Consumo de álcool traz prejuízos para a saúde mental, diz estudo
Estudos recentes revelam que o álcool tem impacto direto sobre a saúde mental, aumentando o risco de depressão, comportamento suicida e outros transtornos
Um levantamento recente feito por pesquisadores do Canadá reuniu resultados de 13 estudos, com dados de 101 países, e reforçou um alerta importante: o consumo de álcool está ligado à piora da saúde mental e a desfechos graves de autoagressão. Diante deste cenário, especialistas defendem acolhimento, escuta qualificada, redução de danos e políticas públicas que desestimulem o beber pesado - um caminho que passa tanto por escolhas individuais quanto por medidas coletivas.
O que a pesquisa encontrou
A análise publicada pela Associação Médica Americana estimou que, nos países avaliados, cada litro a mais no consumo médio de álcool da população se associa a um aumento de 3,59% na taxa de mortes por suicídio por 100 mil habitantes. Os autores defendem que essas mortes podem ser evitadas por meio de uma combinação de intervenções em nível individual e populacional, e que a evidência serve de base para políticas de prevenção focadas no álcool.
Os danos do álcool vão além da dependência. À longo prazo, ele provoca sequelas e um sem número de complicações, incluindo a alteração do funcionamento cerebral. Por ser um depressor do sistema nervoso central, uma pessoa com tendência à depressão têm um risco ainda maior de desenvolver a doença.
O tamanho do problema no Brasil
No Brasil, a psiquiatra Alessandra Diehl, do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas, investigou o tema no mestrado ao entrevistar pessoas internadas após tentativa de suicídio: 21% haviam ingerido álcool antes do episódio. Como ela resume, "muitas delas não eram alcoolistas, propriamente ditas, mas o consumo de álcool era como um disparador para a tentativa. E entre aqueles que realmente têm dependência, essa associação também foi significativa", disse ao portal Notícias ao Minuto.
Além disso, relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS) atribuem ao álcool 18% das mortes autoprovocadas em 2019 (mais de 203 mil no mundo). No país, o consumo per capita foi de 7,7 litros por pessoa naquele ano - acima da média global (5,5 L). O Vigitel 2023 indicou que mais de 20% dos adultos relataram uso abusivo. A meta brasileira é reduzir para 17% até 2030, o que exige decisões políticas difíceis diante da força da indústria do álcool.
Redução de danos e políticas públicas
O cuidado contra o alcoolismo é multifacetado e individualizado. Começa por avaliação diagnóstica (considerando comorbidades), pode incluir desintoxicação assistida, psicoterapia (como TCC), medicação quando indicada e grupos de apoio. Estratégias de redução de danos também podem ser um ponto de partida realista para quem ainda não consegue ou não quer abstinência completa. O objetivo é a recuperação sustentada, com qualidade de vida.
No plano populacional, evidências internacionais mostram que taxação, regulação de propaganda e restrição de acesso ajudam a reduzir consumo e mortes. No Brasil, o desafio extra está em proteger adolescentes, que ainda têm fácil acesso à bebida, apesar da proibição legal.
Pequenas doses são seguras? A ciência diz: cuidado
Um estudo no BMJ Evidence-Based Medicine com mais de 560 mil pessoas concluiu que não existe dose segura de álcool. Mesmo quantidades consideradas baixas aumentam o risco de demência, especialmente em portadores da variante APOE4. A mensagem prática: se optar por beber, faça escolhas informadas e com moderação - e, se o álcool já causa prejuízos, procure ajuda.
Quem enfrenta ideias suicidas, lida com emoções intensas ou percebe problemas relacionados ao álcool pode procurar Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e Unidades Básicas de Saúde para acompanhamento contínuo. Em emergências, busque UPAs e hospitais ou acione o SAMU 192. Para suporte emocional imediato, o Centro de Valorização da Vida (CVV) atende 24h, gratuitamente e com sigilo, pelo 188 e em cvv.org.br.