentemente chamada de "hormônio do amor", está relacionada aos momentos de união e se acredita que ela combata alguns dos efeitos do estresse
A oxitocina, frequentemente chamada de "hormônio do amor", está relacionada aos momentos de união e se acredita que ela combata alguns dos efeitos do estresse
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"O eixo HPA é ativado quando a pessoa está estressada", explica Hantsoo. "A curto prazo, isso é ajustável, pois ajuda o corpo a lidar com o estresse. Mas, a longo prazo, pode ser prejudicial."

Normalmente, o cortisol que invade o nosso corpo deveria ativar um circuito de feedback negativo, fazendo com que o hipocampo oriente o hipotálamo a suspender sua comunicação com a glândula pituitária, encerrando a reação ao estresse.

Mas, se a pessoa sofrer de estresse crônico (por intimidação, abuso ou violência, por exemplo), isso não acontece e o cérebro é inundado por cortisol. E isso é ruim, pois, ao longo do tempo, o cortisol causa inflamações no cérebro, matando os neurônios do hipocampo e evitando que ele forneça aquele feedback negativo.

Além disso, o cortisol pode também destruir os neurônios em outras regiões do cérebro, como a amígdala e o córtex pré-frontal, prejudicando a memória, o humor e a concentração.

"A amígdala é a região do cérebro que nos permite controlar as emoções", explica Ismail. "E a perda de volume naquela região é associada ao aumento da emotividade, da irritabilidade e à dificuldade de controle dessas emoções negativas."

"A atrofia do córtex pré-frontal é associada à dificuldade de concentração e à tomada de decisões corretas no momento certo. E a atrofia do hipocampo é associada à dificuldade de relembrar informações."

O cortisol pode nos deixar estressados, mas a oxitocina, frequentemente conhecida como o "hormônio do amor", supostamente faz o contrário. Ela é famosa por ajudar a promover sentimentos confortáveis e difusos, além da gentileza.

A oxitocina é liberada durante o parto, a amamentação e o orgasmo, mas aparentemente também auxilia a formação de laços entre seres humanos e animais.

"A oxitocina foi associada à conexão e à sensação de ligação segura", prossegue Ismail, "e, naturalmente, isso ajuda a combater os efeitos do estresse."

"Quando nos sentimos seguros e percebemos que existe apoio à nossa volta, isso reduz os níveis de cortisol que poderão ter aumentado devido ao estresse."

Estudos demonstram que a terapia com estrogênio, incluindo a terapia de reposição hormonal (TRH), pode ajudar algumas mulheres a passar pela menopausa
Estudos demonstram que a terapia com estrogênio, incluindo a terapia de reposição hormonal (TRH), pode ajudar algumas mulheres a passar pela menopausa
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Estudos demonstraram que a inalação de um spray nasal de oxitocina torna as pessoas mais generosas, cooperativas, empáticas e mais propensas a confiar em estranhos.

Mas nem todos estão convencidos desta associação. Não se demonstrou conclusivamente que a oxitocina pode cruzar a barreira hematoencefálica, por exemplo.

É muito mais aceita a teoria que afirma que o desequilíbrio de dois hormônios fundamentais produzidos pela tireoide (uma glândula em forma de borboleta localizada na garganta) pode causar depressão e ansiedade: a tri-iodotironina (T3) e a tiroxina (T4).

Juntas, elas ajudam a regular os batimentos cardíacos e a temperatura corporal. Mas, quando seus níveis são altos demais (quando a pessoa tem uma tireoide hiperativa, por exemplo), pode surgir a ansiedade.

Por outro lado, quando os níveis forem muito baixos, torna-se comum a depressão. Felizmente, a correção dos níveis hormonais normalmente elimina esses sintomas.

"Quando os pacientes consultam seu médico e se queixam de mudanças de humor, uma das primeiras medidas é verificar seu perfil hormonal", segundo Ismail, "pois, muitas vezes, quando conseguimos corrigir o hormônio que está alterado, podemos ajustar o humor."

Também neste caso, o motivo do impacto dos hormônios da tireoide sobre o humor não é conhecido. Mas uma teoria é que a T3, especificamente, pode aumentar os níveis de serotonina e dopamina no cérebro ou intensificar a sensibilidade dos receptores desses neurotransmissores.

Os receptores dos hormônios da tireoide também estão presentes nas regiões do cérebro altamente envolvidas na regulagem do humor.

Novos tratamentos

A esperança é que estes novos conhecimentos sobre os hormônios e seus efeitos sobre o humor resultem em novos tratamentos.

Existem sinais de que isso começa a acontecer, com o surgimento de uma droga chamada brexanolona. Ela imita o hormônio alopregnanolona e é muito eficaz no tratamento da depressão pós-parto.

Surgiram também evidências de que pessoas com níveis mais baixos de testosterona podem tomar suplementos deste hormônio, para aumentar a eficácia de certos antidepressivos.

Estudos demonstram que a terapia com estrogênio, incluindo a TRH, pode ajudar a melhorar o humor de algumas mulheres que atravessam a perimenopausa e a menopausa, embora não todas.

Já o controle hormonal da natalidade pode fazer maravilhas para certas mulheres com TDPM, mas pode também agravar os sintomas para outras.

Tudo isso demonstra como a busca de novos tratamentos se torna mais difícil porque ainda não compreendemos exatamente por que algumas pessoas são tão sensíveis às flutuações hormonais e outras não.

"Sabemos que os hormônios afetam o humor e a saúde mental, mas precisamos descobrir como eles atuam, antes de criar os tratamentos adequados", destaca Nafissa Ismail.

"Como sabemos, os antidepressivos atuais que regulam os níveis de serotonina não são eficazes em todos os casos. Alguns estudos indicam que eles apresentam menor eficácia em adolescentes."

"Por isso, precisamos descobrir o que acontece com aquela faixa etária, no cérebro e no seu desenvolvimento naquela etapa da vida, para torná-los mais resistentes ao tratamento."

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Innovation.

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