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Em cidades, macacos mudam comunicação e dieta usando cheiros e restos de churrasco, aponta estudo

Pequenos primatas tentam usar sons urbanos para se comunicar e adicionam carnes ao hábito vegetariano

13 fev 2024 - 05h00
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Resumo
Estudos revelam que macacos que vivem em ambientes urbanos adaptaram a sua forma de comunicação e alimentação, incluindo elementos que não faziam parte dos hábitos normais deles.
Sauins-de-coleira
Sauins-de-coleira
Foto: Reprodução/Getty Images

Estudo divulgado pela revista Pesquisa, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), revelou que espécies de macacos que vivem em ambientes urbanos adaptaram a sua forma de comunicação e até sua alimentação, adicionando elementos que não faziam parte de seus hábitos comuns.

Os sauins-de-coleira, que existem apenas na região de Manaus, no Amazonas, possuem uma característica bastante única de comunicação. Eles disparam gritos finos para afirmar sua presença. A bióloga Tainara Sobroza, professora substituta na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), estudou grupos dessa espécie, que viviam em trechos de mata urbana. 

Ela queria saber se eles deixariam os gritos em prol de uma comunicação que competisse menos com os sons da cidade, porém, descobriu que eles não apenas mantiveram as comunicações sonoras, como também adicionaram química. 

“Eles têm glândulas nas regiões genital, perianal e do esterno, e se esfregam nas árvores para deixar um sinal”, explica ela, quando publicou os resultados em setembro do ano passado na revista Ethology Ecology & Evolution

Durante seu estudo, Tainara usou binóculos para observar como os macacos se comportam. Eles vivem no alto das árvores, possuem o porte de esquilos, com 600 gramas, e andam em grupos matriarcais de até 13 indivíduos. Só uma fêmea se reproduz, e todos do grupo ajudam a cuidar dos filhotes, em geral, um par de gêmeos por vez. 

Também viu quando um deles esfregava a parte de trás do corpo em algum galho e gritava. De acordo com ela, quanto mais barulhento o local, mais frequente era o comportamento. 

Método de estudo

Ao todo, foram estudados nove grupos de sauins ao longo de um ano. Cada grupo era acompanhado por dez dias consecutivos, das 6h às 17h. 

Para conseguir encontrá-los, antes era necessário passar por um processo de habituação até que fosse possível capturá-los em caixas gradeadas, que não causam danos aos animais, instaladas nas árvores. Todo o processo levava cerca de quatro meses. 

À revista, a pesquisadora informou que a captura era necessária para instalar coleiras com transmissor de sinal de rádio. Sem elas, era improvável encontrar o mesmo grupo no dia seguinte. De acordo com a bióloga, esse tipo de estudo não tinha sido feito antes, com macacos livres na natureza, devido à dificuldade de observação. 

Adaptação às cidades

Outro estudo revelou mais um aspecto sobre a adaptação dos animais às cidades. De acordo com um artigo da estudante de mestrado da PUC-RS Isadora Alves de Lima e do primatólogo Júlio César Bicca-Marques, divulgado na revista Primates em outubro do ano passado, a interação dos seres humanos com algumas espécies de macacos pode transformar essas espécies em “pragas”, além de causar sérios prejuízos à saúde deles. 

No estudo, Isadora descreve exemplares de bugios recebendo restos de churrascos de funcionários e clientes de restaurantes, na cidade de São Francisco de Assis, no Rio Grande do Sul. 

Quando não são alimentados pelos habitantes, os animais comem restos que conseguem encontrar dentro de lixeiras ou em sacolas rasgadas por cães. O que chocou os pesquisadores porque a alimentação dos primatas é restrita a folhas e frutos. 

Ambos os pesquisadores pontuaram no artigo que as consequências negativas do consumo de carne e de alimentos processados para esses animais devem ser alvo de estudos e de atenção especial. 

Fonte: Redação Terra
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