VÍDEO: Lagosta-boxeadora, que possui 'soco' de 80 km/h e força de um tiro, é vista em SP
Turista encontrou animal em Peruíbe e sentiu a força do crustáceo enquanto o pegava para devolver à água
Uma lagosta-boxeadora, nome popular do camarão-louva-a-deus-palhaço (Odontodactylus sp), foi localizada por um turista em Peruíbe, no litoral de São Paulo. Apesar de ser relativamente pequeno e aparentemente inofensivo, este animal é conhecido por ter um "soco" potente, que pode variar de 80 km/h a 108km/h - a depender da espécie. Especialistas chegam a comparar este golpe até com um tiro de pistola calibre .22.
O editor de vídeos jovem Rafael Marchezetti, de 29 anos, passeava pela praia Guaraú, em maio deste ano, quando viu a lagosta-boxeadora na areia sendo atacada por algumas gaivotas. Ele pegou o animal na mão para colocá-lo de volta ao mar, mas o crustáceo deu um "forte tranco" e acabou caindo ao chão (veja o vídeo acima).
"Da forma como eu peguei, ela não conseguiu me atingir. Foi como se eu segurasse no braço de uma pessoa, e ela puxasse com muita força. Eu fiquei muito impressionado", disse o jovem, morador de São Paulo.
Marchezetti gravou toda a cena, postou nas redes sociais no começo de julho e o vídeo acabou viralizando. Não é o primeiro conteúdo que ele faz e que fura a sua bolha digital. Ele contou ao Estadão que já fez filmes de morcego e bicho-preguiça, também vistos em Peruíbe, e que também acabaram fazendo sucesso.
"Eu tenho hiperfoco em animais desde criança, e nessa praia, onde eu venho sempre, eu já encontrei outros bichos exóticos", afirma. "Minha intenção não é fazer vídeos para viralizar, mas para conscientizar as pessoas que não se deve levar os animais para casa, muito menos matar".
Ele descobriu que se tratava de uma lagosta-boxeadora após consultar uma amiga que é bióloga. "Eu estava na dúvida se não era também um camarão pistola", diz. Mesmo sabendo do risco de se ferir, ele manejou o animal (pegou no centro) de forma a não se lesionar. "Apesar daquele tranco, não tive nenhum machucado".
Força do soco é comparada com a de um tiro
O biólogo Juliano José da Silva, doutorando do Programa de Pós-graduação em Ecologia, Evolução e Biodiversidade da Unesp, a Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", explica que a lagosta-boxeadora, também conhecida como siriboia ou tamburutaca, é um crustáceo marinho, da ordem Stomatopoda, que costuma viver em pedras (que as protegem) e em tocas na areia abaixo do nível do mar, que chegam a 40 metros de profundidade - em alguns casos, mais raros, podem viver até 200 metros ou mais de profundidade.
Elas são caracterizadas, justamente, por esse forte soco, útil para quebrar as conchas dos moluscos que as servem de alimento. Da Silva explica que essa força e rapidez do golpe vêm do mero, uma das quatro articulações da garra raptorial da lagosta. "O mero é a articulação inicial dessa garra, e essa região tem a capacidade de armazenar energia para desferir o soco", diz o especialista
Ele informa que esse movimento de golpe chega a 80 km/h, mas que um estudo realizado pelo também biólogo Antonio Lucas Sforcin Amaral, que pesquisou sobre a morfologia dessas garras e sua relação com acidentes em humanos, em algumas espécies, a velocidade pode ser ainda maior: cerca de 108 km/h.
"O segundo grupo, composto por indivíduos da superfamília Gonodactyloidea, é representado por espécies cujo dáctilo possui uma grande saliência calcificada na base onde se articula com o própodo, e choca-se contra o alvo mais rapidamente, em uma velocidade de até 30,6 m/s (cerca de 108 km/h), com um impacto de 1500 N (cerca de 152 kg), o equivalente à força de um projétil disparado de uma pistola calibre .22?, afirma texto da pesquisa.
Há também outras lagostas semelhantes que, no lugar de uma garra potente e esmagadora usada para matar e comer as presas, possuem uma pata perfuradora. O membro possui espinhos capazes de espetar e furar peixes, e velocidade dessas garras chega a 21 km/h.
Segundo o biólogo da Silva, apesar de muitos desses animais viverem até 200 metros de profundidade (a maioria fica na faixa dos 40 metros), não é raro encontrá-los na faixa de areia das praias. "Isso acontece principalmente em períodos de maré baixa, nos períodos de vazante".
Ele afirma que é perigoso manejar essas lagostas com a mão e que pescadores tendem a sofrer com alguns ferimentos causados pelo animal. "No caso de uma lesão", diz o biólogo, "é necessário lavar o local machucado com água e sabão. Se tiver um corte, é importante ir ao médico", acrescenta.