AirFryer: tire suas dúvidas
Embora prática e saudável, a AirFryer pode formar substâncias químicas potencialmente tóxicas quando usada em altas temperaturas; entenda como reduzir danos
Confesso que, por muito tempo, eu também tive receio de usar a AirFryer. Apesar de ouvir amigos e familiares falando das vantagens, como a praticidade, a rapidez e a promessa de preparar alimentos crocantes com quase nada de óleo, sempre me perguntei se ela era realmente segura. Afinal, como um equipamento que aquece tanto e tão rápido poderia ser completamente inofensivo?
Com o passar do tempo, percebi que essa dúvida é compartilhada por muita gente. A AirFryer se tornou um verdadeiro fenômeno nas cozinhas modernas, impulsionada por influenciadores, programas de culinária e grandes marcas. O aparelho acabou ganhando o status de símbolo de conveniência e estilo de vida saudável. Ainda assim, não são poucos os que olham para ela com desconfiança, temendo possíveis efeitos nocivos relacionados à alta temperatura ou à liberação de substâncias químicas durante o preparo dos alimentos.
O funcionamento baseia-se na circulação de ar quente em alta velocidade, geralmente entre 180°C e 200°C, promovendo a cocção e o efeito de fritura por meio do calor seco. Essa tecnologia reduz consideravelmente o uso de óleo, o que, em tese, torna o processo mais saudável do que a fritura tradicional por imersão. No entanto, o uso de temperaturas elevadas pode desencadear reações químicas indesejáveis, responsáveis pela formação de compostos como a acrilamida um dos principais pontos de preocupação em relação à segurança alimentar.
A acrilamida é uma substância química formada naturalmente em alimentos ricos em carboidratos quando expostos a altas temperaturas, geralmente acima de 120°C. O processo ocorre principalmente em alimentos que contêm açúcares redutores e o aminoácido asparagina, por meio da chamada reação de Maillard a mesma responsável pela coloração e sabor tostado. Segundo a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), a acrilamida é classificada como "provável carcinógeno humano" (grupo 2A), com base em estudos laboratoriais realizados em animais.
Pesquisas recentes, como o estudo publicado no periódico Food Chemistry (2023), indicam que alimentos preparados em AirFryer podem apresentar níveis semelhantes ou até superiores de acrilamida em comparação aos métodos convencionais, dependendo da temperatura e do tempo de exposição. Um artigo disponível na base PubMed Central (PMCID: PMC10808661) mostrou que batatas preparadas em AirFryer, quando submetidas a calor intenso por longos períodos, podem gerar maior concentração dessa substância em relação à fritura por imersão.
Os alimentos mais suscetíveis à formação de acrilamida são aqueles ricos em amido, como batatas, mandioca, batata-doce, pães, torradas, biscoitos e alimentos empanados. Já alimentos de origem animal, como carnes e peixes, apresentam risco significativamente menor, pois não contêm grandes quantidades dos precursores químicos responsáveis pela formação dessa substância.
Além da acrilamida, outros compostos potencialmente prejudiciais à saúde também podem ser formados durante o preparo em altas temperaturas. Entre eles, destacam-se os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (PAHs), associados à combustão incompleta de gorduras, e os Produtos de Oxidação Lipídica (COPs), resultantes da degradação de óleos e gorduras submetidos a calor excessivo. Estudos publicados no Journal of Food Science e no Food and Chemical Toxicology apontam que o aquecimento repetido de alimentos gordurosos pode gerar substâncias pró-inflamatórias e oxidantes, relacionadas a doenças cardiovasculares e câncer.
Outro ponto de atenção envolve o material das próprias fritadeiras. Alguns modelos utilizam revestimentos antiaderentes contendo substâncias da classe dos PFAS (como o politetrafluoretileno, conhecido como Teflon). Quando aquecidos acima do limite recomendado, esses materiais podem liberar compostos tóxicos voláteis. Assim, é fundamental garantir que o equipamento esteja em boas condições de uso e evitar o superaquecimento prolongado.
Para reduzir os riscos, especialistas recomendam evitar temperaturas extremas, preferir alimentos dourados em vez de tostados ou queimados e realizar o pré-enxágue de alimentos ricos em amido, como batatas, antes do preparo. Essa prática ajuda a remover açúcares superficiais e reduz significativamente a formação de acrilamida. Além disso, manter o aparelho limpo e sem danos no revestimento é essencial para evitar contaminações químicas.
A popularização da AirFryer não é apenas um modismo culinário, mas uma busca por praticidade e bem-estar. Em meio à correria do dia a dia, ela oferece uma alternativa moderna para quem deseja comer melhor sem abrir mão do sabor. No fim das contas, o segredo não está no aparelho, mas em quem o utiliza porque cozinhar com saúde continua sendo, antes de tudo, um ato de escolha.