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Alunos da Fatec fabricam respiradores, máscaras e álcool gel para ajudar na luta contra a covid-19

Estudantes e professores de nove cidades de SP trabalham em parceria com poder judiciário para suprir a falta de insumos hospitalares

27 abr 2020 - 18h13
(atualizado em 28/4/2020 às 14h22)
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Centenas de alunos da Faculdade de Tecnologia (Fatec) de São Paulo estão produzindo itens hospitalares para ajudar na luta contra o coronavírus. Ao todo, participam da ação sete unidades do interior, duas da capital e uma da Praia Grande, na Baixada Santista.

Com conhecimentos variados da área de exatas, os universitários se uniram numa rede de solidariedade e já entregaram mais de duas toneladas de álcool em gel e seis mil máscaras para secretarias regionais da saúde. Eles também estão consertando respiradores e aguardam a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para doar aparelhos que eles próprios criaram, a fim de aumentar o número de leitos nas UTIs.

"É importante que esses materiais sejam entregues o mais rápido possível, pois estão em falta no mercado e nos hospitais. Por isso, a nossa ideia é ampliar o projeto para várias regiões, já que temos campus espalhados por diversas cidades", diz Leonardo Argollo, presidente do Diretório Central de Estudantes (DCE) da faculdade.

O objetivo encontra respaldo no retrato geográfico da covid-19. De acordo com um estudo da Unesp, feito por pesquisadores do Centro estadual de Contingenciamento do Coronavírus, nove dos 10 polos envolvidos na iniciativa estão nas rotas de dispersão da doença no Estado. São eles: Americana, Sorocaba, Tatuí, Bauru, Taubaté, Guaratinguetá, Zona Leste (capital), São Paulo (capital) e Praia Grande (Baixada Santista). Em todo o Estado, há 63 campus em 67 municípios.

Dentre as Fatecs voluntárias, somente a de Capão Bonito não está nas principais rotas de dispersão do vírus. Isso não quer dizer, porém, que a doença não apresente risco ao município, já com um caso de morte, uma cura e cinco casos suspeitos.

Profissionais da saúde agradecem

A auxiliar de enfermagem Gisele Freitas e seus colegas de trabalho, do Pronto Socorro Municipal de Pindamonhangaba, cidade vizinha de Taubaté, são alguns dos que se beneficiaram com as doações. A unidade não tinha máscara Face Shield e a equipe da UTI se sentia vulnerável apenas com máscaras cirúrgicas.

"Os escudos faciais protegem completamente o rosto, evitando que gotículas de saliva e fluidos nasais atinjam olhos, nariz e boca. Diminui ainda mais as chances de contágio", diz ela. "Mas não tínhamos esse item. Em hospital público sempre há escassez de insumos."

A falta de estrutura da rede pública preocupa: segundo dados da Prefeitura de Pindamonhangaba, a cidade registrou até o último domingo, 26, 15 casos de covid-19, incluindo dois óbitos. "Nós já trabalhamos em um ambiente bem estressante e, com uma doença tão perigosa, a insegurança aumenta. A gente não sabe o que vem por aí", afirma Gisele.

O técnico de enfermagem Gabriel Rocha, do Hospital Regional do Vale do Paraíba, conta que a unidade onde trabalha não precisou receber doações, mas soube que alguns hospitais da região estavam sofrendo com a falta de insumos. Foi aí que ele resolver acionar os voluntários da Fatec. "Doamos 50 protetores faciais para a Secretaria de Saúde de Tremembé e outros 50 para a de Taubaté", diz.

Até o último domingo, 26, havia 20.175 casos de coronavírus em São Paulo, incluindo 1,7 mil mortes, com vítimas em 128 cidades. O Estado é o epicentro da pandemia no Brasil e segue em primeiro lugar no número de registros, seguido pelo Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Amazonas.

No Brasil, o número total de casos confirmados subiu de 61.888 para 66.501, sendo 4.613 novos casos registrados de ontem para hoje. Em todo o planeta, já são mais de 3 milhões de infectados, 879 mil recuperados e 208 mil óbitos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Poder judiciário e universidade de mãos dadas

Segundo Argollo, o dinheiro e a as matérias-primas para as atividades vêm da iniciativa privada e do poder judiciário. A Fatec de Taubaté, por exemplo, recebeu uma verba trabalhista de R$ 80,9 mil da Procuradoria do Trabalho de São José dos Campos, sob a mediação do Ministério Público de São Paulo (MPSP). Lá estão sendo produzidos respiradores e máscaras do tipo Face Shield, também conhecidas como escudo.

Argollo conta que o órgão avalia liberar mais verba para a causa. O dinheiro é fruto dos Termos de Ajustamento de Conduta (TACs), assinado por empresas e instituições que pagaram multas por violarem direitos coletivos com ações ilegais, como despejar resíduos químicos na natureza ou desmatar áreas de preservação ambiental.

Os universitários e professores também estão recebendo ajuda do Centro Paula Souza, entidade que administra as Fatecs e Etecs, para mapear os materiais que cada unidade precisa para a fabricação dos itens. Além disso, as Fatecs participantes criaram vaquinhas para colaborar: só no campus Zona Leste, a arrecadação já chegou em R$ 1,4 mil.

"Parcerias entre órgãos públicos e as unidades de ensino para o combate do coronavírus podem amenizar o sofrimento de toda uma nação", diz o diretor da unidade Taubaté e doutor em Física pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Claudemir Stellati. "A faculdade pública tem o papel de devolver ao povo tudo aquilo que ele investe em nós", destaca Argollo.

* Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

Estadão
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