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Caso de ebola na Espanha mostra que é melhor exagerar na prevenção

7 out 2014 - 14h20
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O caso da auxiliar de enfermagem que contraiu ebola na Espanha mostra claramente que é melhor exagerar nas medidas para prevenir o contágio do que ser acusado de negligência, disse nesta terça-feira o professor Peter Piot, que presidiu uma reunião de cientistas convocada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

"Deve ser uma lição para todos". "É melhor exagerar na reação e proteção do que ser acusado de não ter tomado todas as medidas necessárias", disse Piot, diretor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

O professor concordou com outros especialistas que o caso da auxiliar de enfermagem infectada na Espanha não representa a ameaça de um surto da doença, mas reflete o fato de que sempre há riscos ao repatriar uma pessoa infectada com ebola.

Nesses casos, "vejo uma maior probabilidade de infecção em unidades de terapia intensiva", declarou à imprensa durante a pausa de uma teleconferência entre cientistas de diferentes países para analisar a evolução da epidemia na África Ocidental.

"Quando se trata de atender pacientes com ebola, o risco é muito alto e o menor erro pode ser fatal", disse o especialista, que contribuiu para o descobrimento do vírus em 1976.

Sobre esse assunto, mencionou o caso da Médicos Sem Fronteiras (MSF), uma ONG humanitária considerada por como uma das que "tem mais experiência no mundo" e que teve dois colaboradores infectados apesar de suas "medidas draconianas" de prevenção, que são aplicadas com muito rigor.

"O pessoal da MSF segue uma formação muito rígida". "Se alguém está estressado ou esgotado, não é permitido que continue trabalhando", relatou.

No entanto, e voltando ao caso espanhol, explicou que "quando se chega a um meio no qual não há experiência com o ebola, com equipamentos novos e tudo... Por isso não estou surpreso" com o contágio da auxiliar de enfermagem.

Perguntado sobre o erro que pode ter levado a essa situação, Piot opinou que "um momento muito perigoso é quando se retira o traje de proteção ao sair de uma unidade de isolamento".

"Normalmente, a pessoa está cheia de suor". "Se retira os óculos e esfrega os olhos com as mãos, este pode ser o fim", comentou.

O especialista acrescentou que para evitar o mínimo movimento em falso, sempre deve haver alguém para observar o momento em que uma pessoa remove o traje.

"É praticamente necessário ter uma espécie de policial ao lado para dizer o que pode ser feito ou não", frisou.

Para o cientista, com os meios que a OMS dispõe e com o apoio da comunidade internacional, deveria ser possível deter a epidemia sem a necessidade que haja uma vacina imediatamente.

Sobre a ausência de esforços para produzir remédios e vacinas para o ebola nos últimos 40 anos, Piot lembrou que é uma doença que, nesse período, provocou em média a morte de 40 pessoas por ano, "de forma que não havia um verdadeiro incentivo para o investimento".

Agora, por outro lado, o mundo se encontra em um momento crucial para agir pensando no longo prazo, "porque haverá outras epidemias de ebola, não há dúvida disso, mas temos que estar seguros que, na próxima vez, não teremos que começar do zero".

EFE   
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