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Após comerem peixe, irmãs são internadas com doença da urina preta em Recife

Secretaria de Saúde investiga cinco casos da Síndrome de Hall; doença também causa falta de ar e dormência

25 fev 2021 - 18h47
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A Secretaria de Saúde de Pernambuco investiga cinco casos de Síndrome de Haff, conhecida como doença da urina preta, após duas irmãs serem internadas com sintomas da doença no dia 18 deste mês, em hospital do Recife. As irmãs apresentaram sintomas após o consumo de peixe da espécie arabaiana, também conhecida como olho-de-boi, comum na região. A doença causa falta de ar, dormência, perda de força muscular e urina da cor de café, daí o nome popular da síndrome. Conforme a pasta, os casos são raros e não há restrição para o consumo de peixes no Estado.

De acordo com o relato de familiares, a empresária Flávia Andrade, de 36 anos, e sua irmã, a médica veterinária Pryscila Andrade, de 31, almoçaram com a mãe, o filho de Flávia, de 4 anos, e duas secretárias. Comeram o peixe adquirido em peixaria da zona sul do Recife. No almoço preparado em casa, só a mãe delas, a empresária Betânia Andrade, não consumiu a arabaiana. Horas depois, o corpo de Pryscila enrijeceu e ela, sem conseguir se movimentar, acabou caindo. A veterinária foi levada ao Real Hospital Português, na área central da capital, e permaneceu internada.

Com o agravamento dos sintomas, ela foi transferida para a UTI. Flávia passou por exames e, com o diagnóstico da síndrome, também foi internada, mas já recebeu alta. Ela se recupera em casa. O filho de Flávia e as duas secretárias também apresentaram sintomas leves da intoxicação. Conforme a pasta estadual,de 2017 e 2021 foram registrados 15 casos no Estado, sendo dez confirmados por critério clínico epidemiológico (quatro em 2017 e seis em 2020) e cinco (de 2021) ainda em investigação. Houve casos também no Ceará e na Bahia. A doença de Haff é caracterizada pela presença de toxina biológica presente em pescados.

Má conservação e toxina são as causas

Segundo o médico infectologista Filipe Prohaska, da Universidade de Pernambuco (UPE), que acompanhou os primeiros casos da doença no Estado, a doença é rara, causada por uma toxina que se forma na carne do peixe mal conservado. "Quando a carne perde a qualidade e se deteriora, é comum que se formem bactérias e toxinas. A bactéria é perceptível pelo cheiro e pelo gosto ruim, mas a toxina é imperceptível", explicou. A substância ataca a musculatura e causa intensa dor muscular. "O músculo morre e o rim absorve a parte deteriorada, deixando a urina preta nos casos mais graves. Essa absorção contínua pode lesionar o rim e exigir tratamento com hemodiálise", disse.

Conforme o pesquisador, há registro na literatura de ocorrência da toxina causadora da síndrome apenas em pacu, tambaqui e arabaiana. O peixe arabaiana é bastante comum em rios do Nordeste, especialmente na Bahia, e consumido com muita regularidade. "A toxina aparece quando não se acondiciona bem o peixe, que é vendido em feiras e peixarias. Por causa do número pequeno de casos, achamos que pode ter havido mau acondicionamento após o peixe ter sido levado para consumo."

Ele explica que, quanto mais a pessoa consome o peixe com toxina, pior será a contaminação. "Em 2017, vimos um casal em que o rapaz ficou bom após quatro dias se tratando em casa e a mulher levou seis meses para se recuperar, com três semanas em hemodiálise. Apuramos que ela consumiu a maior porção do peixe." Os sintomas aparecem entre duas e 24 horas após o consumo do peixe. A recomendação é buscar atendimento médico.

Governo de Pernambuco não recomenda restrição no consumo de peixe

A Secretaria Estadual informou que foi notificada pela Vigilância em Saúde do Recife de cinco casos de mialgia aguda, suspeitos para doença de Haff, no final da tarde da última segunda-feira, 22. A investigação está sendo conduzida pela Secretaria Municipal de Saúde. Dois pacientes foram internados em unidade particular da capital pernambucana - um deles recebeu alta.

Após a notificação, a pasta estadual orientou sobre a investigação epidemiológica de todos aqueles que consumiram o alimento, assim como a coleta de amostras para análise no Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE). Segundo a secretaria, a rede de atenção e vigilância está alerta para a notificação de novos casos suspeitos. A Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa) informou que, no momento, não há nenhuma restrição para o consumo de peixes e crustáceos no Estado.

Estadão
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