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Confeitaria Colombo vende 50 mil doces por mês; conheça

Descubra a história e quais são os salgados mais pedidos do tradicional estabelecimento

24 mai 2013 - 11h37
(atualizado em 10/12/2013 às 14h32)
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O turista que entra na rua Gonçalves Dias, no coração da moderna cidade do Rio de Janeiro, toma um susto quando se depara com a beleza e tradição refletidas nos espelhos belgas que dominam o ambiente. Junto deles compõem o cenário da Confeitaria Colombo estantes de Jacarandá e móveis talhados pelo artista Antonio Borsoi, enfeitadas com o que há de melhor e mais saboroso da culinária portuguesa no Brasil. “Quando comecei a trabalhar aqui só se entrava de terno e gravata. E foi assim até o início da década de 70. Até gorjeta era proibido”, conta ao Terra o garçom Orlando Duque, de 76 anos e que em julho completa 61 anos de Confeitaria Colombo. 

<p>Orlando Duque tem quase 61 anos de casa</p>
Orlando Duque tem quase 61 anos de casa
Foto: Daniel Ramalho/Terra

“Comecei aqui com 14 anos de idade, varrendo o chão, fui subindo para ajudante de garçom, folguista, até chegar a garçom. A Colombo é minha família”, diz, lembrando dos tempos em que servia cafezinho ao presidente Getúlio Vargas que, entre uma ou outra reunião, discutia e decidia o destino da nação. Sempre nas mesas de mármore italiano, perfeitamente arrumadas com talheres de prata e louças Vista Alegre com o logotipo da casa. Orlando serviu ainda os presidentes Juscelino Kubstichek e Tancredo Neves. “Nós sabíamos a hora de certa de nos aproximar quando eles estavam tratando de questões mais sérias”, conta Duque, que entre uma resposta e outra, orienta os mais novos para que não falte nada aos clientes que chegam mais cedo para almoçar.

Fundada em 1894 pelos portugueses Joaquim Borges de Meireles e Manuel José Lebrão (autor da famosa frase: “O freguês tem sempre razão”), o local era o expoente da Belle Époque, que transformou o Rio de Janeiro do fim do século 19 numa verdadeira “Paris tupiniquim”, englobando ainda as ruas do Ouvidor, com seu comércio, e Primeiro de Março, com suas igrejas quase que geminadas, para demonstrar a força das ordens religiosas que se confundiam como autoridade local. “Nossa rua deveria ser até mais famosa que outras do centro do Rio. Aqui ao lado trabalhou Carmem Miranda; foi aqui que prenderam Tiradentes”, lembra Orlando Duque, dizendo que quando o Teatro Municipal fazia seu baile de gala, com bufê da casa, era para a Colombo que iam depois da festa artistas como Rock Hudson e Gina Lolobrígida.

<p>Maravilhas da culinária portuguesa enfeitam os balcões</p>
Maravilhas da culinária portuguesa enfeitam os balcões
Foto: Daniel Ramalho/Terra

Nessa época o Rio ainda desfrutava do glamour de ser capital da República. “Acho que agora a cidade está começando a ficar melhor outra vez. Mas quando perdemos o direito de ser capital para Brasília, a cidade ficou bagunçada. Como Distrito Federal as pessoas tinham mais respeito pela cidade, não tinha tanta malandragem”, relembra Duque, sem deixar de citar famosos nacionais que frequentaram o local como Chiquinha Gonzaga, Lima Barreto, Olavo Bilac e mais tarde políticos como Carlos Lacerda, sem falar que era ponto de encontro tradicional de deputados federais na ainda capital da república.

