Misofonia e a intensa irritação ao escutar certos sons: conheça a condição
A misofonia é mais do que incômodo com barulhos, é uma reação emocional intensa a sons cotidianos; entenda o que causa essa condição, seus sintomas e tratamentos
Você já se irritou com o som de alguém mastigando, estalando os dedos ou clicando uma caneta sem parar? Para a maioria das pessoas, esses ruídos passam despercebidos. Mas, para quem tem misofonia, eles podem despertar reações fortes, como raiva, ansiedade e desconforto físico.
A misofonia, termo que vem do grego e significa "ódio ao som", é uma condição em que certos ruídos cotidianos provocam respostas emocionais desproporcionais. Não se trata de simples irritação: é uma experiência real e intensa, capaz de gerar sintomas físicos, como aceleração dos batimentos cardíacos, tensão muscular e vontade imediata de sair do ambiente.
O que é a misofonia e como ela se manifesta
De acordo com especialistas, os sintomas costumam surgir ainda na infância ou adolescência, entre os 9 e 13 anos, e tendem a persistir na vida adulta. Sons como mastigar, tossir, fungar, digitar ou respirar alto estão entre os gatilhos mais comuns.
Quando o barulho aparece, a pessoa sente uma ativação emocional súbita, como se o corpo entrasse em modo de alerta, disparando reações de irritação, angústia ou até nojo. Muitos reconhecem que essa resposta é exagerada, mas não conseguem controlá-la. Por isso, a condição é comparada, em alguns aspectos, a uma fobia. O incômodo pode ser tão grande que impacta o convívio social e as relações pessoais. É comum evitar jantares, cinemas ou ambientes barulhentos para fugir de situações gatilho.
O que a ciência já descobriu sobre a misofonia
Embora as causas ainda não sejam totalmente compreendidas, estudos indicam que a misofonia está relacionada a uma hipersensibilidade entre as áreas do cérebro que processam sons e emoções. Pesquisas recentes, publicadas no British Journal of Psychology, sugerem que pessoas com misofonia têm maior dificuldade em alternar o foco entre estímulos emocionais e neutros - algo chamado de flexibilidade afetiva.
Isso significa que, diante de sons carregados de significado emocional, o cérebro reage com mais intensidade e tem dificuldade em "desligar" a resposta. O estudo também apontou que pessoas com misofonia apresentam maior tendência à ruminação - ou seja, ficam presas em pensamentos repetitivos e negativos, especialmente ligados à irritação ou autocrítica. Essa combinação entre reatividade emocional e rigidez mental explicaria parte do sofrimento vivido por quem convive com a condição.
Diagnóstico e acompanhamento
O diagnóstico costuma começar com uma avaliação auditiva, feita por um fonoaudiólogo, para descartar possíveis alterações no sistema auditivo. Depois disso, o acompanhamento pode envolver psicólogos e psiquiatras, já que o foco principal é aprender a lidar com as emoções associadas aos sons. Embora não exista cura definitiva, há estratégias eficazes para reduzir o impacto da misofonia. Entre elas:
- Terapia de treinamento auditivo: a pessoa é incentivada a focar em sons neutros ou agradáveis, como música suave, enquanto está exposta a ruídos incômodos. Com o tempo, o cérebro aprende a reagir de forma mais branda;
- Terapia psicológica: a psicoterapia, especialmente as abordagens cognitivas e de regulação emocional, ajuda a identificar memórias, crenças e padrões mentais ligados à reação sonora, reduzindo o sofrimento e aumentando o autocontrole;
- Dispositivos de proteção auditiva: em casos mais intensos, pode-se usar tampões de ouvido ou fones com cancelamento de ruído, mas sempre com acompanhamento psicológico. O objetivo é aliviar, sem isolar a pessoa do convívio social;
- Práticas de relaxamento: técnicas como mindfulness, respiração consciente, meditação, hipnose e biofeedback têm mostrado bons resultados. Elas treinam o corpo a responder com calma, mesmo diante de estímulos desagradáveis.
Mais do que o som: uma questão emocional
Pesquisadores reforçam que a misofonia não é "frescura" nem "mania". É uma condição real e complexa, que envolve a forma como o cérebro integra som, emoção e atenção. Compreender o que está por trás da misofonia é o primeiro passo para lidar com ela com empatia, seja em si mesmo ou em alguém próximo.