Saúde bucal ajuda a cuidar do cérebro, diz professor de Harvard
De acordo com Jamil Shibli, pesquisadores ainda buscam entender como a bactéria causadora de doenças periodontais chegar até a mente, intensificando inflamações
A Organização Mundial de Saúde estima que as doenças bucais afetem cerca de 3,5 bilhões de pessoas ao redor do globo. As mais severas, no entanto, são as periodontais, que causam desde gengivite até a perda de dentes. Especialistas apontam ainda que essas enfermidades podem desencadear, além de problemas no sistema digestório, impactos no cérebro.
"Estudos recentes vêm demonstrando uma conexão importante e preocupante entre doenças periodontais e distúrbios neurológicos, como o Alzheimer. E embora ainda estejamos distantes de afirmar que uma causa a outra, a ciência já aponta que manter a boca saudável pode ajudar a proteger também a mente", afirma o professor internacional do Departamento de Medicina Bucal, Infecção e Imunidade da Faculdade de Odontologia de Harvard, Jamil Shibli.
Cuidar da boca significa preservar o cérebro
De acordo com o profissional, cada vez mais pesquisadores têm se focado em investigar os riscos das doenças periodontais, ocasionadas pelo acúmulo de um grupo de bactérias na boca. Essas enfermidades possuem diferentes estágios. Enquanto o inicial gera a gengivite, os seguintes levam à periodontite leve, moderada ou avançada.
Como resultado, a boca é afetada por uma inflamação crônica, provocando até problemas mais sérios. "Já sabemos, há algum tempo, que elas estão relacionada a condições como diabetes, doenças cardiovasculares e partos prematuros. Agora, a conexão com doenças neurodegenerativas ganha força na literatura médica", aponta.
Shibli explica que o principal fator de risco dessa condição é a presença do microrganismo chamado de Porphyromonas gingivalis. Isso porque novos levantamentos apontam para ele como o responsável pelo desenvolvimento de enfermidades cerebrais, como o Alzheimer. Segundo o professor de Harvard, apesar de não ser a causa direta da demência, que está associada a predisposição genética, sedentarismo e idade, a bactéria contribui para a sua expansão.
"O quadro inflamatório gerado por uma infecção crônica na gengiva atua como um fator agravante da progressão da doença. Em outras palavras, pode ser o gatilho que acelera um processo que já estaria em curso", afirma.
Estudiosos, contudo, ainda buscam entender como esse ser vivo consegue sair da boca e seguir para o cérebro. Entretanto, eles deixam o alerta: cuidar diariamente dos dentes e da gengiva significa prevenir enfermidades, bem como preservar o corpo.
"Essa ligação reforça uma mensagem essencial: saúde oral é saúde sistêmica. Não é apenas sobre dentes bonitos ou hálito fresco. É sobre qualidade de vida, prevenção e longevidade. A negligência com a boca cobra um preço alto em outras partes do físico. Manter uma rotina de escovação adequada, visitar regularmente o dentista e tratar doenças periodontais com seriedade é investir na saúde como um todo", ressalta.