<p>A confeitaria oferece 33 tipos de salgados</p>
A confeitaria oferece 33 tipos de salgados
Foto: Daniel Ramalho/Terra

Mas imediatamente o veterano garçom, e figura histórica do local, faz uma pausa nas suas memórias e lembra que agora os tempos são outros. E isso se nota no verdadeiro frenesi que acontece no entra e sai constante de turistas que lotam os dois salões da Confeitaria todos os dias (até nos feriados, coisa que não acontecia antigamente, lembra Orlando Duque, dizendo que cerca de 5 mil pessoas vão ao local no feriado). No Salão Jardim, no térreo, todos vão em busca das maravilhas da culinária portuguesa que enfeitam os balcões, enchem os olhos e dão água na boca. Se você preferir doce pode optar pelas 34, isso mesmo, 34 variedades, com destaques para o pastel de nata, o quindim de camisola, o mil folhas, as bombas e a grande novidade: o pastel de caipirinha. “Vendemos em nossos balcões em média cerca de 50 mil doces e o mesmo tanto de salgados. Por mês usamos em média 4 toneladas de farinha, 3 toneladas de açúcar, 25 mil ovos”, conta o chef Renato Freire, responsável pelo cardápio da casa e que recentemente lançou um livro de receitas da casa Confeitaria Colombo – sabores de uma cidade.

Na parte dos salgados, mais uma deliciosa seleção de aguçar o paladar do turista ou mesmo do carioca, que às vezes esquece de visitar um local que traduz tão bem um período da história do Brasil e que se preserva quase que à perfeição. “São 33 tipos de salgados e os campeões de venda são: coxinha de galinha, camarão empanado, coxa creme, empada de galinha e cromesqui de língua defumada”, conta Freire.

Alternativa

Quem tem mais um pouco de tempo, ou de previsão, e faz sua reserva pode desfrutar do restaurante Cristóvão, na parte de cima da Confeitaria Colombo, onde às quintas-feiras se serve o tradicional vatapá com acaçá, no cardápio desde 1901. E de quebra, ter a sorte de ser servido por Orlando Duque. “Há clientes  que sirvo há mais de 40 anos. Tem uma mesa que existe há 73 anos, desde o tempo do Ari Barroso, onde rubro-negros se reúnem para falar do clube. Embora eu seja vascaíno, sou eu quem arruma a mesa, e até hoje reúnem ali filhos de ex-presidentes do clube”, revela Orlando Duque, citando como curiosidade. Algumas mesas têm até nome, como a homenagem feita ao empresário e político Assis Chateubriand, homem forte da comunicação brasileira nas décadas de 40 e 50 e fundador dos Diários Associados.

<p>O restaurante Cristóvão fica na parte de cima da confeitaria</p>
O restaurante Cristóvão fica na parte de cima da confeitaria
Foto: Daniel Ramalho/Terra

Contrastando com a experiência de Orlando Duque e seus quase 61 anos de casa, é possível levar lembranças deliciosas de uma experiência da Confeitaria Colombo das mãos ainda pouco experientes de Luana Alves, que chegou na casa há pouco mais de um mês e é a funcionária mais nova da casa. Ela cuida da parte de souvenirs da confeitaria. “Sempre trabalhei em restaurante e meu sonho era trabalhar aqui. Um local que foi frequentado pela minha avó e que sei da importância que tem para a história da cidade”, conta enquanto embrulha uma caixa com o biscoito Leque, um biscoito waffle sem recheio, receita da casa que vem uma clássica lata de alumínio desde 1921.

Luana se encarrega da venda de quase tudo relacionado à casa como cardápios, porta-copos, potes de vidros cheios de balas coloridas, biscoitos, além de livros que contam a história do estabelecimento. História que já foi contada em mais de 10 novelas e minisséries gravadas por lá. “A Colombo vai continuar por toda a vida. Todos iremos passar e ela vai ficar. Uma casa sempre bonita, limpa. Hoje em dia tem até casamento, o que antigamente era proibido. Tomara que eu dure mais tempo por aqui”, pede Orlando Duque.

Para quem quiser economizar um pouco (com tanta coisa a degustar, a tentação de gastar muito é grande) e saber mais detalhes da história da casa é só pedir uma mesa, tomar tranquilamente seu café e solicitar uma folha de papel com a história da casa. Com versões em português, inglês, francês, espanhol e alemão, faz com que a gente mergulhe ainda mais na história da Confeitaria Colombo. Uma delícia de culinária e um banho de cultura que, para nossa sorte, parecem ter parado no tempo.

Fonte: Terra
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