'Sentimento de impotência', diz moradora após população ter que deixar às pressas área que pode afundar em Maceió
Ordem judicial determinou que moradores deixassem local por risco iminente de colapso de uma mina desativada da Braskem
A população que vive no bairro Bom Parto, em Maceió, foi obrigada a deixar suas casas às pressas devido ao risco iminente de colapso da mina 18 da Braskem, no Mutange, bairro vizinho ao local que essas pessoas moram. A saída dos moradores dessa região ocorreu após decisão da Justiça Federal, que também autorizou que o Estado use a força policial caso ocorra resistência em deixar o local.
"De imediato a gente fica assim, não sabe o que vai fazer. Pra gente que é trabalhador é só tirar o necessário. Vamos tirar uma geladeira, um fogão e é isso? E o que eu construí fica pra trás? Assim, a gente queria que nos preparassem", lamentou o barbeiro Alex Leite em entrevista à TV Gazeta, afiliada à Rede Globo na região.
A dona de casa Adeilza Maria Ferreira da Silva também lamentou a situação e afirmou que não sabe o que vai acontecer após deixar sua casa. "O sentimento que a gente tem é de impotência. Porque assim, a gente tá em alerta, e alerta este que se acontecer o pior a gente sai às pressas e acabou", afirmou.
A marisqueira Marivânia dos Santos Venâncio reforçou que os moradores estão sendo retirados de suas residências sem nenhum preparo prévio.
"Eles falaram que a gente tinha de sair de qualquer jeito. E aí chegaram lá com dois ônibus, situação foi essa que generalizou lá uma confusão porque muitos não aceitaram, porque a gente já vive indignada há muitos anos, muitos meses e anos, e aí eles chegaram do nada, pra retirar todo mundo", disse ela ao telejornal da Globo.
A Defesa Civil de Maceió alerta para o iminente colapso da mina 18 da Braskem. Em nota, o órgão informou que a região próxima que corre o risco de colapso já está desabitada, incluindo o entorno.
“Estudos mostram um aumento significativo na movimentação do solo na Mina 18, indicando a possibilidade de rompimento e surgimento de um sinkhole. Por precaução, a recomendação é clara: a população deve evitar transitar na área desocupada até uma nova atualização da Defesa Civil, enquanto medidas de controle e monitoramento são aplicadas para reduzir o perigo", diz o comunicado.
A equipe de análise da Defesa Civil ressalta também que as informações são baseadas em dados contínuos, incluindo análises sísmicas. Na quinta-feira, 30, foi registrado um novo movimento de terra, gerando preocupação.
A Braskem realizava a extração do sal-gema em 35 minas, mas após um tremor de terra em 2018, que teve como epicentro o bairro do Pinheiro, foi iniciado um processo de preenchimento e estabilização. No entanto, o trabalho não está completo até hoje, e tem previsão para terminar em 2025, segundo revelado em reportagem do Estadão.
O que afirma a Braskem
Em nota, a Braskem afirma que continua mobilizada e monitorando a situação da mina 18, localizada no bairro do Mutange, tomando todas as medidas cabíveis para minimização do impacto de possíveis ocorrências.
Segundo a empresa, referido monitoramento, com equipamentos de última geração, foi implementando para garantir a detecção de qualquer movimentação no solo da região e viabilizar o acompanhamento pelas autoridades e a adoção de medidas preventivas, como as que estão sendo adotadas no presente momento.
"Os dados atuais de monitoramento demonstram que a acomodação do solo segue concentrada na área dessa mina e que essa acomodação poderá se desenvolver de duas maneiras: um cenário é o de acomodação gradual até a estabilização; o segundo é o de uma possível acomodação abrupta.Todos os dados colhidos estão sendo compartilhados em tempo real com as autoridades, com quem a Braskem vem trabalhando em estreita colaboração", afirma.
A empresa acrescenta que área de serviço da Braskem nas proximidades da mina 18 está isolada desde a tarde de terça-feira. "Ademais, a região onde está localizada referida mina (área de resguardo) já está totalmente desocupada desde 2020.Desde a noite da quarta-feira, a empresa também está apoiando a realocação emergencial dos moradores de 23 imóveis que ainda resistiam em permanecer na área de desocupação determinada pela Defesa Civil em 2020", diz.
Essa realocação emergencial foi determinada judicialmente na tarde da quarta-feira e está sendo coordenada pela Defesa Civil. Até o momento, 22 desses imóveis já foram desocupados e os trabalhos prosseguem.A realocação preventiva de toda a área de risco foi iniciada em novembro de 2019 e 99,3% dos imóveis já estão desocupados (dados de 31 de outubro de 2023).
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