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“Não me arrependo de vestir Marisa Letícia”, diz estilista

Walter Rodrigues lançou coleção-cápsula em parceria com a Spezzato e disse que a crise brasileira deve trazer algo de bom

31 mai 2017 - 14h20
(atualizado às 17h48)
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Foto: Charles Naseh / Divulgação

O estilista Walter Rodrigues encerrou as atividades de sua marca em 2012, abandonando os desfiles e o lançamento da coleções próprias para se dedicar como consultor da Assintecal - Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro e curador da Bogotá Fashion Week. Mudou-se para Caxias do Sul e de lá para cá fez apenas duas incursões pelo mundo das passarelas. Uma em 2013, em parceria com a grife Alcaçuz, e outra nesta terça-feira (30), com a Spezzato, lançando 12 modelos exclusivos de festa.

“Há tempos estávamos buscando uma parceria de peso para a linha festa da Spezzato. A coleção criada pelo olhar sofisticado de Walter Rodrigues imprime preciosismo e veio ao encontro do que pretendíamos,” afirmam Andrea Kurbhi e Roberta Nahas, sócias-proprietárias da Spezzato.

O desfile aconteceu no Jockey Club de São Paulo, junto com o lançamento da coleção de verão 2018 da marca paulistana, com suas roupas urbanas e confortáveis, recheadas de vestidos, camisas, saias, calças e paletós, em cores suaves, como off white, estampas delicadas e pitadas de vermelho e coral. Babados, assimetria e decotes ombros a ombro também marcaram presença.

Ana Claudia Michels para Spezzato
Ana Claudia Michels para Spezzato
Foto: Charles Naseh / Divulgação

O desfile da grife foi aberto por Ana Claudia Michels. No final, os 12 modelos criados por Walter Rodrigues entraram na passarela armada no salão de festas do espaço. Pouco antes da apresentação, o estilista falou com o “Elas No Tapete Vermelho”. Para ele, leveza é a palavra que ditará as tendências no próximo ano. O estilista paulista, que vestiu a ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em fevereiro deste ano) diz que não se arrepende de nada do que fez e afirma: “perdemos nossa chance”, ao se referir à moda brasileira, que não soube aproveitar a bolha favorável que se criou no Brasil nos anos 2000. Falou de política e corrupção também. Confira trechos da entrevista.

Walter Rodrigues e duas de suas criações para a Spezzato
Walter Rodrigues e duas de suas criações para a Spezzato
Foto: Rosângela Espinossi / Elas no Tapete Vermelho

Elas no Tapete Vermelho – Qual foi sua inspiração para essa coleção?

Walter Rodrigues - É toda japonesa, inspiração que é minha paixão. São 12 vestidos, cada um com uma estampa própria e única, de flores: ikebanas, galhos de cerejeiras, peônias, papoulas. Vermelho e preto são cores que adoro, pontuados por amarelos e azuis.

Elas no Tapete Vermelho – Tinha saudades de fazer um desfile?

Walter Rodrigues – Não, de jeito nenhum. Tenho saudades das pessoas com quem eu trabalhei, mas não do estresse de um desfile. Dessa vez, pude ficar na minha casa até as 17h. A equipe aqui preparou tudo. E veja como são as coisas, eu vendi muita roupa na boutique da tia da Andrea (Chammas Kurbhi), a Claudete & Deca. E ela disse que tem vestidos meus.A moda permite conhecer pessoas muito legais.

Desfile Walter Rodrigues
Desfile Walter Rodrigues
Foto: Charles Naseh / Divulgação

Elas no Tapete Vermelho – E como vê a moda dentro dessa situação atual do Brasil?

Walter Rodrigues – Está muito ruim tudo. Diante de tanta crise, alguma coisa tem de acontecer e isso é maravilhoso, porque algo tem de mudar. Vamos ver alguma coisa nova . As pessoas, mesmo na criação, terão de ser mais honestas, mais verdadeiras, mais elas mesmas. Isso é muito importante.

Elas no Tapete Vermelho – A situação atual reflete de alguma forma na imagem da moda brasileira lá fora?

Walter Rodrigues – A gente perdeu a nossa chance. Tenho essa sensação. Não aproveitamos a bolha que foi criada no ano 2000 e pouco, quando tínhamos de certa forma compradores internacionais. Eu fui para Paris de 2002 a 2006. Era muito legal, mas nós e as empresas não conseguimos sustentar tudo isso. Sozinhos, não tínhamos condições de sustentar. E não tivemos apoio nenhum. Não que a política tenha de nos sustentar, mas não houve apoio para o varejo, o negócio. E o imposto brasileiro é uma história que não dá. Eu hoje não faço roupa, trabalho como consultor e pago quase 24% do que ganho de imposto para um governo corrupto. Então, o que você pode esperar? Nada.

Elas no Tapete Vermelho – Se arrepende de ter vestido a primeira-dama Marisa Leticia (1950-1017), por conta das noticias contra o PT?

Walter Rodrigues – Nunca, nunca. Isso pra mim é indiferente. Naquele momento, o Brasil tinha uma esperança. E eu, como brasileiro, também tinha. Apesar de não ter votado neles, eu tinha essa esperança. Poderia ter sido algo tão diferente que trouxesse alguma mudança. Tenho muito orgulho de ter vestido a mulher que representava todas as mulheres do Brasil. Ela era uma pessoa muito carismática, querida. Tenho muito respeito por ela e sempre vou ter. Eu não me arrependo de nada.

Elas no Tapete Vermelho – Hoje você trabalha como consultor de tendências. O que pode nos adiantar sobre as próximas tendências?

Walter Rodrigues – Estamos trabalhando com os inverno 2018 junto com as empresas. E a palavra é leveza. Temos de ser leve. Temos de olhar para o mundo, mas por outro lado. E isso se reflete no mobiliário, na confecção, nos sapatos e na joalheira. É o grande movimento de moda brasileira.

Elas no Tapete Vermelho – Se arrepende de ter vestido a primeira-dama Marisa Leticia (1950-1017), para a posse, por conta das noticias contra o PT?

Walter Rodrigues – Nunca, nunca. Isso pra mim é indiferente. Naquele momento, o Brasil tinha uma esperança. E eu, como brasileiro, também tinha. Apesar de não ter votado neles, eu tinha essa esperança. Poderia ter sido algo tão diferente que trouxesse alguma mudança. Tenho muito orgulho de ter vestido a mulher que representava todas as mulheres do Brasil. Ela era uma pessoa muito carismática, querida. Tenho muito respeito por ela e sempre vou ter. Eu não me arrependo de nada.

Elas no Tapete Vermelho – Hoje você trabalha como consultor de tendências. O que pode nos adiantar sobre as próximas tendências?

Walter Rodrigues – Estamos trabalhando com os inverno 2018 junto com as empresas. E a palavra é leveza. Temos de ser leve. Temos de olhar para o mundo, mas por outro lado. E isso se reflete no mobiliário, na confecção, nos sapatos e na joalheira. É o grande movimento de moda brasileira.

SPFW aposta nos tons escuros e sombrios em seu primeiro dia:
Elas no Tapete Vermelho
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