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Dia Mundial da Diabete: o que é retinopatia diabética e como evitá-la?

Doença é uma consequência de descontrole de glicemia por parte de diabéticos, e exige acompanhamento médico

14 nov 2020 - 10h10
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Celebrado no dia 14 de setembro, o Dia Mundial da Diabete foi criado pela Federação Internacional da Diabete e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1991, com o objetivo de conscientizar o público sobre a doença. Uma de suas consequências, porém, ainda é pouco conhecida: o efeito da diabete na visão, com a retinopatia diabética.

O oftalmologista Antônio Sérgio, do Hospital CEMA, explica que a diabete é caracterizada por um aumento do nível de glicose no sangue, a chamada glicemia, e esse aumento leva a uma série de alterações no corpo, inclusive na região do olho. No caso da retinopatia, o efeito ocorre na retina.

"A retina é o tecido neurológico que reveste a superfície mais interna do nosso olho. Ela recebe luz e imagens, as processa e envia para o sistema nervoso central", explica o médico. Por ser um tecido, ela possui vasos sanguíneos, que levam sangue para a região, e é neles que o aumento de glicemia gera problemas.

"A longo prazo, o aumento de glicemia gera lesões nos vasos, que se rompem. A retina pode inchar, ou sofrer um enfarte [ocular] quando os vasos vão se fechando. Com isso, ela não consegue projetar a imagem captando e não a envia para o sistema nervoso", afirma Sérgio. Conforme esse efeito progride, a pessoa afetada vai perdendo a qualidade da sua visão aos poucos. Em última caso, a retinopatia diabética leva à cegueira.

O oftalmologista observa que os danos da diabete nos olhos podem ocorrer por anos sem que o paciente perceba, já que muitas vezes não afeta o centro da retina, a máculo, região mais importante para o ato de enxergar. Quando esse centro é atingido, ele começa a inchar, formando o chamado edema macular diabético. "Ele pode acontecer em qualquer estágio [da diabete], e é a principal causa da cegueira", afirma.

Mas, apesar do edema ser a consequência mais comum da retinopatia, ele não é a única. Sem tratamento, a retinopatia progride, chegando à chamada retinopatia diabética proliferativa. Nesse estágio, os vasos atingidos ficam fora do centro da retina. É comum que haja enfarte na região ou um processo de formação de novos vasos.

"A formação dos novos vasos sanguíneos pode levar a sangramentos, quando eles estouram, e isso gera uma baixa visão. Em alguns casos esses novos vasos descolam a retina, ao puxá-la, e isso causa a cegueira", explica o médico.

Tratamento da retinopatia diabética

Antônio Sérgio explica que, em geral, o edema macular costuma ser diagnosticado cedo, porque o paciente sente seus efeitos rapidamente. Já no caso da retinopatia diabética proliferativa, os sintomas demoram mais para aparecer, e o diagnóstico pode ser mais tardio.

"Os casos mais avançados são os mais tardios, e que deixam sequelas maiores. O edema causa baixa visão, mas dependendo do estágio e do controle, é possível evitar uma cegueira e reverter alguns danos", aponta o médico.

Já no caso da retinopatia proliferativa, um diagnóstico tardio é mais prejudicial: "o descolamento de retina geralmente não consegue ser revertido". Em casos leves, o tratamento da retinopatia é clínico, envolvendo o controle dos níveis de glicemia para evitar os efeitos nos olhos e outras partes do corpo.

Em casos mais avançados, quando há dano na visão, o tratamento envolve a aplicação de uma injeção contendo anti-inflamatórios à base de corticóide ou anti angionênicos, que servem para diminuir o edema macular. A aplicação de laser, que segundo o médico gera "receio" nos pacientes, ocorre apenas em casos mais graves, quando já há um grande dano.

Além de conseguirem estabilizar a retinopatia, os tratamentos de hoje já conseguem reverter os seus efeitos na visão do paciente, desde que os danos não sejam muito graves.

Importância do diagnóstico precoce

"Hoje o grande alvo [das campanhas] é tentar conscientizar o público para procurar antes os médicos, porque quanto antes tratar, melhor", comenta o oftalmologista. Ele destaca, porém, que até hoje existem pacientes que não descobrem nem que possuem a diabete, o que dificulta o tratamento de seus efeitos, incluindo a retinopatia.

"Se [o diabético] tem boa visão ou não, deve fazer uma avaliação médica pelo menos anual, tem que orientar e acompanhar para poder fazer um tratamento de forma extensiva para que a doença não progrida", alerta Sérgio.

"A gente tem trabalhos mais antigos que mostram que há décadas 46% dos pacientes que tinham diabete não sabiam que tinham. É difícil ter um paciente que se conscientize sobre tratar a diabete, imagina algo específico em relação à retina", comenta ele.

O médico observa que, hoje, a estimativa da OMS é que mais de 420 milhões de pessoas no mundo tenham diabete. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil cerca de 8,9% da população possuem a doença, e a tendência é que esses números aumentem.

"A tendência é de aumentar pelos hábitos como sedentarismo e de alimentação que estão crescendo. Se tem aumento da diabete, aumenta também a retinopatia", explica. Assim, não basta apenas se preocupar com a saúde dos olhos, mas também garantir o controle da diabete, com acompanhamento médico e se atentando a questões como alimentação, peso e pressão.

O médico destaca que, hoje, os tratamentos tanto para diabete quando para retinopatia avançaram muito, mas é necessário que eles sejam procurados cedo pelo paciente: "Quem quer controlar a diabete, hoje, consegue controlar perfeitamente durante muitos e muitos anos, tanto a parte sistêmica quanto a oftalmológica. É possível controlar a progressão da retinopatia diabética e até reverter seus efeitos".

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

Estadão
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