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Especialistas avaliam fim de serviço de psicologia em escolas

Depressão, bullying e conflitos nas escolas seriam minimizados com apoio psicológico

10 out 2019 - 11h14
(atualizado às 13h19)
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Situações de bullying, conflito entre alunos e com professores, questões que atrapalham o processo de aprendizagem e outros transtornos como depressão e ansiedade poderiam ser minimizados com o apoio psicológico permanente nas escolas brasileiras.

 Fachada da Escola Parque Gávea Educação Infantil Fundamental e Médio
Fachada da Escola Parque Gávea Educação Infantil Fundamental e Médio
Foto: ÉRICA MARTIN/AM PRESS & IMAGES / Estadão

Esta é a constatação de profissionais de educação e saúde mental ouvidos pela reportagem do E+.

Nesta quarta-feira, 9, o presidente da República, Jair Bolsonaro, vetou a exigência de serviço de psicologia em escolas públicas.

Segundo a justificativa do governo, a proposta cria despesas ao Poder Executivo sem indicar uma fonte de receita, o que fere a Lei de Responabilidade Fiscal. A determinação foi publicada no Diário Oficial da União.

Para a psicopedagoga Cristine Calazans, os profissionais da saúde mental são importantes como parceiros da educação. "Alguns exemplos de situações que podem ser manejadas são: risco de suicídio e bullying. Eles também acompanham os variados transtornos como TDAH, dislexia, depressão, abusos emocionais, morais e sexuais, gerenciamento da raiva, ansiedade, tristeza, casos de inclusão, apoiando o professor e a família", analisa.

Além dos problemas já mencionados, especialistas apontam que a parceria entre educação e profissionais de saúde mental poderia atuar na prevenção ao uso de drogas ou casos de violência já registrados com armas no ambiente escolar.

"Crianças que passem por qualquer problema psicológico devem receber a mesma atenção que aquelas que passem por problemas físicos, por doenças como o sarampo, por exemplo. Assim como uma criança doente não consegue ir para a escola estudar e aprender, uma criança com problemas psicológicos também não consegue", avalia a neuropsicóloga Gisele Calia.

Escola, família e emoções

A escola contempla uma diversidade de relações interpessoais que pode ser considerada desafiadora. De um lado, professores que precisam saber lidar com as demandas de aprendizagem e, por vezes, comportamentos inadequados de alunos. De outro, estudantes que necessitam de atenção dos profissionais de educação e, em alguns casos, não conseguem entender os sentimentos próprios de cada fase da vida.

Além disso, a família também cumpre um papel fundamental nessa dinâmica, seja por parte da expectativa dos pais em relação à instituição ou ao desempenho dos filhos.

"Nós estamos vivendo um período em que as crianças, os jovens e os educadores estão precisando demais de apoio psicológico. Os pais estão assumindo mais de uma função para conseguir sobreviver e com isso não têm tempo suficiente para acompanhar o desenvolvimento cognitivo, social e emocional de seus filhos como realmente gostariam. A instituição escolar precisa do apoio assim como os pais", enfatiza a neuroeducadora Cristine Calazans, que também é psicopedagoga.

A importância de falar sobre emoções desde a primeira infância

Com um olhar de quem trabalha na área da educação há 38 anos, Cibele Araújo observa que a educação precisa ser desenvolvida de forma multidisciplinar e integradora.

"A educação acontece de fato por meio das relações que estabelecemos com as pessoas, com os objetos do conhecimento e com o mundo. E esses vínculos são determinantes para a nossa realização. Está em jogo, nessa relação, toda a nossa capacidade de conviver. Portanto, a educação integral e integradora exige o desenvolvimento de habilidades socioemocionais para aprender e ensinar as coisas da vida", afirma a profissional que foi diretora, por 15 anos, da EMEI Nelson Mandela, na zona norte de São Paulo.

A Escola Municipal de Ensino Infantil Nelson Mandela atende crianças de três a cinco anos de idade, fase considerada pela Psicologia como determinante para a formação da personalidade do indivíduo.

Entre os assuntos abordados em seu projeto pedagógico está a discussão de temas como tolerância, discriminação, igualdade entre as pessoas e o manejo das emoções.

"Com a formação de profissionais na área da educação ainda distante dos ideais preconizados pela própria Base Comum Curricular Nacional e ainda pela complexidade de se formar uma pessoa em suas multifacetadas faces e fases, a presença de psicólogos e assistentes sociais é uma luta histórica da própria classe docente que se vê cobrada por uma atuação que excede as suas limitações humanas de formação", avalia Cibele Araújo.

Na opinião da neuroeducadora Cristine Calazans, a escola precisa de uma rede de apoio multidisciplinar. "Cada profissional com a sua especificidade, percebendo e respeitando as diferenças e cuidando juntos do aprendente, da família, dos educadores e da comunidade. Este apoio não é somente para a escola, mas abrangente socialmente", conclui.

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