Nicotina é extremamente tóxica para o coração e o sangue, dizem especialistas
Relatório alerta que a nicotina, presente em cigarros tradicionais, vapes e outros dispositivos, é uma toxina cardiovascular e representa risco crescente
A nicotina costuma ser associada apenas ao cigarro tradicional, mas a ciência vem deixando um recado cada vez mais claro: independentemente da forma de consumo, ela faz mal ao coração e aos vasos sanguíneos. Cigarro eletrônico, narguilé, tabaco aquecido, sachês orais ou o velho cigarro comum - todos carregam riscos cardiovasculares relevantes.
Essa é a conclusão de um relatório internacional publicado no European Heart Journal, que reuniu especialistas da Alemanha, Itália, Estados Unidos e Reino Unido. Pela primeira vez, o documento analisou de forma conjunta todos os produtos que contêm nicotina, e não apenas o tabagismo convencional.
Jovens no centro do problema
Um dos pontos que mais preocupam os pesquisadores é o avanço rápido do uso de nicotina entre adolescentes e jovens adultos. O relatório mostra que cerca de 75% dos jovens que usam cigarros eletrônicos nunca haviam fumado antes, o que desmonta a ideia de que esses dispositivos seriam apenas uma "alternativa" para quem já fuma.
Sabores atrativos, marketing nas redes sociais e brechas na legislação têm funcionado como porta de entrada para a dependência. Para os autores, o cenário exige respostas urgentes, como restrições à publicidade, proibição de aromatizantes e regras mais rígidas para venda online.
A nicotina como toxina cardiovascular
O consenso dos especialistas é direto: a nicotina é uma toxina potente para o sistema cardiovascular. Ela aumenta a pressão arterial, acelera os batimentos cardíacos, provoca contração dos vasos e favorece alterações que levam à formação de placas de gordura nas artérias.
Segundo o relatório, nenhum produto com nicotina pode ser considerado seguro para o coração. Nem mesmo a exposição passiva, seja à fumaça, aos vapores ou às emissões do tabaco aquecido, é isenta de danos. Além disso, os pesquisadores alertam que esses produtos não funcionam como ferramentas eficazes para parar de fumar. Na prática, muitos usuários acabam adotando o chamado "uso duplo", combinando cigarros tradicionais com outros dispositivos, o que amplia ainda mais os riscos.
Custos invisíveis de uma epidemia silenciosa
As doenças relacionadas ao tabagismo geram impactos que vão além da saúde individual. O relatório destaca que os custos com assistência médica e perda de produtividade somam centenas de bilhões de euros por ano. No Brasil, os números ajudam a dimensionar o problema. Em 2023, o país registrou mais de 105 mil mortes por acidente vascular cerebral (AVC), segundo dados do DataSUS. Quando somados aos óbitos por infarto agudo do miocárdio, o cenário revela uma verdadeira epidemia silenciosa, na qual o cigarro segue como um dos principais protagonistas.
Estima-se que o tabagismo esteja associado a cerca de 25% dos infartos e a quase metade dos casos de AVC no país. Mundialmente, a Organização Mundial da Saúde calcula 8 milhões de mortes por ano relacionadas ao tabaco, sendo cerca de 1 milhão de pessoas não fumantes, vítimas do fumo passivo.
O impacto direto no coração e no cérebro
A ação da nicotina no organismo é rápida. Poucos segundos após a inalação, ela ativa o sistema nervoso, libera adrenalina e provoca uma sobrecarga imediata no coração. Com o tempo, esse estímulo constante favorece arritmias, endurecimento das artérias e maior propensão à formação de coágulos - fatores que aumentam o risco de infarto e AVC.
Com a popularização dos vapes, a preocupação cresce ainda mais. Muitos líquidos usados nesses dispositivos contêm altas concentrações de nicotina, além de substâncias tóxicas que irritam os pulmões e impactam a circulação. Casos de eventos cardiovasculares em jovens usuários já vêm sendo documentados.
Parar de fumar: sempre vale a pena
Apesar do cenário preocupante, a ciência também traz uma boa notícia: os benefícios de parar de fumar começam rapidamente. Nas primeiras horas sem nicotina, a pressão arterial tende a cair, o sangue se torna menos espesso e o risco cardiovascular inicia um processo gradual de redução. Cardiologistas reforçam que buscar ajuda profissional faz diferença. Programas estruturados aumentam as chances de sucesso, e mudanças no estilo de vida - como alimentação equilibrada e prática regular de atividade física - potencializam os ganhos para o coração.
O tabagismo, seja tradicional ou eletrônico, não afeta apenas quem fuma. Ele sobrecarrega o sistema de saúde, compromete a qualidade de vida das famílias e expõe pessoas que não escolheram estar em contato com a nicotina. Informar, regular e apoiar quem deseja parar é uma responsabilidade compartilhada. As escolhas feitas hoje moldam o futuro da saúde cardiovascular.