Normalização da magreza extrema vira tendência perigosa entre jovens nas redes sociais
Psicóloga alerta para sinais de sofrimento, autocobrança e vulnerabilidade entre adolescentes
A busca pela magreza extrema voltou a crescer entre adolescentes e jovens mulheres. Agora, a tendência vem impulsionada por filtros que "aprimoram" corpos de forma quase imperceptível e artistas nacionais e internacionais em evidência. Dessa forma, o fenômeno preocupa profissionais da saúde mental, que observam um aumento significativo de comportamentos de risco associados à autocobrança estética. Então conversamos com a psicóloga, Dra. Blenda Oliveira, para você entender melhor o cenário:
Busca pela magreza extrema está sendo normalizada e desejada
É fácil cruzar com vídeos que ensinam a como alcançar a magreza extrema nas redes sociais. Normalmente, são jovens, que ensinam sua rotina alimentar e de atividade física. "Esta pressão sempre existiu. Mas o que se vê agora é a normalização de corpos extremamente magros. Esses são vistos como algo desejável, admirável e até saudável. Porém, isso é perigoso, pois mascara o sofrimento emocional e cria um ideal inalcançável", explica.
Além disso, a combinação entre comparação social constante e edição de imagem contribui diretamente para a distorção de percepção corporal. "As meninas se olham menos no espelho e mais na câmera, sempre com filtro, para 'melhorar' algo. Dessa maneira, elas passam a estranhar o próprio corpo real", alerta.
Influência das redes sociais e a vulnerabilidade da adolescência
A influência das redes sociais é decisiva nesse processo. Isso porque tendências que romantizam dietas radicais, rotinas exaustivas de exercícios e corpos extremamente magros fortalecem um ambiente de validação imediata. "Quando uma jovem posta uma foto, e recebe comentários como 'você está mais magra', isso reforça a ideia de que ser magra é ser melhor. É um ciclo de aprovação externa que alimenta inseguranças internas", detalha a especialista.
A adolescência é um período especialmente sensível a esse tipo de pressão, de acordo com Oliveira. O corpo está em transformação, a identidade, em construção e o desejo de pertencimento é intenso. "A magreza passa a ser vista como sinônimo de disciplina, sucesso e autocontrole. Quando esse ideal vira objetivo de vida, abre caminho para dietas restritivas, jejuns prolongados e comportamentos compulsivos", ressalta.
Os efeitos emocionais, por sua vez, podem ser profundos. Culpabilização após comer, vergonha do próprio corpo, autoexigência excessiva e isolamento social surgem com frequência. "Muitas começam a evitar situações sociais porque têm medo do julgamento. Isso afeta relações familiares, amizades e até o desempenho escolar", acrescenta.
Com a proximidade de eventos sociais, como confraternizações, férias e grande circulação de fotos, a pressão tende a aumentar. "O período festivo costuma agravar a ansiedade com a imagem. Há mais comida, encontros, registros e, consequentemente, comparação. Para quem já está vulnerável, isso pode ser gatilho para recaídas ou comportamentos extremos", avisa.
Como ajudar a reconhecer o perigo da magreza extrema?
Então, diante deste fato, o que as pessoas podem fazer para ajudar? Para a psicóloga, é muito importante que a família e a escola acolham. "É essencial observar mudanças de humor, padrões alimentares rígidos, falas autodepreciativas e fixação no peso. A abordagem deve ser empática, sem julgamentos ou comentários sobre o corpo. Perguntar 'como você está se sentindo?' é sempre melhor do que dizer 'você não precisa disso'.", ilustra.
Por fim, quando sinais de sofrimento se tornam persistentes, é hora de buscar ajuda profissional. "Transtornos alimentares não começam de um dia para o outro. Eles se desenvolvem em silêncio, em pequenas renúncias e pequenas obsessões. Procure ajuda ao perceber que a relação com o corpo deixou de ser saudável e passou a ser uma fonte de angústia", orienta.
Para Blenda, a prevenção passa por educação emocional e alfabetização digital. "Precisamos ensinar jovens a reconhecer manipulações de imagem, identificar padrões inalcançáveis e compreender que o valor pessoal não está no corpo. Quanto mais falarmos sobre isso, menos espaço damos para tendências que colocam vidas em risco", conclui.
*Matéria feita em parceria com nossa colunista, Blenda Oliveira, e seu assessor, Alexandre Poletto