Bebê nasce prematuro e sobrevive após procedimento cardíaco pioneiro: 'Mudou jeito de levar a vida'
Beatriz enfrentou uma cardiopatia rara em prematuros e tornou-se a primeira bebê de Goiás a passar por um cateterismo
"A Bia é força, alegria e luz". No dia 17 de julho de 2021, Beatriz nasceu do tamanho de um antebraço, com apenas 37 centímetros, e pesando pouco mais do que um pacote de feijão --1,2 kg. O parto de emergência foi induzido com 29 semanas para que ela sobrevivesse, mas a verdadeira luta começou após o choro que rompeu o ar pela primeira vez.
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Beatriz nasceu com uma cardiopatia de persistência do canal arterial aberto (PCA), condição comum em prematuros e em crianças com síndrome de Down, como é o caso da bebê. O canal pode se fechar sozinho, mas, com o passar dos dias, as chances de sobrevivência de Bia diminuíram até que não houvesse mais saídas.
"Já sabíamos que ela seria prematura, mas não sabíamos que seria tão precoce", disse a mãe, Luana Braz de Queiroz, de 36 anos, ao Terra. "Ficamos inseguros, ansiosos, mas estávamos confiantes de que daria tudo certo."
Assim que Beatriz nasceu, a mãe teve apenas alguns segundos para beijá-la antes que ela fosse levada às pressas para a UTI. "Ela nasceu chorando, nasceu forte. Foi muito emocionante, uma sensação indescritível mesmo. Porém, logo começou a luta pela sobrevivência dela", relembra.
Na incubadora, Beatriz parecia uma boneca minúscula, com fios e sensores que dominavam o seu corpo miúdo. O canal arterial aberto começou a ameaçar cada batida de seu coração e seus pulmões começaram a se encher de líquido. Medicamentos não funcionavam, e o peso baixo --provocado por diuréticos-- impedia avanços. "Ela começou a ter hemorragia, não ganhava peso. Continuava com 1,2 kg", recorda a mãe.
Com uma semana de vida, a notícia mais temida chegou: a bebê precisava de um procedimento urgente. A família foi transferida para um hospital referência em cardiologia em Goiânia, o Hospital da Criança, mas ainda se encontrava sem saída. Frágil demais, Beatriz não suportaria uma cirurgia de peito aberto. Mas, por uma obra do acaso, a equipe médica havia acabado de estudar um procedimento pioneiro que fecharia o canal via cateterismo.
"Para mim, esse dispositivo foi uma solução onde parecia não haver solução. Eu falei: 'Eu tenho certeza que vai dar certo'".
O dia do procedimento, 11 de setembro, foi marcado por tensão e esperança. Na UTI, médicos e técnicos se movimentavam em silêncio, enquanto do lado de fora Luana e o marido rezavam, agarrados a cada minuto. Após três horas, o cirurgião, Carlos Pedra, surgiu.
Ele olhou para o pai, Paulo Victor, que vestia uma camisa do Palmeiras e afirmou: "Olha, só teve uma intercorrência... só tinha prótese do Corinthians, então o coração dela agora é corintiano". O riso aliviado da família preencheu o corredor. Beatriz foi a primeira bebê prematura a realizar o procedimento em Goiás e a sexta no Brasil.
A recuperação foi acelerada. No segundo dia, ela já conseguia respirar por conta própria. Em menos de uma semana, mamava e começou a ganhar peso pela primeira vez.
"A foto dela antes e depois da cirurgia é inacreditável. Ela começou a parar os remédios, os diuréticos, e só melhorava".
A revolução foi tamanha que Luana participou da reunião da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) para defender a aprovação do dispositivo na rede pública de saúde. No Brasil, cerca de 300 mil bebês nascem prematuros por ano. Até 50% podem desenvolver a PCA.
O dispositivo foi aprovado e o procedimento poderá ser realizado em bebês a partir de 700g e 3 dias de vida.
Hoje, Beatriz é uma menina saudável, curiosa e cheia de energia. Para a mãe, cada passo e cada sorriso são lembranças de que a vida pode florescer mesmo nos terrenos mais frágeis.
"Tudo isso mudou meu jeito de levar a vida. Eu percebi que só o amor e a vida importam. Quero contar para ela, quando crescer, que desde recém-nascida ela já era forte e que a força dela nos inspira todos os dias", comemora.
