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Respeitável público, O circo voltou: após dois anos artistas voltam a se apresentar

Em São Paulo, o Festival Internacional de Circo volta a acontecer depois de dois anos de pandemia

27 mar 2022 - 09h50
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A arte invade casas, cidades, se monta nas ruas. Em um picadeiro, em meio às arquibancadas, nasceu o riso. Piolin, como era conhecido Abelardo Pinto, um dos mais respeitados palhaços do Brasil, nasceu no dia 27 de março de 1897, dentro de um circo montado em Ribeirão Preto. Em sua homenagem, neste domingo, 27, é comemorado o dia nacional do circo.

A profissão era de família, então Piolin aprendeu palhaçaria, equilibrismo e acrobacias, se tornou um palhaço mundialmente famoso, participou dos filmes de Carmem Miranda, fez shows no mundo inteiro. Sua morte, decorrente de uma parada cardíaca, tomou a atenção do Brasil — assim como faziam as suas piadas.

Em 2020, quando o mundo precisou adotar medidas de distanciamento social para evitar o pico de casos da covid-19, o circo perdeu a graça. As lonas foram dobradas, guardadas a ponto de pegar mofo. Quem ia até as pessoas, precisou ficar em casa. Mas quando o dinheiro das bilheterias é a única fonte de sobrevivência, o artista pode passar fome.

A acrobata Ellen Moreira, 35, é formada em educação física e trabalha com circo há 14 anos. Ela é produtora e uma das fundadoras da companhia de Circo Colore. Também é curadora do Centro de Artes Circenses de São José dos Campos. Quando o Brasil precisou manter um distanciamento de um metro e meio e os espetáculos não podiam acontecer, ela ficou sem saber de onde tirariam verbas para sustentar os artistas que integravam sua equipe.

"Para a nossa classe, esse cenário foi desolador. Eu moro no oásis da cultura. A fundação cultural tenta buscar a equidade nas artes, para que todas as classes tenham uma boa divisão dos recursos e não fique tudo no balé ou no teatro. Quando fechou tudo, no dia 18 de março, ninguém sabia o que fazer. Precisamos interromper tudo. Em 20 dias colocamos as 200 oficinas e apresentações online, mas com o passar do tempo, tivemos uma redução nos recursos, por conta da baixa adesão do público", contou Ellen.

A Lei Aldir Blanc, que prevê auxílio financeiro ao setor cultural, acabou sendo a única fonte de renda para esses artistas durante a pandemia. Nesse período os artistas sentiram que os editais não poderiam ser vistos como renda. Com o empobrecimento da classe, eles notaram que faltavam políticas públicas para garantir a sobrevivência dos artistas de circo.

Rebecca Stauffer começou no circo com o malabares, aos 12, mas só passou a enxergar a carreira de uma perspectiva profissional há três anos. Mesmo assim, ela ainda divide o espaço das turnês com o emprego de Relações Públicas. Sonha com o dia que vai conseguir viver de circo, mas não prevê que isso aconteça num futuro próximo.

"O artista não consegue viver de edital, eles são pontuais, não sabemos quando vão abrir, se iremos passar. Eles são fundamentais, que bom que temos esse apoio do governo, mas não pode ser nossa fonte de sobrevivência", afirmou.

Como gestora de uma grande fundação, que precisava garantir a sua sobrevivência e a de outros artistas nesse período, Ellen viu o cerco se apertar para muitos artistas e chegou a adoecer vendo os colegas enfrentando dificuldades financeiras. "Eu tive que inscrever oito editais na Aldir Blanc em um ano. Normalmente inscrevo um, ou dois, no máximo."

"Cheguei a adoecer, o desgaste emocional foi absurdo. Mas foi o único recurso de sobrevivência. Muitos artistas não têm nenhuma facilidade na linguagem, nunca tinham participado de um edital. Ficamos ainda mais desamparados com o fim do Ministério da Cultura. A prioridade era comer, felizmente ninguém passou fome, mas foi muito difícil", disse.

