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Campinas resiste a receber pacientes com coronavírus da Grande São Paulo

Após receber quatro doentes, prefeito Jonas Donizette pede que Estado poupe cidade e diz temer sobrecarga na rede e risco de aumento de transmissão na região

4 mai 2020 - 20h53
(atualizado às 21h14)
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O Ambulatório Médico de Especialidades (AME) em Campinas, no interior paulista, recebeu quatro pacientes com a covid-19 transferidos da Região Metropolitana de São Paulo, onde a oferta de leitos beira o colapso. Autoridades de saúde e o prefeito, Jonas Donizette (PSB), afirmam que a cidade não tem como suportar essa demanda extra. O temor é de sobrecarga na rede de atendimento local - referência para uma região de 6,5 milhões de habitantes - e aumento da transmissão do novo coronavírus, ainda abaixo da média estadual.

"Nós temos duas preocupações", afirmou o Secretário Municipal de Saúde de Campinas, Cármino Antônio de Souza. "Uma de que não sejamos capazes de atender esse volume (de pacientes). A gente ouve os números de São Paulo, são impressionantes, são cem, duzentas vezes maiores que os números de Campinas."

Mas o maior temor é de explosão dos casos de coronavírus. "A maior preocupação que nós temos é a circulação de pessoas que estejam convivendo com quem seja covid-19 positivo. Isso aumentaria o fluxo de parentes, amigos e pessoas que eventualmente viriam para a cidade", explicou o secretário, em balanço apresentado nesta segunda-feira, 4, dos dados da covid-19 e medidas de enfrentamento à pandemia em Campinas.

Maior cidade do interior paulista, Campinas registrou até esta segunda-feira, 403 casos confirmados da doença e 22 mortes. Há outros 157 casos suspeitos em investigação. O município, sede de uma área regional de saúde de 42 cidades do interior paulista, tem duas unidades públicas estaduais de referência para atendimentos da covid-19: o recém inaugurado AME Campinas e o Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp. Juntos, eles têm 66 leitos de UTI reservados para pacientes com a doença e taxa de ocupação bem abaixo das registradas na Grande São Paulo.

A reportagem apurou que a Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (Cross) do Estado reconhece que Campinas tem um quadro subdimensionado para atendimento da região, problema histórico que se agrava todo ano no inverno, com aumentos de casos de doenças respiratórias, e que deve tratar a cidade como opção emergencial, dando prioridades para outros hospitais regionais, do entorno.

Pacientes com covid-19 transferidos

Os quatro pacientes transferidos da Grande São Paulo para Campinas são de Francisco Morato (3) e Franco da Rocha (1). Enviados na semana passada por indicação da Cross, eles passaram a ocupar leitos da AME Campinas, inaugurada no mês passado, antes do prazo, pelo governador João Doria para ser unidade especializada no atendimento de casos da covid-19 no Estado. São 35 leitos de UTI abertos para reforçar o atendimento referenciado da região do HC da Unicamp. Nesta quarta-feira, 15 leitos estavam ocupados.

"Este novo AME foi revocacionado, ou seja, adaptado para atendimentos clínicos e internações para reforçar a estrutura regional de atendimento a casos de COVID-19", explicou o secretário de Estado da Saúde, José Henrique Germann, na época.

A reportagem apurou que os doentes foram enviados para Campinas de forma excepcional e levaram em conta a localidade onde estavam na Grande São Paulo, sendo mais fácil sua transferência para o interior do que para outra região no entorno da capital. Balanço da Secretaria de Estado da Saúde mostra que a taxa de ocupação dos leitos de UTI reservados para atendimento a covid-19 no último sábado era de 88,8% nas cidades da Região Metropolitana da capital, enquanto no Estado essa média era de 67,9%.

Pedido

O prefeito de Campinas, Jonas Donizette, afirmou que já pediu e que as autoridades de Saúde local fizeram pedidos ao governo do Estado para que a rede local seja preservada nesse processo de transferência de internados, quando a capital chegar ao colapso.

"Não dava para a gente fazer esse recebimento com pena de colocarmos a perder o trabalho que fizemos de aumento dos leitos, de preservar leitos", afirmou o prefeito. Na semana passada, a prefeitura anunciou seu plano para retomada gradual das atividades econômicas, que leva em conta a taxa reduzida e estável de contágio na cidade. "É preocupante. Estamos estacionados, não foi mandado mais nenhum paciente."

O secretário municipal de Saúde afirmou que o atendimento que a cidade faz de referência para a Região Metropolitana de Campinas torna inviável o recebimento desses doentes da Grande São Paulo. "Assumimos a Região Metropolitana de Campinas, mas não teríamos como assumir, sob nenhum pretexto, a questão de atender São Paulo", afirmou Souza. Para ele, é preciso garantir a "reserva de leitos" na cidade, para atendimento de pacientes da região - que ainda não atingiu seu pico - e preservar a "situação epidemiológica" local.

Nesta segunda-feira, passou a ser obrigatório o uso de máscaras no transporte público de Campinas. A prefeitura iniciou a distribuição de 6 mil máscaras nos terminais de ônibus da cidade e espera chegar a 100 mil. Os equipamentos de proteção estão sendo confeccionados por costureiras contratas pela prefeitura.

Estadão
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