Botox: por que pessoas desenvolvem resistência ao tratamento?
Aplicar demais, muito cedo ou mesmo uma característica genética pode fazer alguém ser resistente aos efeitos da toxina botulínica
O uso excessivo, intervalos curtos entre aplicações e características genéticas raras podem levar à resistência ao Botox, mas a condição é incomum; respeitar intervalos, doses adequadas e produtos de qualidade ajuda na eficácia e durabilidade do tratamento.
A toxina botulínica, conhecida popularmente como Botox, é o tratamento estético mais realizado no mundo. Essa toxina compreende uma proteína purificada obtida da bactéria Clostridium botulinum. “Quando injetada em pequenas doses, ela bloqueia a liberação de acetilcolina, o neurotransmissor responsável pela contração muscular. Isso promove o relaxamento da musculatura, suaviza linhas de expressão e previne a formação de novas rugas”, explica a dermatologista Flávia Brasileiro, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Mas é verdade realmente que algumas pessoas se tornam imunes a essa técnica? “Sim, é verdade, mas é extremamente raro. A resistência à toxina botulínica tipo A pode acontecer quando o organismo desenvolve anticorpos neutralizantes que impedem a toxina de agir no músculo. No entanto, isso é algo excepcional. Sou uma das colaboradoras do artigo científico internacional 'Resistance to Cosmetic Botulinum Toxin A: A 15-Patient Case Series across 12 Sites', publicado no JAAD International. Além de médica, sou também uma das pacientes citadas no estudo. O dado mais relevante é que foram analisados 12 centros médicos especializados ao redor do mundo, e apenas 15 casos de resistência completa à toxina botulínica foram identificados. Isso reforça o quanto essa condição é rara, especialmente quando a toxina é usada de forma técnica e responsável”, completa a especialista.
De acordo com a médica, o tempo ideal para reaplicação da toxina botulínica é de, no mínimo, três meses após a última aplicação. “Estudos sugerem que esse intervalo respeitado não aumenta o risco de resistência, além de permitir que o organismo mantenha uma resposta eficaz à toxina ao longo do tempo”, diz a dermatologista.
A cirurgiã plástica Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, explica que, em muitos casos, o paciente não consegue ver um resultado duradouro já na primeira aplicação, necessitando assim de um retoque mais rápido.
“Existem várias marcas da toxina botulínica no mercado, mas esse é um produto caro. A ampola vem com um pó, que tem de ser diluído. O paciente nunca questiona ou pergunta qual a diluição que foi feita, ou mesmo que produto foi utilizado. E o uso de uma subdose pode deixar o efeito menos duradouro, criando a necessidade de outra aplicação mais rápido. Isso pode sensibilizar o organismo, que pode produzir anticorpos contra a toxina de forma que ela não terá mais efeito”, explica a médica.
Flávia Brasileiro diz que há dois casos de resistência: a parcial e a completa. “A resistência parcial pode estar ligada à quantidade de aplicações realizadas, sendo que o número muito alto de toxina botulínica, retoques muito longos, as datas de aplicação da toxina, aplicações que não respeitam três meses de intervalo, todos esses fatores podem aumentar o quadro de resistência parcial, que é quando a toxina pega menos, a pessoa necessita de mais tempo, ela tem uma ação mais leve e menos duradora. No entanto, a resistência completa à toxina botulínica é um fenômeno imunológico mais forte e agudo, muitas vezes pode acontecer com poucos usos, não sendo possível controlar completamente. Então alguns pacientes com sistema imunológico muito forte se ‘autovacinam’ contra toxina botulínica e isso pode acontecer com poucas aplicações, mas como o quadro é muito raro, ainda não existem dados suficientes na literatura para entender isso”, diz a dermatologista.
Os sinais de que o efeito está diminuindo — o que pode indicar uma resistência parcial — incluem a necessidade de doses cada vez maiores para obter o mesmo resultado e retorno precoce da movimentação muscular.
“No entanto, é importante destacar que a resistência parcial raramente evolui para uma resistência completa, na qual o paciente deixa de ter qualquer resposta, mesmo com aplicações bem executadas”, diz a dermatologista. “Esse foi, inclusive, o foco do artigo internacional.”
Para evitar a resistência, recomenda-se o uso de toxinas botulínicas tipo A com baixa carga proteica, que possuem menor potencial imunogênico, segundo a médica. “No entanto, essas versões tendem a ter uma ação mais leve e menos duradoura. Além disso, é importante respeitar o intervalo entre as aplicações, evitar doses excessivas e observar a dose acumulada ao longo do tempo”, aconselha a Flávia.
Beatriz Lassance ainda ressalta a importância de buscar um médico experiente nesse tipo de procedimento, já que é vital que o profissional entenda e identifique os pontos corretos para otimizar seu tratamento. “Além disso, cuidados importantes para garantir a eficácia do produto e evitar a necessidade de reaplicações excessivas incluem armazenagem adequada do produto, que pode perder a capacidade de relaxamento se mal conservado, e diluição correta, para evitar que a substância se espalhe além da região desejado. Na dúvida, desconfie de preços abaixo do mercado e pergunte sobre o produto utilizado, a diluição e a quantidade de unidades que serão aplicadas”, reforça a cirurgiã plástica.
"Infelizmente, quando o paciente já desenvolveu altos níveis de anticorpos neutralizantes, o quadro de resistência geralmente é irreversível. Nesses casos, uma alternativa seria o uso da toxina botulínica tipo B, conhecida comercialmente como Myobloc, disponível nos Estados Unidos. No entanto, ela não é comercializada no Brasil e seu custo é bastante elevado”, diz Flávia Brasileiro.
Felizmente, existem alternativas para a toxina botulínica. Por exemplo, é possível ter um efeito botox-like com o ultrassom microfocado Atria. “Com menor nível de dor e máxima eficácia, o ultrassom Atria tem ação em camadas mais profundas, atuando até mesmo no SMAS (Sistema Músculo Aponeurótico Superficial), que é a camada muscular mais profunda responsável por sustentar a face. Os pontos de coagulação causam uma contração no músculo, com efeito lifting. Podemos utilizar também profundidades mais superficiais para a produção do colágeno. Além disso, a tecnologia Atria Pen, uma caneta ultrassônica, promove zonas de coagulação verticais, que se somam à atuação do aplicador em scanner para promover um duplo efeito térmico de estimulação”, diz o dermatologista Abdo Salomão Jr., membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, que explica que parte dos efeitos são visíveis imediatamente, mas os resultados são potencializados em até três meses.
Em casos mais avançados de envelhecimento, em que além de rugas há flacidez expressiva, outra alternativa é a realização de intervenções cirúrgicas, como o lifting facial. “O lifting facial (ritidoplastia) reposiciona tecidos flácidos, reduz a aparência de ‘rosto derretido’ e redefine o contorno da mandíbula. E técnicas mais atuais como o Deep Plane Facelift permitem tratar sinais de envelhecimento com sutileza, preservando a expressividade e a autenticidade da face. A estética facial de hoje é baseada em equilíbrio: volumes bem distribuídos, contornos suaves e movimentos naturais. Não buscamos ‘mudar’ um rosto, mas sim restaurar sua vitalidade, respeitando a essência do paciente. A beleza está, justamente, na harmonia e na naturalidade — e não na padronização ou nos excessos”, explica Wellerson Mattioli, cirurgião plástico, diretor da Clínica Moderna Sculpt, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
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