A professora da companhia de Circo Péralas ao Vento, Marthinha Böker, 45, entrou para o circo como palhaça e ela conta que nasceu assim, piadista, engraçada e transbordando arte. Começou a estudar palhaçaria em Salvador, onde aprendeu que palhaço não podia ser só engraçado e tinha que fazer acrobacias. Hoje ela é professora de acrobacias e vê o circo como um ambiente social. "Estamos sempre nos espaços de vulnerabilidade e entendo o circo como um espaço de todo mundo, mas os palhaços que vêm do teatro são mais respeitados pela população, pelas elites".

"A mesma coisa acontece com quem faz faculdade de dança ou teatro e usa a acrobacia como um instrumento. Essa pessoa acaba sendo muito respeitada com a sua arte, mas o artista da rua ou da lona sempre é marginalizado. Já participei de festival de rua, o lugar do circo, onde ele é visto, onde queremos estar rodeados por todo tipo de pessoa; mas no festival sempre tem a belíssima bailarina que vai com sua sapatilha com ponteira de ouro que tem nojo das nossas lonas, pede até para retirar, para que a sapatilha não se suje", conta.

Para Marthinha, a marginalização do artista de circo e dos artistas de rua são um dos principais motivos para que eles tenham sido esquecidos pelas políticas públicas durante a pandemia.

O retorno às ruas, praças, lonas e picadeiros promete unir ainda mais esses artistas. O amor pelo público ainda transborda. Assim como Piolin, Marthinha sente falta de ouvir as gargalhadas de perto, a poucos metros. Ellen sente falta dos abraços e aplausos do público. Rebecca não vê a hora de voltar a estender a lona no chão de uma cidade desconhecida numa nova turnê. Os artistas estão voltando com as apresentações depois de mais de dois anos se planejando para isso.

"Precisamos falar do circo para quem não é do circo, mostrar o Festival do Circo, para quem não é dessa área, para que as pessoas entendam que vivemos disso e como funcionam os bastidores, para que outras pessoas saibam o que significa o circo e porque essa dia é tão comemorado por nós", diz Ellen.

Confira onde se divertir

Festival Internacional de Circo - FIC

  • Quando: 23 de março a 17 de abril
  • Para quem: Crianças de 0 a 20 anos são bem-vindas
  • Quanto: Grátis - Os ingressos são distribuídos com um dia de antecedência
  • Onde: São Paulo

Região Central (Centro Histórico, Bom Retiro, Santa Ifigênia)

Zona Norte (Perus, CH Eduardo Gomes)

Zona Sul (Parelheiros, Jardim Sabará, Ipiranga)

Zona Leste (Cangaíba, Cidade Tiradentes, Guaianases, Jardim Popular, Vila Paulista)

Zona Oeste (Água Branca, Lapa)

Dia do Circo no Jardim Pamplona Shopping

  • Quando: de 26/03 a 27/03
  • Para quem: a partir de 4 anos
  • Quanto: Gratuito
  • Horários: Oficinas das 14h às 20h, Atrações circenses às 14h30,16h e 18h
  • Onde: Jardim Pamplona Shopping - São Paulo, SP

Espetáculo Mulher do Circo

  • Quando: 23/03 às 17h30
  • Para quem: Livre
  • Quanto: Gratuito
  • Horários: 17H30
  • Onde: Corredor do Centro Cultural Olido, Centro de São Paulo

Circo de Doisdo

  • Quando: 31/03
  • Para quem: Livre
  • Quanto: Gratuito
  • Horários: 10h00
  • Onde: Praça Miguel Dell'erba, São Paulo

Clublinho do West: Orquestra Circônica

  • Quando: 27/03
  • Para quem: Livre
  • Quanto: Gratuito
  • Horários: 15h
  • Onde: West Shopping, Campo Grande - Rio de Janeiro

Circo do Topetão

  • Quando: 26 e 27/03
  • Para quem: Livre
  • Quanto: Gratuito
  • Horários: 16h
  • Onde: Teatro Clara Nunes - Diadema, SP

Birita Procura-se

  • Quando: 01/04
  • Para quem: Livre
  • Quanto: Gratuito
  • Horários: 20h
  • Onde: Centro Cultural Arte em Construção - São Paulo
Estadão
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