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Mês do Refugiado: Instituto Adus já atendeu 10 mil pessoas

Movido pela esperança em sua mais bruta forma, Marcelo Haydu encabeça organização que já ajudou mais de 10 mil pessoas

23 jun 2023 - 06h20
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Marcelo Haydu lidera a organização humanitária que tem cerca de 30 colaboradores formais e a mesma quantidade de voluntários
Marcelo Haydu lidera a organização humanitária que tem cerca de 30 colaboradores formais e a mesma quantidade de voluntários
Foto: Divulgação

São tantos e tão significativos os episódios que ajudaram a forjar quem é hoje Marcelo Haydu que tornam inglória a tarefa de selecionar o melhor deles para iniciar seu perfil.

Eu poderia escolher a história de seu avô, que escondido no porão de um navio, fugiu absolutamente sozinho da Hungria e da Segunda Guerra Mundial rumo a um desconhecido Brasil. Também não seria de todo mal contar que desde a juventude, Marcelo foi voluntário no auxílio a pessoas em situação de rua, ou que em um trabalho realizado durante a graduação teve contato com refugiados de países africanos. 

Mas essa jornada pessoal, que culminou na criação do Adus, premiado instituto humanitário de inclusão de imigrantes forçados que já soma 13 anos de história, também não deixa a desejar: foram cinco anos carregando currículos de refugiados debaixo do braço, nas suas longas caminhadas em busca de um emprego - emprego, este, que chegou para muitos daqueles que ajudou, mas jamais para si próprio.

Talvez o que haja de comum entre todas essas passagens seja a conjunção de dois elementos: indignação e esperança. Indignação pelas mazelas humanas. Esperança em sua mais bruta forma, sem floreios ingênuos e infantis sobre um mundo melhor. Esperança como matéria-prima da energia criativa, em lugar da imaginativa. Esperança na humanidade - na dele, na do outro e na nossa, em coletivo.

Em uma definição simplista, refugiados são imigrantes forçados por violação de direitos humanos, conflitos armados ou por perseguição baseada em raça, religião, nacionalidade, opinião política, orientação sexual, pertencimento a um grupo social etc. No início de 2023, a fila de refugiados chegou a 134 mil pessoas, maior número desde que o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) foi criado, em meados de 1990. Apenas a título comparativo, em 2010 eram pouco mais de 600 pedidos na espera. São pessoas oriundas de mais de 70 nacionalidades, mas  90% delas, segundo a Adus, são de quatro países: Venezuela, Síria, Afeganistão e Congo.  

"Se o propósito não é de coração, não é algo que está enraizado, você não aguenta certas coisas pela qual passa. O propósito, para mim, é a bateria. Ela está ligada o tempo todo e que nos momentos de adversidade, de desafios, toca, dá o ânimo. Porque a gente leva vários tombos", contou Marcelo, em entrevista ao podcast Vale do Suplício. O episódio acaba de ir ao ar, no mesmo mês em que se celebra o Dia Mundial do Refugiado: 20/06.

Caso você tenha ideias pré-concebidas sobre os tombos do empreendedorismo, peço que se desfaça delas por alguns minutos para absorver exatamente ao que ele se refere. Marcelo é acadêmico formado em Relações Internacionais, tem mestrado em Ciências Sociais e é doutor em Saúde Coletiva. O robusto currículo, que foi mais tarde adornado com especializações  na área de negócios, lhe garantiria ótimas oportunidades de trabalho, com polpudos salários tanto no mercado corporativo quanto no serviço público. Essa verdade, inclusive, foi repetida incontáveis vezes pela sua família, que não entendia como um homem com mais de 30 anos, esposa e dois filhos pequenos optava por ajudar desconhecidos sem ganhar qualquer pagamento em troca. Sem ter tempo para cuidar de sua própria carreira.

Da ponte ao propósito

Os relacionamentos que Marcelo teceu com refugiados africanos durante a graduação não acabaram com a entrega de seu trabalho acadêmico. Comovido, se voluntariou como ponte para o mercado de trabalho. Quando depois de cinco anos não conseguiu nenhum emprego fixo, decidiu tornar esse serviço de apoio um ofício formal. Junto de dois amigos, fundou o Adus em 2010. "Eu acredito que tinha um propósito por trás de eu não achar um emprego. Não consegui, até hoje, enxergar outra razão."

Três anos depois, o Adus já operava como organização humanitária, mas não tinha sede e tampouco pagava salários a Marcelo e seus dois sócios. Não possuía parcerias e seguia quase que tão dependente da vontade própria dos envolvidos como antes da fundação. Na visão dos sócios, era hora de encerrar as atividades. Marcelo insistiu por um prazo.

Sabendo que é melhor pedir desculpas do que pedir licença, sem comunicar os parceiros, na semana seguinte, entrou em contato com escolas de idiomas, apresentando a entidade e dizendo precisar de apoio - o que incluía professores e material didático - no ensino de português para refugiados. Uma instituição de Campinas retornou se propondo a ajudar e questionando quantos professores a instituição já tinha e onde ficava a sede. "Deu uma louca na hora. Eu disse que tinha cinco pessoas e que a sede ficava no centro da cidade. Ela disse que em 20 dias viria a São Paulo para conhecer a sede e começar a parceria. A gente não tinha nada disso. Desliguei o telefone e pensei: 'meu Deus, o que foi que eu fiz?'"

Marcelo tinha feito o Adus resistir.

Hoje a organização humanitária tem cerca de 30 colaboradores formais e aproximadamente a mesma quantidade de voluntários. Recebe doações da iniciativa privada e de pessoas físicas. Já integrou mais de 10 mil pessoas vindas dos mais variados cantos do mundo. Tem estrutura administrativa e financeira profissional, capaz de promover plano de carreira à equipe. Os desafios continuam, como jamais deixaria de ser. "Hoje eu tenho uma dedicação basicamente exclusiva ao Adus. É um trabalho que me dá muito prazer porque é lidar com gente. E apesar de essas pessoas estarem em situações bastante dramáticas, tristes, a gente consegue, de alguma forma, contribuir para que elas tenham uma vida mais digna."

(*) Adriele Marchesini é jornalista especializada em TI, negócios e Saúde com quase 20 anos de experiência. Depois de passar por redações de veículos como Estadão, Infomoney, ITWeb e CRN Brasil, cofundou as agências essense e Lightkeeper,  as quais já ajudaram mais de 80 empresas na construção de conteúdo narrativo multiplataforma para negócios. É cofundadora do Unbox Project e coâncora do podcast Vale do Suplício. Criado pelas jornalistas Adriele Marchesini e Silvia Noara Paladino, o podcast Vale do Suplício nasceu como uma contracultura aos empreendedores de palco - os típicos CEOs de MEI, escritores de textões no LinkedIn - para contar a história de empreendedores que falam pouco, mas fazem muito. Ouça no Spotify.

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